Afrouxem os cintos que o “Aécioporto” sumiu

Análise

 

Não chegou a duas semanas inteiras a repercussão na grande mídia da denúncia da Folha de São Paulo contra um ente abstrato, “Minas” – o jornal, ao menos na manchete denunciante, não acusou uma pessoa física, mas um ente da Federação por ter construído um aeroporto nas terras da família do candidato do PSDB a presidente, Aécio Neves.

Na edição de 20 de julho último, o diário paulista manchetou, na primeira página, que “Minas construiu aeroporto em fazenda de tio de Aécio”. A denúncia repercutiu muito pouco na grande mídia, com exceção do jornal que a divulgou, que publicou cerca de 50 textos sobre o tema – a maioria, cartas de leitores.

Contudo, apesar da frieza com que foi tratada pelo resto da imprensa escrita, a denúncia da Folha repercutiu intensamente na internet. Para se ter uma ideia, a reportagem original da denúncia teve 78 mil compartilhamentos no Facebook, sem falar da grande repercussão em outras redes sociais e na blogosfera.

Aliás, a blogosfera fez denúncias complementares sobre outros aeroportos esquisitos construídos pelo tal Proaero, programa da gestão Aécio Neves no governo do Estado que prometia construir ou reformar aeroportos regionais do Estado, mas que, segundo a mesma Folha, só construiu 2 aeroportos novos de 2003 (quando o programa foi criado) até hoje.

Porém, no veículo que transforma em notícia de fato o que sai na grande imprensa escrita, ou seja, no Jornal Nacional, a repercussão foi pífia, para dizer o máximo. Foram duas míseras reportagens, uma de 3 minutos e 17 segundos no dia 21 de julho (o dia seguinte à denúncia da Folha) e outra de 2 minutos e 18 segundos no dia 31 de julho. E mais nada.

Para que se possa mensurar a desproporção entre denúncias na Globo contra tucanos e contra petistas, matéria do Jornal Nacional sobre denúncia da revista Veja do último fim de semana sobre suposto vazamento de perguntas que a CPI da Petrobrás faria a funcionários e ex-funcionários da empresa teve duração de 4 minutos e 8 segundos e deve se estender indefinidamente, com a oposição batendo bumbo.

Uma mera busca no Google dá a dimensão da pouca atenção dada pela grande mídia ao caso. Pode-se contar nos dedos as matérias desses veículos corporativos. E há quatro dias não sai notícia nova – a última foi sobre Aécio ter admitido que usou o aeroporto.

Quando a denúncia eclodiu, este Blog entendeu que se tratava de preparação para ataque a Dilma que ainda virá, e que requereria, antes da divulgação, “prova de isenção” da mídia para esta ser levada a sério, já que existe uma percepção consolidada de que Globos, Folhas, Vejas e Estadões são parciais. E, ao menos aqui, esse entendimento se mantém.

A denúncia sobre o aeroporto, aliás, começa a cair rapidamente no esquecimento, como também foi previsto aqui. Apesar de o Ministério Público de Minas Gerais ter prometido investigar, há motivos de sobra para não acreditar nessa investigação.

Encheriam a pista do “Aécioporto” as denúncias contra Aécio que o MP mineiro arquivou sem sequer investigar. Casos muito mais graves, como o da Copasa, que envolve 3,3 bilhões de reais, foram sumariamente arquivados sem maiores explicações e o mesmo MP de Minas já arquivara denúncia anterior contra o aeroporto nas terras da família do tucano.

O mesmo aconteceu, em meados do ano passado, com o imenso escândalo dos trens do metrô e da CPTM em São Paulo, que envolve bilhões. As denúncias duraram até mais, algumas semanas, e tomaram chá-de-sumiço. Nunca mais foi dito nada. E o que é pior: o governador Geraldo Alckmin e o ex-governador José Serra praticamente nunca foram citados.

Aécio, por sua vez, já deu o caso por “encerrado”, apesar de jamais ter explicado nada. Aliás, ele tem se referido à “importância” do aeroporto que mandou construir e que ele e sua família provavelmente usaram mais do que qualquer outro. E a relevância da obra é a grande questão.

É possível provar que havia interesse público na construção do aeroporto de Cláudio? Se houvesse, não viveria trancado e com as chaves em mãos da família de Aécio. 14 milhões de reais foram usados para fim incerto e dificilmente uma investigação séria mostrará que Minas Gerais precisava da obra. Se for uma investigação séria, claro.

Agora, vale acompanhar a repercussão que a mídia dará à denúncia contra a Petrobrás feita pela Veja no final de semana. Apesar de aparentemente ser fraca – a Petrobrás explica que as perguntas para a qual treinou seus executivos foram extraídas do site do Senado Federal, nos dias 14 de maio e 02 de junho –, a mídia vai espremê-la até a última gota.

Como a denúncia do “Aécioporto” durou um pouco além do normal na mídia (para uma denúncia contra tucanos), alguns se animaram. A este Blog, porém, a estratégia midiática para afetar isenção nunca enganou. E uma coisa você pode escrever aí, leitor: a mídia cobrará muito caro do PT por tê-la divulgado. É só esperar.