Lula disputará a Presidência, sim
Um “Volta, Lula!” mais estridente do que o de costume começou a ser ouvido desde que os protestos de rua de junho e julho fizeram a classe política – e, em particular e com maior ímpeto, a presidente Dilma Rousseff – sofrer prejuízos de imagem generalizados.
Naquele momento de comoção social, muitos viram a presidente da República ferida de morte. Segundo pesquisa Datafolha divulgada em 30 de junho, sua perda de intenções de voto na corrida eleitoral foi de 21 pontos percentuais, caindo de 51% para 30%.
Até Lula perdeu intenções de votos – tinha 55% e caiu para 46%. Contudo, mesmo assim ele ainda derrotaria todos os adversários no primeiro turno.
Marina Silva, que lucrara 8 pontos percentuais com a derrocada de Dilma, tendo passado de 16% para 23% e, assim, chegado perto do empate técnico com a presidente, na disputa com Lula ganhara apenas 2 pontos, portanto dentro da margem de erro da pesquisa.
Na nova pesquisa Datafolha, publicada no sábado (10/8), Dilma recuperou um quarto do que perdera na projeção da corrida eleitoral do ano que vem – passou de 30% para 35%%. Lula também ganhou 5 pontos, indo de 46% para 51%.
Além disso, Lula foi o único que cresceu em intenções espontâneas de voto – quando o pesquisado cita o nome de seu candidato preferido sem ser estimulado por uma lista de nomes. Passou de 6% em junho para 11% em agosto.
A entrada de Lula na sucessão presidencial em lugar de Dilma, portanto, parece ser mais do que lógica. Essa é uma visão que vinha sendo comprada tanto por petistas e aliados quanto por oposicionistas, pelo menos até que a presidente se recuperasse na última pesquisa.
Ainda assim, a imensa superioridade de Lula sobre todos os adversários o torna um candidato muito mais seguro do que Dilma, para o PT.
É um erro, porém, acreditar que a melhor forma de aproveitar a superioridade eleitoral do ex-presidente seria substituindo Dilma por ele na disputa pela Presidência no ano que vem.
Quando Lula, perguntado sobre a disputa eleitoral, disse que não entraria nela porque nunca saíra, alguns entenderam errado. Confundiram sua presença política no governo Dilma e na disputa pela reeleição com ingerência do ex-presidente no governo.
O que parece, assim, é que nem todos os aliados ou simpatizantes do PT entenderam bem o papel de Lula na sucessão presidencial. Não é preciso pedir a “volta” dele porque irá disputar, sim, a eleição.
Para entender como, basta analisar as intenções de voto muito maiores de Lula do que as de qualquer outro postulante e que, em particular, superam as de Dilma por larga margem.
Como é possível que Dilma tenha só 35% e quem a indicou tenha 51%? Se a presidente se desmoralizou em alguma medida, quem fez as pessoas votarem nela não deveria ser condenado pela indicação?
O que parece é que uma parte do eleitorado passou a dissociar Dilma de Lula por achar que ambos não estão mais em sintonia, o que o grande noticiário político chega a insinuar através de muitas futricas que espalham sobre a relação deles desde que ela assumiu o governo.
Não vamos nos esquecer de que a mídia espalhou, há bem pouco tempo, que Lula teria dado declarações desairosas sobre a sucessora. O que fica mais ou menos evidente, portanto, é que há quem acredite que Dilma traiu aquele que é detentor de grande carinho popular.
Eis aí, portanto, a forma como Lula disputará a sucessão presidencial: apoiando a recandidatura de Dilma e, assim, desfazendo a visão dos que julgam que eles se afastaram e que, por isso, deixaram de apoiar a atual presidente.
Seria um grande erro substituir Dilma por Lula, pois os adversários tratariam de cobrá-lo pela “má indicação”, que ele não teria como explicar e que poderia macular seu capital político. Dessa forma, tudo o que ele terá que fazer será transferir de novo sua popularidade a ela.
Daqui até outubro do ano que vem, portanto, Lula entrará em campo com frequência cada vez maior, de forma a dar um apoio público à sucessora que as pesquisas sugerem que parte do eleitorado acredita que ela perdeu.
O que se pode refletir, por fim, é que enquanto Lula estiver vivo e disposto a mergulhar de cabeça em campanhas eleitorais de abrangência nacional, seja como candidato ou como apoiador não haverá quem possa enfrentá-lo. O Datafolha confirmou tal premissa.