Não dá para chegar a um acordo sobre os protestos… Ou dá?

Análise

Recebo e-mail do grupo Mídia Ninja que, somado a tudo que se vê por aí em defesa dos grupos que protestaram contra a Copa – e que, agora prometem protestar contra as eleições, pois rejeitam a “democracia representativa” –, mostra quão difícil será evitar que jovens de classe média continuem sendo presos, que a polícia continue reprimindo protestos com tanta dureza e que os cidadãos comuns – em resumo, os trabalhadores que têm horários a cumprir – deixem de ser torturados por esses atos públicos.

Para entender o problema, primeiro é preciso ver a mensagem supracitada.

 

Antes de prosseguir, chamo atenção para a imagem dos “presos da Copa” que está no alto da página. O grupo Mídia Ninja incluiu os dois rapazes que mataram “acidentalmente” o cinegrafista da Rede Bandeirantes, Santiago Andrade.

Como faz com isso? Andrade perdeu a vida por causa do rojão que esses dois, com o círculo vermelho ao redor dos rostos, dispararam. Fica por isso mesmo?!! Não ficam presos por terem disparado o artefato que matou o cinegrafista?!!

Só pode ser brincadeira…

Enfim, conheço o Pablo Capilé, um dos líderes do Mídia Ninja. Julgo ser um rapaz muito inteligente e não creio que tenha más intenções. Não dá, porém, para ler esse texto sem uma boa dose de espanto. E não só esse texto, mas muitos outros de grupos que apoiam protestos desse tipo. Isso sem falar nos militantes dos protestos que passaram a assolar o Brasil do ano passado para cá e que basta você dizer alguma coisa nas redes sociais contra protestos para virem interpelá-lo brandindo violência policial como “razão” para a violência dos black blocs.

Assim fica difícil. Nunca se vai chegar a um entendimento e as arbitrariedades que alguns apontam nas prisões ou mesmo na ação da polícia nos protestos, vão piorar.

Para entender melhor o tamanho do problema, vale ler, abaixo, reportagem recente da BBC Brasil intitulada “Após Copa ‘esvaziada’ nas ruas, manifestantes querem mobilização nas eleições”

Clique na imagem para visitar o site em que a matéria foi publicada

Então ficamos assim. O que esses grupos querem são pretextos para protestar. E notem que acham que as manifestações que promovem fracassaram em termos de público porque o povo estava absorto na Copa, ainda que antes dela tais protestos já não estivessem conseguindo reunir muita gente.

Falta entendimento a esses grupos sobre o repúdio que a sociedade está manifestando contra protestos violentos. Até porque, tais grupos negam que sejam responsáveis pela violência que eclode toda vez que vão às ruas.

Infelizmente, não se consegue dialogar com essas pessoas. Vejam só a matéria do Mídia Ninja, acima. Os ativistas todos são tratados como pessoas que nada têm que ver com a organização e a estrutura dos protestos. Pior: querem que acreditem que não têm culpa se alguns black blocs aparecem munidos de coquetéis molotov, rojões, bombas e tantos outros artefatos que, como já se viu na morte do cinegrafista da tevê Bandeirantes, podem matar.

Posso afirmar que, sem vandalismo, não há repressão policial. Quem frequenta este blog há mais tempo sabe que daqui nasceu a ONG Movimento dos Sem Mídia e que ela já promoveu vários atos públicos, a maioria diante de grandes empresas de mídia como a Folha de São Paulo. Alguns desses protestos chegaram a ser numerosos e a polícia sempre se limitou a acompanhá-los.

Abaixo, vídeo de um dos protestos que este blog convocou

 

 

 

A polícia militar brasileira é, sim, truculenta. Trata os pobres como animais. Inclusive, mata-os até por uma simples suspeita. Porém, não faz isso com professores universitários, estudantes, enfim, com pessoas como nós que se interessam por política e até militam nela, seja em entidades como o MSM ou o Mídia Ninja, seja em sindicatos, partidos etc.

Nas vielas escuras, nos grotões das grandes cidades, a polícia, seja civil ou militar, toca o terror. Mas não faz isso na avenida Paulista, por exemplo. Lá, só quando provocada. Aí, perde o controle e acaba dando vazão à sua truculência, inclusive porque não pode ficar inerte diante de uma garotada ensandecida que sai quebrando tudo e, ainda por cima, munida de artefatos que podem até matar, como já se sabe.

A grande dificuldade para se conseguir que os protestos possam ocorrer democraticamente e para que a polícia se limite a acompanhá-los, sobretudo quando são grandes, reside nos grupos violentos que essas manifestações admitem, sim. E que, sem reconhecer publicamente, até incentivam, porque acham que sem “pegar pesado” não haverá “reações”.

Esses grupos têm razão. Se algumas centenas de pessoas se reúnem pacificamente, mesmo interrompendo o trânsito o protesto não ganhará maior repercussão – as grandes cidades já se habituaram ao fenômeno. 500, 600 pessoas interrompendo o trânsito não é mais assunto para o Jornal Nacional e os protestos contam com a mídia. Não apenas esses protestos, mas todo e qualquer protesto em público.

Sem que os grupos que protestam aceitem abrir mão do quebra-quebra e dos artefatos potencialmente perigosos, a repressão e as prisões tendem a aumentar. Nesse processo, vão ser comprometidas as vidas de jovens que nunca tiveram problemas com a lei e que não são bandidos – são “apenas” descerebrados que acham que podem acabar com a “democracia representativa”.

Há pouco, vimos isso ocorrer com os dois rapazes cariocas que mataram o cinegrafista da tevê Bandeirantes. É óbvio que não são bandidos, mas tiraram uma vida por conta dessa visão dos militantes que infestam a internet defendendo as ações dos black blocs abertamente.

Voltemos à reportagem da BBC Brasil. Notem que esses grupos agora querem protestar durante as eleições – e também contra elas. Ora, a lei não admite isso. Antes dos pleitos em primeiro ou segundo turno, até pode haver protestos pacíficos, mas protestos violentos nem pensar.

E não adianta dizerem que não têm nada que ver com a violência. Há investigações sendo feitas para identificar os que insuflam a violência mesmo sem participar dela. E pior: nos dias dos pleitos em primeiro e segundo turno nem manifestação pode ser feita. Se forem à rua, serão reprimidos mesmo. E estarão cometendo crime eleitoral.

Há alguma possibilidade de diálogo? Para isso, seria preciso que os movimentos que estão indo à rua admitam que são responsáveis pela violência que aparece em praticamente todos os atos que convocam. Essa história de dizerem que não são black blocs é uma tentativa de fazer a todos de bobos. Muitos não praticam a violência diretamente, mas contam com ela e até ajudam a “organizá-la”.

Fica difícil, pois, ignorar que há gente graúda por trás desses protestos violentos. Gente que, inclusive, nem dá as caras neles e que está pouco se lixando para esses jovens que foram encarcerados após investigação policial que afirma ter detectado que estão na organização velada da violência escancarada e deixada a cargo de descerebrados, muitos com espinhas na cara.

Como as eminências pardas dos protestos violentos não aparecem continuarão insuflando essa moçada, usando-a como bucha de canhão. É como se esses jovens que vão para a linha de frente fossem extremistas muçulmanos que sacrificam suas vidas pela “causa”. E, no caso em questão, já há vários que estão sacrificando.

Se for possível algum diálogo com essas lideranças, portanto, muito bem. Do contrário, paralelamente às tentativas de diálogo a polícia deve localizar os mentores intelectuais de tudo isso. Aqueles que acham que não correm risco de ser trancafiados e que, portanto, independentemente das ações da polícia continuarão oferecendo “mártires” para os movimentos incensarem em mais protestos, antes de começarem a quebrar tudo.