Tirem os seus filhos da rua antes que seja tarde

Manifesto

Escrevo a você que é pai ou mãe de um ou de mais de um desses jovens que estão indo a essas manifestações que estão ocorrendo pelo país nas últimas semanas, mas que não tem maiores conhecimentos sobre o que de fato ocorre nessas passeatas além daquilo que vê nos meios de comunicação ou do que o seu filho ou a sua filha lhe conta.

Quem escreve é um homem de 54 anos, pai de jovens de 30, de 27, de 25 e de 14 anos, avô de uma adolescente de 12 anos e de uma bebê de um mês de vida, e que entende ser positiva a mobilização cívica sobretudo da juventude por causas justas e claras, sejam referentes à política ou a quaisquer outras questões importantes para a coletividade.

Dirijo-me a quem acha positivo que seu filho ou filha com idade para participar desses atos esteja indo a eles apesar da violência que tem visto na televisão sendo praticada por “grupos pequenos” durante o que lhe dizem ser “manifestações pacíficas”.

Possivelmente você já se preocupou com a integridade física de seu filho ou filha durante esses atos públicos, mas entende que, seja como for, segurança total nunca haverá para jovens que inevitavelmente saem pelas ruas de nossas perigosas cidades e que, além de tudo, julga – em grande medida, de forma acertada – que é preciso que a cidadania seja exercida e que os jovens careciam mesmo de tal engajamento.

Sim, é positivo que a juventude se mobilize. Sempre quis que os meus filhos e até a minha neta maior participassem de algum movimento cívico no qual as pessoas saíssem às ruas por uma causa que é de todos. E sempre me preocupei com uma suposta apatia da juventude que, agora, estamos vendo que não era bem assim.

Só há um problema no que deveria ser positivo: esse movimento não tem apenas o seu inegável lado cívico, tem seu lado violento, lado que lhe dizem estar restrito a “grupo pequeno” mas que não é tão pequeno assim.

Além do que, mesmo entre os jovens que não estão cometendo atos literalmente criminosos de depredação e/ou saques, há muitos com graves deformações morais. E quando se fala em deformações morais não se está falando em problemas de comportamento que difeririam dos de jovens que estão praticando aqueles atos criminosos.

Entre esses jovens que não estão praticando crimes existem alguns cuja conduta está longe de ser puramente cívica, pois conspurcada por crenças fanáticas ou até por abuso de drogas e álcool, podendo seu filho estar participando de um movimento que requer toda atenção necessária sem estar no controle completo – e, muitas vezes, até mínimo – de suas faculdades mentais.

Escrevo como pai e avô. Há muita gente boa nesses atos? Há, sim. Já estive em dois deles. Um no último dia 18 de junho e outro no dia 20. Por conta disso, garanto que também há muita gente ruim neles. Gente que não está lá para ajudar a melhorar o país coisa nenhuma, mas apenas para se “divertir”. E é aí que mora o perigo.

O conceito de diversão de alguns desses jovens – como sempre ocorreu com a juventude – que estão indo a essas manifestações está longe de ser sadio. Por conta disso, alguns vão a essa mega “balada” de dimensão nacional cheios de confiança de que estão no controle de alguma coisa, sobretudo quando vão em grupos.

Além dos jovens que se tornam valentões quando estão em grupos, há um outro tipo bem perigoso que frequenta esse tipo de “evento”, o fanático ideológico que acredita que está agindo bem, mas que está equivocado na forma de protestar.

Esse é o pior, muitas vezes quando o vigor da juventude e a sensação de pertencer a uma “maioria” o levam a perder a noção de seus próprios limites, sobretudo do limite de seus direitos, entre os quais não está o de agredir – mesmo que verbalmente – qualquer um que lhe dê na veneta.

Qualquer tipo de agressão, como se sabe, frequentemente acaba gerando reação em sentido oposto e de intensidade por vezes proporcional, mas muitas vezes desproporcionalmente maior.

E o que é pior. Essa perda de noção de limites está ocorrendo bem no meio de ruas em que o império da lei decresceu por conta da ausência ou dos excessos das autoridades, sobretudo de uma polícia que não está conseguindo impor a ordem sem apelar a uma violência tão extremada que acaba emulando a criminalidade daqueles que deveria controlar.

Tornou-se, portanto, perigosíssimo participar dessas manifestações. Há, inclusive, numerosos grupos criminosos se aproveitando de que a massa humana ocupa a polícia muito além do normal para praticarem crimes comuns como furto, roubo, agressões e até tráfico de drogas.

Nesse quesito, nas duas vezes em que fui a essas manifestações pude presenciar jovens completamente dopados por uma mistura perigosa de álcool com outras substâncias.

Vi jovens com garrafas de cerveja ou outras bebidas alcoólicas em uma das mãos e cocaína ou maconha na outra. Sobretudo na noite do dia 20, quando ocorreram confrontos violentos na avenida Paulista, confrontos que foram amplamente minimizados pela grande imprensa.

Desde a primeira manifestação percebi focos de brigas que surgem por toda parte em meio a elas, sobretudo por diferenças políticas, mas, também, por estado psicológico alterado de muitos manifestantes, seja por drogas artificiais ou ideológicas – sendo estas, muitas vezes, as piores, pois drogas artificiais perdem efeito enquanto que as drogas ideológicas não se dissipam tão facilmente.

Nos últimos dias, começaram a ficar mais claros os envolvimentos de grupos mal-intencionados nessas manifestações. As autoridades, por isso, preveem acirramento de confrontos entre as “forças da ordem” e os que chegam a anunciar nas redes sociais que pretendem desafiá-las.

Por tudo que expus, não é hora de ir à rua se manifestar. Não existe uma pauta clara de reivindicações. Até houve a questão do preço das passagens, mas houve rendição das autoridades, com redução de preço que as manifestações pediam, e não foi suficiente. Surgiram, então, vários outros motes. Muitos deles, obscuros.

Quando pedem “fim da corrupção” é como se estivessem exigindo que fosse criada uma lei que a proibisse. Ocorre que essas leis já existem. A corrupção, portanto, não deixará de existir por decreto, mas por ações de fiscalização e controle.

Nesse aspecto, não adianta arguir só “o governo” ou “os políticos”. O Poder Judiciário é tão responsável pela impunidade quanto os Poderes Legislativo ou Executivo. Mas os atos não têm foco, o que permite a muitos dos responsáveis por brechas legais por onde corruptos e corruptores escapam, serem poupados de questionamentos.

Manifestações corretas, pois, precisam ter foco e não podem transigir ou coexistir com a violência ou com outros tipos de condutas criminosas.

Não cabe só à lei coibir que manifestantes atuem de forma incompatível com o mote das manifestações, que, acima de tudo, seria o interesse da coletividade. O cidadão também é responsável.

Não está havendo essa racionalidade nessas manifestações. Enfim, elas estão se tornando progressivamente violentas. Da forma como estão sendo conduzidas, não vão mudar nada no país.

Não basta que alguns se vistam de branco e entoem slogans cívicos. É preciso que os manifestantes se preocupem com a violência que coincide com suas manifestações. Sem isso, são corresponsáveis do que houver.

Enquanto esse entendimento não ocorre, a chance de seu filho se envolver em embates sem sentido e limites ou até com gente que não presta, sobretudo se for dos mais jovens, é muito grande.

Se este texto o convenceu de que não é hora de participar desse processo pseudo cívico e se o seu filho ou filha está participando, talvez seja hora de você conversar com ele e de lhe dizer estas ponderações com sua autoridade de pai ou mãe, que, por mais que atualmente não seja muito grande, sempre existirá acima da argumentação de outras pessoas.

Quero lhe garantir, ao fim desta exortação, que não tenho qualquer interesse pessoal em que essas manifestações parem. Escrevo, só, como pai e avô. O que peço é um “freio de arrumação” para que as manifestações sejam repensadas, para que uma forma mais sadia de manifestação seja encontrada pelos que as promovem.

Concluo exortando a você que tem filho ou filha em idade de participar dessas manifestações que, se eles ainda não foram a elas tente impedir que vão agora e que, se já foram, dê um jeito de retirá-los delas antes que seja tarde, pois adiar uma participação cívica tem volta, mas tragédias que possam ocorrer, não terão.