Trapalhada de Temer & cia. pode pôr Brasil na rota do terrorismo
Minority Report é um filme de ficção científica lançado em 2002, estrelado por Tom Cruise e dirigido por Steven Spielberg. O roteiro é baseado no conto com o mesmo nome de Philip K. Dick.
A trama ocorre em Washington no ano de 2054. Uma “divisão pré-crime” acaba com a criminalidade no mundo; a polícia usa pessoas paranormais, os precogs, para preverem o futuro, localizar e prender futuros culpados antes que cometam crimes.
A metáfora é perfeita para definir a trapalhada marqueteira de mais um ministro “exótico” de Michel Temer, o tucano Alexandre de Moraes, quem, em lugar de combater a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo, quando foi secretário de Segurança, advogou para a facção.
O desempenho de Moraes na luta fracassada do governo paulista contra o PCC parece ter-lhe subido à cabeça. O histriônico ministro agora quer usar suas fórmulas fracassadas para o enfrentamento de uma organização radical que vem desafiando – e até vencendo, algumas vezes – as grandes potências ocidentais: o dito “Estado Islâmico”.
A organização é conhecida por “Estado Islâmico do Iraque e do Levante” (EIIL), ou “Estado Islâmico do Iraque e da Síria” (EIIS). É uma organização jihadista islamita que opera no Oriente Médio e que vem sendo combatida por grandes potências do Ocidente por razões controversas que não vêm ao caso neste texto, que não pretende julgar os conflitos no Oriente Médio, mas atos do governo brasileiro que podem envolver este país nesses conflitos.
Às vésperas das Olimpíadas, com as ações do Estado Islâmico se radicalizando mundo afora, o governo Temer resolve promover um show de marketing usando aparato de segurança como a Polícia Federal, que tem se notabilizado por ações de cunho político contra inimigos políticos de grupos radicais de direita, ou seja, contra o Partido dos Trabalhadores e seu governo federal recém-deposto por um processo que, mundo afora, vem sendo chamado de golpe por grandes meios de comunicação estrangeiros, por governos, celebridades, intelectuais etc.
O Show
A duas semanas da Olimpíada, a Polícia Federal prendeu na quinta-feira (21) dez brasileiros ditos “suspeitos de simpatizar com grupos terroristas”.
As forças de segurança do governo federal vinham monitorando cem pessoas no país que, segundo o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, manifestam simpatia ao Estado Islâmico. Os dez presos compunham os 10% que mais despertaram atenção das forças de segurança. Eles ficarão presos por 30 dias, prorrogáveis por mais 30.
Esta foi a primeira ação anti-terror da PF depois da aprovação da lei que tipificou os crimes dessa natureza, mas que recebeu uma leitura totalmente descabida do governo Temer.
Pelo texto sancionado pela presidente afastada Dilma Rousseff, o terrorismo é tipificado como a prática, por uma ou mais pessoas, de atos de sabotagem, de violência ou potencialmente violentos “por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública”.
Os suspeitos presos pela PF foram enquadrados nos artigos 3º e 5º.
> 3º — promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por interposta pessoa, a organização terrorista;
> 5º — Realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal delito.
Ocorre que essas pessoas que foram presas não cometeram nenhum ato concreto que permitiria às autoridades enquadrarem-nas nos artigos da nova lei antiterrorismo, exigência feita ao Brasil para receber as Olimpíadas.
Não há um único registro de contatos diretos das pessoas presas com terroristas. Segundo a imprensa, um dos suspeitos teria chegado a entrar em contato com uma empresa de armas para comprar um fuzil AK-47, mas a compra nunca se concretizou e mesmo a tentativa de efetuar a transação nunca foi confirmada.
Aliás, vale perguntar: que tipo de terrorista é esse que compra armas por meios legais, no próprio nome? Um membro do grupo Estado Islâmico precisaria fazer tal transação para obter arma por um meio que seria tão fácil de rastrear?
Já os outros presos teriam “feito juramento de lealdade ao Estado Islâmico por meio de um site que oferece uma gravação do texto que deve ser repetido a quem deseja fazer parte do EI”. Mesmo se isso fosse verdade, porém, não há lei que proíba uma pessoa de simpatizar com o que quer que seja.
Invadir residências de cidadãos por crimes que eles possam vir a cometer tem tudo que ver com o filme hollywoodiano supracitado. E é muito ridículo.
A tal A Operação Hashtag, deflagrada na quinta-feira (21) pela Polícia Federal, deveria ser sigilosa. Mas recebeu grande publicidade no mundo inteiro. Seria extremamente simples surpreender essas pessoas e levá-las para depor sem alarde, mas o caráter marqueteiro da operação, com entrevista espalhafatosa do ministro da Justiça, é claro.
A inépcia é tanta que os envolvidos tiveram seus nomes divulgados:
Alisson Luan de Oliveira
Antonio Andrade dos Santos Junior
Daniel Freitas Baltazar
Hortencio Yoshitake
Israel Pedra Mesquita
Leandro França de Oliveira
Leonid El Kadre de Melo
Levi Ribeiro Fernandes de Jesus
Marco Mario Duarte
Mohamad Mounir Zakaria
Oziris Moris Lundi dos Santos Azevedo
Valdir Pereira da Rocha
Vitor Barbosa Magalhães
É desoladora a trapalhada do governo Temer. E preocupante.
Pelo seguinte: o EI é realmente uma organização que está promovendo um tipo de luta contra os excessos das grandes potências que comete crimes inomináveis sob o pretexto de combater o imperialismo. Porém, essas ações de grupos radicais islâmicos não são empreendidas aleatoriamente e contra quem não os incomoda.
A França, por exemplo, tem sido alvo de atos de terrorismo em retaliação a suas ações contra o EI no Oriente Médio. E todos sabemos que ações das grandes potências econômicas e militares no Oriente Médio cometem tantos abusos e crimes quanto os grupos radicais que praticam atos de terror em retaliação.
Que o diga o Wikileaks, que denunciou que em 12 de julho de 2007 um helicóptero Apache da Força Aérea dos Estados Unidos fazia o patrulhamento em Bagdá e a tripulação resolveu fazer uma “brincadeira de tiro ao alvo”, como se aquelas pessoas fossem reses para o abate.
Sete iraquianos desabaram mortos no chão, com os corpos perfurados de bala. O repórter Namir Noor Eldeen, da agência de notícias Routers, e seu motorista, Said Chmag, estavam no local fazendo uma matéria e foram atingidos pelos disparos.
Se o grupo radical Estado Islâmico não tinha razões para atacar o Brasil, após a ação destrambelhada do governo Temer passou a ter. Simpatizantes do grupo e do islamismo foram tratados de uma forma que pode estimular fanáticos a retaliarem o Brasil. A decisão do governo Temer comprou uma briga que não era nossa.
PS: se tivéssemos um governo com cérebro, ele exortaria o Estado Islâmico a não praticar atos contra o Brasil, pois não nos metemos nos conflitos no Oriente Médio.