Sem provas contra Dirceu e Anastasia, um é preso e outro “inocentado”
Dirceu foi preso de novo, como já era amplamente esperado. E, como já se sabia que ocorreria, sem que ninguém conheça a razão. E antes que o fascismo hipócrita venha com “mimimi” sobre corrupção, lembremo-nos, aqui, de que o partido dessa gente, o PSDB, acaba de fazer uma conta que a Folha de São Paulo chamou de “pragmática”.
O moralismo demo-tucano-midiático, a estas horas, está costurando discursos sobre a prisão de José Dirceu. Porém, segundo o jornal, esses hipócritas decidiram “não abandonar Eduardo Cunha” porque o peemedebista ficará no cargo mesmo se for denunciado por Rodrigo Janot, pelo menos até o STF decidir se abre ação penal.
“Basta uma canetada dele para abrir o processo de impeachment”, diz um cacique tucano. Para o PSDB, o desgaste que o partido pode sofrer por oferecer sustentação ao enrolado presidente da Câmara é menor do que o desgaste que este pode causar a Dilma Rousseff. Desse modo, dane-se a corrupção de Cunha.
Mas não é só o PSDB que mandou às favas os escrúpulos e está apoiando Eduardo Cunha a despeito das delações premiadas que o acusam de ter “lavado a égua” em termos de propinas de empreiteiras. A imprensa mais moralista se derrete de amores por ele.
Vejam só o moralista-mor da imprensa nacional, o pitbull de Veja e Folha, Reinaldo Azevedo. Há pouco tempo, escreveu que Ódio a Cunha é ódio à democracia. E que se danem os 5 milhões de dólares que os mesmos que delataram Dirceu dizem que Cunha recebeu.
Para o moralismo hipócrita da direita midiática, crime só é crime se for cometido pela esquerda. Crimes de direitistas estão liberados.
O que se quer, neste Blog, é que haja tratamento isonômico para gregos e troianos. Se ao lado de Dirceu todos os outros acusados do campo político oposto estivessem sendo presos, poderíamos questionar essa medida de exceção para todos, mas, pelo menos, saberíamos que a lei vale para qualquer um da mesma forma.
O que causa sobressalto é que sob indícios idênticos alguns são presos sem nem mesmo ter sido julgados e condenados e outros são liberados sob o argumento de que faltam provas definitivas, apesar de que o mesmo ocorre com os que foram presos.
Essa é uma característica das ditaduras: a lei vale para punir os inimigos políticos, mas é ignorada quando os acusados são amigos.
Talvez pior do que o caso de Cunha seja o caso do ex-governador mineiro Antonio Anastasia. Hoje, pelos jornais, ficamos sabendo que o Ministério Público deixará de investigá-lo apesar de haver uma delação contra ele, de um ex-policial que afirma ter lhe entregado uma mala cheia de dinheiro.
Contra Cunha, Anastasia e Dirceu pesam acusações de pessoas que foram presas por envolvimento em crimes. Porém, enquanto que os dois primeiros não sofrem sequer um constrangimento enquanto recebem apoios da mídia, do PSDB e do resto da fascistada que atira bombas “caseiras” nos adversários políticos, o último vai em cana.
Quem acha que está acima desse tipo de distorção das leis e do uso do aparato policial do Estado apesar de ser do campo político que a direita midiática quer exterminar, engana-se redonda e fatalmente.
O Brasil está caminhando para se tornar um Estado policial que irá reprimir todo aquele que se identificar com o pensamento de esquerda e tiver chance de ganhar apoio popular.
Há setores da esquerda que se regozijam com a destruição do PT porque depois que ele for dizimado a “verdadeira esquerda” se tornará uma opção. Pobres diabos. Acreditam mesmo que o problema quanto ao PT é a corrupção.
Se quem prega a destruição do PT estivesse mesmo preocupado com a corrupção estaria pregando o mesmo para todos os partidos que dividem o poder federal ou nos Estados e municípios, pois todos têm problemas dessa natureza.
Após dizimar o PT, qualquer esquerdista que sobressaia será abatido pelos mesmos métodos.
A diferença de tratamento gritante para acusados de crimes parecidos de acordo com a posição política de cada um mostra que todo esse aparato policial montado pelo Ministério Público, pela Polícia Federal, pela Justiça e pela Mídia será desmontado assim que o objetivo for atingido, ou seja, assim que todas as principais lideranças de esquerda forem desmoralizadas e, se possível, presas.
Estamos vendo tudo isso acontecer logo após um legítimo atentado político ter sido cometido na semana passada contra um ex-presidente da República sem que o ato de terror tenha sido objeto sequer de um editorial de um grande jornal.
A polícia paulista, sem investigar nada, divulga que o atentado foi “ação de baderneiros” e dá a entender que não gastará tempo com o ato terrorista, o que, por certo, incentivará novos ataques.
O que se entende menos ainda é como Dirceu, caído em desgraça já no terceiro ano do governo Lula, poderia ter tido influência naquele governo e, sobretudo, no governo Dilma Rousseff, que fugiu dos envolvidos no mensalão como o diabo foge da cruz.
Tanto os governos do PT quanto a cúpula do partido afastaram-se de Dirceu. Ele foi deixado à própria sorte junto com os outros envolvidos no escândalo do mensalão. Acreditar que ainda assim ele pudesse interferir na gestão da Petrobrás chega a ser cômico.
Contra Dirceu pesa tão-somente o que pesa contra políticos do campo oposto, como Cunha e Anastasia. Estes também são acusados de receber propina, mas, à diferença de Dirceu, sobre eles o que dizem delatores não é considerado nem para abrir processo, quanto mais para prender.
Como escrevi em 2012, quando Dirceu, Genoino e companhia foram presos pela primeira vez, agora, no Brasil, são quatro os pês passíveis de prisão: pretos, pobres, prostitutas e petistas. O problema é que não são apenas esses que podem infringir a lei. Crime é crime. Não há pobre ou rico, esquerdista ou direitista acima de suspeita.
Após a direita midiática dizimar o PT, a mesma máquina usada hoje para transformar suspeitas em condenações transformará suspeitas em absolvições. Essa máquina, porém, manterá uma tecla para lhe inverter a rotação. Se algum esquerdista ascender no cenário político, bastará mudar a chave que meras suspeitas voltarão a condenar.