Apostas contra a reeleição de Dilma pagarão cada vez menos
Após amainarem os ânimos exacerbados artificialmente por aquela que talvez tenha sido a maior e mais bem sucedida armação política para desmoralizar o governo federal desde 2003 – quando Lula chegou ao poder –, foi se tornando possível prever que Dilma Rousseff se recuperaria da imensa queda de popularidade que sofreu.
Antes de entrar na questão da recuperação da popularidade de Dilma anunciada pela pesquisa Datafolha recém-divulgada, vale explicar que, devido à mediocridade dos adversários à direita, quem logrou o feito de manchar a imagem da presidente da República não foi a coalizão destro-tucano-midiática, mas partidos de esquerda que se opõe ao projeto político do PT.
Uma armação engendrada por PSOL, PSTU e algumas lideranças, digamos, “vampirescas” da direita demo-tucana conseguiu convencer boa parte da sociedade de que o país estava afundando.
Nesse aspecto da visão e do discurso deturpados sobre a situação do Brasil, há pouca diferença hoje entre a oposição à esquerda e à direita – ambas tentam convencer o brasileiro de que o país vai muito mal, obrigado.
Mas como convencer o povo de que o país vai mal com a renda média do trabalhador e a das famílias crescendo – em maior ou menor ritmo –, com o desemprego despencando mês a mês, com as reservas cambiais na estratosfera, com a inflação sob controle, com o PIB de 2013 tendendo a superar o de 2012 e com os investimentos públicos e privados em alta?
Apesar de não ter votos, a oposição de esquerda tem uma militância muito mais aguerrida do que a da direita de classe média alta que não consegue pôr o bloco na rua por ser integrada por muito pouca gente. Assim, a oposição canhota conseguiu inventar um movimento que conflagrou as cidades por uma causa fictícia e que, em verdade, não passou de transferência para o Erário do aumento das tarifas das passagens do transporte público.
A burrice conservadora, então, fez o governo de São Paulo atiçar a sua truculenta e despreparada polícia militar contra a classe média e, como resultado, o país inteiro ficou indignado e aderiu a um movimento que teria morrido rapidamente se tivesse sido tratado com mais inteligência.
A mídia conservadora, que a princípio ficara assustada, percebeu que cenas de guerra nas ruas corroborariam suas teses alarmistas sobre a economia e passou a apoiar protestos que invariavelmente terminavam em quebra-quebra, em ferimentos graves e até em mortes, sem falar dos prejuízos aos patrimônios público e privado.
Paralelamente, o noticiário econômico, que vinha prevendo desgraças desde que afiançou que sobreviria um apagão de energia elétrica já nas primeiras semanas de 2013, viu nos protestos a chance de corroborar o que dizia, pois se as pessoas estavam indo às ruas protestar com tanta virulência isso só poderia se explicar pela piora da qualidade de vida.
Como consequência, a popularidade de Dilma sofreu a maior queda de todas. Maior até do que a do governador que cometeu o erro que fez as manifestações ganharem a dimensão que ganharam. Geraldo Alckmin, apesar do que fez a sua PM, teve queda de aprovação de apenas 16 pontos enquanto que a presidente caiu 30 pontos.
Contudo, a recuperação da popularidade de Dilma evidenciada pela pesquisa Datafolha deste sábado já podia ser prevista por quem lê este Blog. Vários posts permitiram que se entendesse que não havia uma causa real para a presidente, seu partido e seu governo perderem tanta aprovação.
Em 15 de julho último, o post PT revive hoje 2005, quando sua primeira “morte” foi decretada já mostrava que havia uma precipitação na comemoração destro-canhota-tucano-psolista-midiática sobre a espantosa queda da aprovação de Dilma. Abaixo, um trecho daquele post que mostra que as notícias sobre a “morte” política da presidente foram exageradas.
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“(…) A semelhança entre o passado e o presente se dá até na época de 2005 em que eclodiu o escândalo do mensalão. A entrevista demolidora de Roberto Jefferson à jornalista da Folha de São Paulo Renata Lo Prete denunciando o escândalo foi publicada em 6 de junho e foi nesse mesmo dia e mês que eclodiu a primeira grande manifestação do Movimento Passe Livre [em São Paulo], que marcaria a derrocada de Dilma nas pesquisas, assim como a denúncia de Jefferson marcou a perda de popularidade temporária de Lula no segundo semestre daquele ano.
Até o fim de 2005, Lula era dado como um zumbi político. A cada pesquisa de opinião sua popularidade caía mais um pouco, chegando a dezembro daquele ano – a menos de um ano da eleição presidencial de 2006 -, segundo o Datafolha, com apenas 31% de bom é ótimo, coincidentemente o mesmo índice que Dilma tem hoje.
A precipitação dos que, nesta mesma época do ano, há oito anos, comemoraram antecipadamente a destruição política de Lula e do PT, pouco mais de um ano depois resultou na capa da Folha que você vê no topo deste texto, publicada naquela segunda-feira, 30 de outubro de 2006, quando ele obteve 60% dos votos válidos (…)”
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Em 16 de julho, o post O incrível “pânico espontâneo” de beneficiários do Bolsa Família compunha o mosaico de informações que aqui seriam divulgadas e que permitiram prever, lá atrás, que a popularidade de Dilma iria se recuperar.
Apesar de o post versar sobre a conclusão maluca da Polícia Federal de que o boato sobre o fim do Bolsa Família ocorreu por geração espontânea, o texto já permitia prever que os beneficiários do programa do governo federal que ficaram zangados com Dilma por acreditarem que ela exterminaria seu benefício logo se dariam conta de que tinham sido enganados.
Em 17 de julho, porém, surge neste Blog a primeira grande indicação de que a queda de popularidade de Dilma não iria durar. O post Pesquisa mostra o pessimismo como causa da queda de Dilma versou sobre dado de outra pesquisa que apontava forte queda da aprovação dela, a pesquisa do instituto MDA feita para a Confederação Nacional dos Transportes.
Abaixo, trecho do post que explica a recuperação de Dilma que o Datafolha anunciou neste sábado.
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“(…) A aprovação do desempenho pessoal de Dilma caiu 24,4 pontos, indo de 73,7% na pesquisa anterior para 49,3% nesta, e a desaprovação ao seu governo subiu de 20,4% para 47,3%, uma alta de 26,9 pontos, ou 131,8% de aumento na desaprovação à presidente da República.
Já a aprovação ao governo caiu de 54,2% para 31,3%, perda de 22,9 pontos devido, sobretudo, ao aumento dos percentuais de ruim (que foi de 5,5% para 13,9%) e péssimo (que foi de 3,5% para 15,6%).
A própria pesquisa explica a razão de piora tão acentuada no capital político de Dilma Rousseff e de seu governo. Há piora em pontos altamente sensíveis das expectativas do brasileiro em relação ao futuro, sobretudo na percepção do que ocorrerá com o mercado de trabalho, no qual a expectativa de aumento do desemprego saltou de 11,5% em junho para 20,4% em julho.
(…)
Eis que o medo do desemprego desponta como o principal problema para a imagem do governo federal e para a da sua titular. Os protestos de rua conferiram credibilidade aos vaticínios que a grande mídia vinha fazendo sobre piora na economia e, consequentemente, no meio de sobrevivência de todos: o emprego (…)”
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Como se vê, o pessimismo foi o que fez Dilma despencar. As pessoas acreditaram que iriam perder o emprego porque tanta gente na rua reclamando corroborava a tese da mídia de que o país estava afundando. Porém, a crença na mídia e na oposição à direita e à esquerda dependia de as desgraças que anunciavam se materializarem…
Mas foi em 18 de julho que aqui se publicou matéria contendo o primeiro grande sinal de que Dilma recuperaria aprovação. Trata-se de entrevista que o presidente do instituto de pesquisas Vox Populi deu a este Blog. Abaixo, trecho da entrevista.
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“(…) Marcos Coimbra: Nós temos um ano e alguns meses até a eleição. Em um ano, como já vimos em governos anteriores, foi possível se recuperarem.
A questão é que os problemas não são basicamente econômicos. Os sinais são confusos. Tenho visto, nos últimos dias, pessoas que não têm nenhuma simpatia pelo governo ou pelo PT dizendo que é muito provável que tenhamos um crescimento na economia deste ano bem maior do que o do ano passado. Assim como é muito provável que tenhamos inflação sob controle até o final do ano.
Então, com inflação sob controle, pleno emprego, população com poder de compra alto e crescimento melhor será muito difícil insistir na argumentação de que o país está indo à bancarrota, que foi praticamente o tema desses últimos 3 ou 4 meses (…).
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Infelizmente – ou felizmente –, faltou a muitos o bom senso de levar a sério uma análise tão precisa quanto essa que este Blog já vinha fazendo e que o diretor do Vox Populi referendou: o pessimismo midiático-oposicionista em que muitos acreditaram teria que se transformar em fatos para a queda de Dilma se efetivar.
Em 20 de julho, mais um alerta para os que estavam apostando contra Dilma. O post Se o Brasil estivesse em crise a sua vida já teria piorado tentou, mais uma vez, despertar os pessimistas e os embriagados com a embriaguez das ruas. Abaixo, trecho da matéria que permitia enxergar que em algum momento as pessoas começariam a recobrar o bom senso.
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“(…) As ruas estão cada vez mais entupidas de carros zero quilômetro. As residências mais humildes, hoje, estão sendo reformadas e entupidas de bens de consumo como televisões, computadores, novos móveis etc. E, hoje, só não encontra emprego quem não quer trabalhar.
O que é preciso, portanto, é fazer os brasileiros refletirem que quando um país vai mal a vida das pessoas piora. Entretanto, quem pode dizer que sua vida tem piorado? Só o que tem piorado é a percepção sobre o futuro.
Essa percepção se fundamenta, basicamente, na informação. As pessoas vêm sendo bombardeadas pelos meios de comunicação de massa com cenas de guerra e previsões catastrofistas e, juntando umas e outras, construíram essa percepção pessimista (…)”.
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Em 26 de julho, mais um aviso de que o pessimismo das pessoas era irracional e de que não poderia demorar para começar a se reverter. Entrevista com que o ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) deu ao blog no post Ex-presidente do Ipea acusa mídia de terrorismo econômico já mostrava o que agora todos descobrem.
Abaixo, trecho da matéria.
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“(…) Blog da Cidadania – E aí, nesse momento, a gente lê um editorial no maior jornal do país em que a primeira frase é a seguinte: “São consistentes os sinais de deterioração da economia brasileira”. O editorial se intitula “Mudança de sinal” e foi publicado na Folha de São Paulo de 25 de julho de 2013.
Doutor Marcio: são consistentes os sinais de deterioração da economia brasileira?
Marcio Pochmann – Interpretações sempre dependem de quem as define. Eu, particularmente, não vejo sinais nessa direção. Infelizmente vamos ter um ano de crescimento menor do que imaginávamos, mas nada que signifique mudança da trajetória dos últimos dez anos, que tem sido uma trajetória de crescimento e distribuição de renda.
Não vai haver nada de trágico – a menos que surja uma hecatombe, e estamos longe disso no mundo. Deveremos concluir este ano com o controle da inflação, com crescimento econômico melhor do que no ano passado e com indicadores sociais seguindo a trajetória comprovada dos últimos dez anos (…)”
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Em 27 de julho, mais uma reflexão que indicava o futuro. O post Quem você colocaria no lugar de Dilma? tocava em outro fator que faria a presidente recuperar popularidade: a falta de alternativas a ela para 2014.
Abaixo, trecho da matéria
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“(…) Ora, se a razão da insatisfação com o governo Dilma decorre de crença de grande parte da sociedade no catastrofismo (ou terrorismo) econômico midiático, se as desgraças que esses órgãos de “imprensa” de oposição não-assumida alardeiam não se materializarem os que se deixaram levar por previsões pessimistas concluirão que embarcaram numa canoa furada.
Claro que a mídia continuará prevendo desgraças, mas como falta muito tempo para a eleição de 2014 a realidade terá que confirmar os vaticínios midiáticos. Não será possível continuar por mais um ano e meio dizendo que a desgraça virá. Se não vier, as pessoas terão que refletir (…)”.
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Dito e feito…
Em 30 de julho, mais uma explicação sobre por que não é possível que a sociedade comece a ignorar de repente tudo o que a tem levado a manter o PT no poder durante os últimos dez anos. O post Desigualdade caiu 1,89% com FHC e 9,22% com Lula mostrou por que o Brasil real vem dando uma banana para a direita e mantendo o PT no poder.
Finalmente, em 7 de agosto último – três dias antes da divulgação da pesquisa Datafolha que mostra que Dilma está em processo de recuperação de popularidade –, o post Popularidade de Dilma deverá se recuperar no segundo semestre se converte na cereja do bolo.
Abaixo, um trecho.
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“(…) Como se disse aqui anteriormente, o pessimismo esteve na raiz do aumento da indisposição popular com o governo federal e com a sua titular. Contudo, com o progressivo desmonte das previsões catastrofistas, isso deve mudar.
Quem esperava um desemprego maior no futuro próximo vai ver que isso não ocorreu. Quem esperava um surto inflacionário, idem.
Não parece absurdo, portanto, prever que Dilma possa começar a recuperar popularidade nos próximos meses. A frustração das previsões alarmistas, por si só, deve mostrar aos que acreditaram na mídia que as previsões dela não tinham fundamento (…)”
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Mais uma vez, estão me perguntando sobre uma “bola de cristal” que eu teria e que me fez prever tanto a queda pronunciada de Dilma nas pesquisas quanto que ela começaria a se recuperar neste segundo semestre.
Este post mostra que não há “bola de cristal” alguma. Era óbvio que multidões enfurecidas nas ruas iriam corroborar o que Marcio Pochmann chamou de “terrorismo econômico” e que aquilo prejudicaria mais a Dilma, mas também era óbvio que para o prejuízo durar a previsões pessimistas teriam que se confirmar. Foi simples assim.