São Paulo quer que Haddad faça milagre
Quem escreve este texto não é o blogueiro, mas o cidadão. E, mais do que um texto, isto é um compungido lamento. Um lamento pela prova inconteste da própria estupidez que vem sendo dada pelo povo da cidade em que nasceram meus tetravós, meus bisavós, meus avós, meus pais, eu, meus filhos, meus netos e todos os que amo.
E pouco consola que não seja todo o povo de São Paulo que esteja demonstrando um comportamento infantil e irresponsável, mas que também decorre, em larga medida, da forma como os políticos brasileiros conduzem suas campanhas eleitorais, ou seja, mostrando realizações que sabem que custarão a se materializar, caso se materializem algum dia.
Contudo, um povo à altura da importância que São Paulo tem no cenário nacional deveria ter um pouquinho mais de maturidade. Ou será tão difícil entender que o que todos os candidatos apresentam em suas campanhas é marketing e que mesmo o mais bem-intencionado prefeito não tem como fazer tais melhorias acontecerem rapidamente?
O prefeito Fernando Haddad venceu há pouco mais de um ano a eleição que o guindou ao cargo que ocupa, mas não completou nem um ano de governo e, apesar de todo munícipe paulistano saber da situação que herdou, passou a exigir-lhe o que só seria cabível talvez ao fim deste seu mandato. Mas não é só – como se fosse pouco…
O mais impressionante é que a cobrança extremada que fazem ao prefeito começou quando ele ainda mal tinha “tomado pé” de sua administração. Após o QUINTO mês de governo, a cidade se inflamava exigindo que, pela primeira vez na história recente, a prefeitura arcasse sozinha com os reajustes dos contratos com o setor privado para o transporte público.
Endividada até o pescoço, suja, violenta, crescentemente congestionada por uma enxurrada de novos veículos que a indústria automobilística despeja a cada dia em suas ruas, só Jesus Cristo poderia operar o milagre de resolver os problemas de São Paulo em tão pouco tempo.
Com efeito, Haddad não prometeu nenhum milagre. O marketing político que TODOS os candidatos a TODOS os cargos eletivos usam não pode ser levado ao pé-da-letra por pessoas minimamente racionais. E o que é pior: esse povo cobra milagres de alguns governantes e não cobra de outros.
O paulistano, pois, não sabe valorizar nem o seu próprio bem-estar. Age como criança.
Ora, o PSDB está há praticamente vinte anos governando o Estado. Ao longo desse tempo, a mesma capital paulista que, em boa parte, tem sido capaz de comprar acusações ao atual prefeito por corrupção ocorrida no governo anterior demonstra ignorar quanto de culpa pela situação é do governo estadual.
E, como se não bastasse, o paulistano tem tido uma tolerância com os escândalos envolvendo o governo do Estado que só Freud explica. Ou a teoria da “Síndrome de Estocolmo”…
O fato, pois, é que o tesouro de São Paulo perdeu alguma coisa próxima a 600 milhões de reais por estar tendo que arcar sozinho com os vinte centavos que a população não quis pagar a mais pela passagem de ônibus. Então, o governo elabora um plano para cobrar mais IPTU de quem tem mais – e menos de quem tem menos – a fim de recuperar o orçamento desmontado.
E o que faz o povo? Diz que não paga.
Desse modo, se “as ruas” comeram uma quantidade tão expressiva de recursos vitais a uma administração tão endividada, a Justiça, novamente com os olhos no “clamor público”, impede o prefeito de tirar de algum lugar os recursos que impedem o orçamento da cidade de “fechar”.
O povo de São Paulo parece embriagado. Tira recursos da prefeitura e quer aumentar suas despesas. É como um condomínio em que os moradores exigem melhorias enquanto se recusam a pagar para que sejam feitas. E ainda retiram recursos do caixa desse condomínio. Ou seja, São Paulo quer que Haddad faça milagre.