Cunha tem razão: sua cassação fortalecerá a tese do golpe
A pouco menos de duas horas da sessão marcada para votar a cassação de Eduardo Cunha, só metade dos deputados federais estava na Câmara dos Deputados, apesar da “garantia” do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de que a sessão teria “pelo menos 400 deputados”. É nesse momento que este texto foi escrito.
O ex-presidente da Câmara que se supõe que está prestes a ter seu mandato parlamentar cassado é o mesmo que detonou o processo de impeachment de Dilma Rousseff ao mesmo tempo em que se tornava réu no inquérito do petrolão.
Eduardo Cunha disse no domingo que caso seus colegas cassem seu mandato estarão fortalecendo o discurso de que a queda de Dilma Rousseff foi golpe:
“Os defensores do PT querem a minha cabeça para ter o troféu. O discurso do golpe precisa da minha cassação. Isso é o que vai turbinar o PT para 2018”, afirma Cunha.
Este blogueiro concorda ipsis-litteris com esse sujeito; a cassação do mandato dele por atos de corrupção mostra, escancaradamente, que o processo contra Dilma – que não é ré em processo por corrupção algum – deixa claro que ela foi vítima de um ato de bandidagem da Câmara dos Deputados
Cunha é esperto. Ele sabe muito bem que o reforço à tese de golpe contra Dilma condena oficiosamente a maioria absoluta da Câmara dos Deputados, que votou pela abertura do processo no Senado.
Contudo, os parlamentares golpistas sabem muito bem que só vai chegar a essa conclusão quem for politizado e lúcido, o que não é o caso da maioria esmagadora da população, que pouco ou nada se informa sob política e vem raciocinando com o fígado.
E Cunha também está certo quando diz que a tese do golpe vai “turbinar” o PT (e Lula) em 2018. Simplesmente porque, é quase inevitável, Temer vai governar até lá e, de braços dados com a tucanada privateira, irá massacrar o trabalhador e a maioria pobre da população brasileira, de modo que, daqui a dois anos, o povo vai estar implorando a volta de Lula ou, na falta dele, de alguém que ele indicar.
Claro que a elite reacionária de extrema-direita espera que Sergio Moro a salve de Lula, mas prender um político que desfruta de tanto apoio popular com base em acusações sem provas poderá, no máximo, fazer de Lula um mártir com poder para eleger mais um “poste”.
Quando este texto estiver sendo lido após a votação da cassação de Cunha, será bom lembrar que a perda de seu mandato sempre esteve cercada de dúvidas, mas que não cassá-lo também reforçaria a tese do golpe, pois lá adiante ele será cassado pelo Supremo e ficará claro que quem preservou seu mandato também estava envolvido nas suas maracutaias.
Quando a votação da perda de mandato de Cunha tiver chegado ao final, o resultado decorrerá dos cálculos políticos contidos no parágrafo anterior aliados à grande incógnita da equação: se os deputados comparecerão ao Plenário na 2ª feira.
Cunha está certo quanto ao fato de que sua cassação reforça a tese do golpe, mas deixou de considerar que sua absolvição também reforça, pois quando a Justiça cassar seu mandato ficará comprovado que a maioria dos deputados votou a favor do impeachment por ser composta por seus comparsas.