Partidos à esquerda do PT têm que pôr o rancor de lado
Apesar de o fim dos protestos da última quarta-feira (14) em São Paulo ter visto ocorrer um problema que já se tornou marca de todo e qualquer ato público ao longo dos últimos meses, o problema da depredação e da consequente violência sem causa e sem juízo, deu gosto ver como os jovens manifestantes se organizam. Juventude engajada é linda.
O tema do protesto foi justo, havia foco, uma causa real por que bradar. Qual seja, a causa da situação caótica no transporte por trens suburbanos e por metrô na capital paulista. Afinal, o que se quer é investigação séria, punição de culpados, ressarcimento do Erário e novas – e melhores – políticas públicas para o setor.
Não houve protesto genérico “contra a corrupção”, como se fosse necessário reafirmar que um crime é crime. Há um caso escabroso de corrupção sendo desvendado e que corre o sério risco de não dar em nada, em um cenário em que o Brasil é, ainda, o único país em que os carteis compostos pelas europeias Siemens e Alstom não geraram consequência alguma.
E a manifestação não foi pequena. Do meio para o fim do protesto, milhares de pessoas protestavam, com imensa visibilidade, pelo Centro Velho de São Paulo. O paulistano finalmente viu um questionamento real ao grupo que está encastelado no governo paulista há quase vinte anos e que fez do Estado sua propriedade particular.
Contudo, aquele movimento foi à rua dividido e, se não fosse assim, poderia ter sido muito maior.
O veto à presença formal de partidos e sindicatos em particular feito justamente por partidos e sindicatos que se fizeram representar no protesto constitui um dos fatos que referendam o adágio de que a esquerda só se une na cadeia.
Aliás, vale informar que Erik Bouzan, secretário municipal de juventude do PT, postou comentário neste Blog afirmando que no protesto contra Alckmin na última quarta-feira não teria havido “veto” ao PT ou à CUT pela organização do evento.
Abaixo, o comunicado que postou
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Erik Bouzan
Enviado em 15/08/2013 as 13:18
Eduardo,
Eu, como secretário municipal de juventude do PT preciso esclarecer que não houve nenhum tipo de veto à participação da CUT no Ato realizado ontem. Sem dúvida, há uma disputa colocada nos rumos dos atos e um conjunto de organizações que não fazem questão de nossa participação, isso faz parte, creio, da disputa existente nesse tipo de ação. Mas há setores ligados, direta ou indiretamente, participando desta construção e nossa participação ontem (estávamos em torno de 50 pessoas lá) foi boa, sem nenhuma provocação, muito menos veto. Estávamos junto aos setores da CUT, da UJS e do Levante Popular da Juventude que estavam presentes.
Aliás, desde as Jornadas de Junho a JPT vem participando junto ao MPL e outras organizações de esquerda, da construção dos atos, apesar das críticas ao nosso partido e governos, legítimas e importante, apesar dos excessos.
Me coloco a disposição para dar mais informações caso queira.
Abraços!!
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Infelizmente, o que constatei durante o protesto foi bem diferente. Quase 20 pessoas afirmaram o contrário, que PT e CUT estavam vetados oficialmente no ato. Ou seja: não puderam levar bandeiras.
Inclusive, presenciei o “pedido” dos manifestantes a pessoa que portava bandeira do PT para que a guardasse. Se não houvesse veto, PT e CUT estariam lá com suas bandeiras e teriam levado um bom número de manifestantes.
Isso não ocorreu.
O Movimento Passe Livre, o PSOL, o PSTU, o PCO e outras entidades fizeram um belo ato, mas é uma pena que não tenham conseguido impedir o vandalismo e a violência e, também, que estejam recaindo no erro absurdo de considerarem que o PT é igual ao PSDB.
Vamos falar sério: o PT é igual ao PSDB?!
Estive no Pinheirinho para ajudar as vítimas do fascismo tucano que jogou milhares de famílias em depósitos imundos, insalubres após destruir suas casas, seus bens de consumo durável, muitas vezes sem deixar que pegassem até as próprias roupas e documentos antes de serem expulsos de seus lares. Que partidos e sindicatos estavam lá para ajudar? PT, PSTU, PSOL, PCO, CUT etc.
O governo federal do PT tirou dezenas de milhões de brasileiros da miséria e promoveu a maior redistribuição de renda da história do Brasil. Colocou negros e pobres na universidade como nunca aconteceu em 500 anos de história do país. Reduziu o lucro dos bancos, reduziu o preço da energia elétrica. Enfim, foi um governo de esquerda, sim.
Claro que se fez concessões ao capital, mas o viés de esquerda é inegável
São Paulo é um dos últimos grandes redutos da pior direita que este país já viu. É reduto dos golpistas de 1964, do racismo de um setor microscópico, porém extremamente abastado da sociedade. É reduto da xenofobia absurda contra nordestinos, oriunda de uma elite igualmente pequena, mas que tem uma voz tonitruante na mídia, como se representasse o grosso da população.
Tirar essa direita do governo de São Paulo seria um salto gigantesco para o país. O conservadorismo, o reacionarismo, o preconceito, a apropriação desbragada do Estado por grupos econômicos nacionais e estrangeiros sofreria um golpe que, se não fosse fatal, seria debilitante a um ponto em que mudanças reais poderiam ocorrer no país.
Ocorre que esses partidos à esquerda do PT fingem não entender que não existe alternativa de poder fora do binômio PT-PSDB. Ano que vem, o Brasil terá que escolher entre dois candidatos a presidente, um de cada partido desse binômio. Recusar-se a enxergar isso é, inclusive, falta de responsabilidade.
Alguém consegue imaginar o que aconteceria se os que lutam furiosamente contra todos os avanços sociais que o Brasil logrou retornassem ao poder? Alguém consegue imaginar o que seria o Brasil ser governado por um Aécio Neves? Possivelmente Serra seria menos nefasto, ainda que um governo dele correspondesse a atraso sem precedentes no país.
Os partidos à esquerda do PT sabem que não há alternativa. Sabem que jamais ganhariam a eleição presidencial do ano que vem e que muito menos conseguiriam uma bancada maior do que meia dúzia no Congresso. E sabem muito mais que jamais ganharão o governo de São Paulo.
Qual o sentido, então, de escreverem faixas e cartazes também contra o PT e, ainda por cima, vetarem a presença oficial do partido nos protestos?
Uma das faixas da manifestação de quarta-feira que atacava Alckmin dizia, também, que “Haddad e PT não são a saída”. Ah, é? Então qual é a saída? O PSTU? O PSOL? Alguém imagina esses partidos ganhando a eleição? Melhor fariam se tivessem se unido à campanha de Haddad e vencido junto com ele.
Hoje, teríamos secretário de Estado do PSOL, do PSTU e esses partidos estariam puxando o governo mais para a esquerda, pois abandonar a luta por dentro só fez reforçar a direita tanto no governo de São Paulo quanto no governo federal, entre outros.
A população percebe o sectarismo desses partidos à esquerda do PT e, assim, nega-lhes votos. E é uma pena, porque é evidente que propostas de partidos como PSOL, PSTU e PCO são mais do que justas e urgentes. Mas falta quem as defenda em um governo como o de Dilma ou como o de Haddad porque essa oposição à esquerda não quer nem papo.
Ao longo dos anos, estive ao lado dessa gente na rua várias vezes. E não só na rua. Sei como pensa. E sei que, apesar de acreditarmos em valores muito próximos, essa costela dissidente do PT só tem um projeto: fazer o PT perder o poder por puro e simples desejo de vingança, que esses partidos sobrepõem ao interesse da maioria.
O resultado dessa divisão da esquerda é que o país vai tombando à direita. O conservadorismo só tem feito aumentar, nos últimos anos. Questões como aborto, Estado laico, direitos dos homossexuais e das mulheres, tudo isso tem sofrido revés.
Recentemente, vimos uma religião se apropriar dos recursos públicos como nenhuma outra consegue. Tudo graças à aliança com meios de comunicação, que jogariam a fé do povo contra os políticos que ousassem lembrar que a Constituição impede que uma religião específica se torne religião oficial e tenha esse acesso descabido ao Erário.
A esquerda, pois, precisa se unir para impedir que este pais tombe à direita. Se é ruim com o PT – como querem PSOL, PSTU, PCO –, eles que esperem o PSDB voltar ao poder para ver como será o diálogo.
Não levar esse fato em conta não é nem mais burrice, é uma irresponsabilidade contra o país.
Espera-se, portanto, que os protestos com causa como esse contra a máfia dos transportes e contra tanto mais em São Paulo ou em qualquer parte do Brasil consigam fugir da armadilha do vandalismo e, ainda mais, do sectarismo rancoroso que não leva a lugar algum e que ameaça o nosso país com a volta de uma direita sem alma ao poder.