Afaste-se de quem pensa como o assassino de Campinas
Como todos sabem, Sidnei Ramis de Araujo matou 12 pessoas na “virada” de 2016 para 2017, em Campinas, e deixou uma carta na qual debochava do conceito de Direitos Humanos, entre outras sandices. E mostrou machismo e discurso identificado com o dos movimentos que saíram às ruas nos últimos anos pedindo a queda de Dilma Rousseff
Vamos relembrar o que ele pregou no que parecia um documento destinado às massas, não ao filho de oito anos, como alegou no texto. O assassino disse que, ao ir para a cadeia, teria benefícios como comida, moradia e não precisaria trabalhar. “Vou ter representantes dos Direitos Humanos puxando o meu saco”, escreveu.
O homem também criticou o ministro do STF Ricardo Lewandowski, a quem chamou de “lixo”, e a ex-presidente Dilma Roussef, a quem chamou de “vadia”.
A visão do assassino é a mesma divulgada na televisão e em redes sociais por grupos de extrema direita, pela bancada da bala, inclusive por parlamentares que tentam implantar e legalizar um clima de terror no país.
Em trecho da carta, o sujeito diz: “Família de policial morto não recebe tantos benefícios como as famílias de presos. Cadê os ordinários dos direitos humanos? Paizeco de bosta”.
Na carta, ataca mulheres apesar de dizer que “não é” machista e proferir coisas como “a vadia foi ardilosa e inspirou outras vadias a fazer o mesmo com os filhos, agora os pais é que irão se inspirar e acabar com as famílias das vadias. As mulheres sim têm medo de morrer com pouca idade”.
O sujeito ainda ataca a Lei Maria da Penha, que protege as mulheres: “Lei vadia da Penha”.
O assassino portava dez artefatos explosivos. Sidnei Ramis de Araújo, de 46 anos, invadiu a casa no Jardim Aurélia, em Campinas, com os artefatos, um canivete e uma pistola nove milímetros. Foi com a pistola que matou a ex-mulher, o filho, de 8 anos, e outras dez pessoas.
Como bom extremista de direita, praticou horror infindável em nome da ‘família’ e da “justiça”, assim como a ditadura militar torturou, estuprou e assassinou até crianças e mulheres grávidas em nome da “democracia”, “da família”, de “Deus”.
Diante de ato tão radical, tão intolerante, tão desumano, convém não radicalizar. Porém, muitas vezes não radicalizar é não insistir em ficar próximo a pessoas que oferecem perigo a si e aos outros.
Ora, o assassino de Campinas debochou de direitos humanos – um ato incompreensível para quem é humano –, atacou Dilma Rousseff, atacou Ricardo Lewandowski, tratou TODAS as mulheres como “vadias”.
Por qualquer critério que se use, o assassino de Campinas é um radical de direita que repete, ipsis-litteris, teses acalentadas pelos Bolsonaros da vida e por hordas de radicais de direita que invadiram as redes sociais e as ruas nos últimos anos, com vistas a substituir um governo que privilegiava justamente o social, os direitos humanos e as mulheres.
É desnecessário dizer o óbvio. A guerra ideológica insana desencadeada pela imprensa corporativa desde que Lula chegou ao poder, em 2002, começa a surtir efeitos. Colunistas de direita como Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Augusto Nunes e outros menos explícitos mas igualmente reacionários dizem exatamente as mesmas coisas que o assassino de Campinas e fizeram a cabeça dos Sidneis deste país.
Na política, o exemplo mais extremado é Jair Bolsonaro, que deu exemplo a gente como o assassino de Campinas ao debochar de direitos humanos, de mulheres (inclusive colegas na Câmara dos Deputados), de homossexuais, de programas sociais etc.
Desse modo, chegou a hora de uma decisão que, ao contrário de radical, é sensata, como ficará demostrado a seguir.
Todos temos pessoas como o assassino de Campinas no entorno de nossas vidas, ao menos do ponto de vista das ideias que professam. São amigos, parentes, colegas de trabalho, vizinhos, meros conhecidos… Assusta a similitude do discurso político dessas pessoas com o do assassino.
Quantas pessoas que nada tinham que ver com a divergência entre Sidnei Araújo e a sua esposa foram mortas simplesmente por integrar o círculo de relações sociais dele? Quantas vidas não teriam sido salvas se as pessoas sensatas tivessem pensado lá atrás que gente que prega contra direitos humanos, por exemplo, é gente com problemas mentais sérios.
Quão perturbado alguém tem que ser para achar que o melhor caminho para combater o crime é ser desumano com quem comete crimes?
Torturas, cárceres desumanos e pena de morte sem julgamento é o que pedem os inimigos dos direitos humanos. Você não tem medo de ficar perto de gente assim? Eu tenho…
E as mulheres? Todas “vadias”? Quantas pessoas de direita se referem assim a mulheres publicamente? Há, inclusive, mulheres que não têm o menor problema em qualificar outras mulheres dessa forma inacreditável.
Quão sem caráter alguém tem que ser para odiar a terra em que nasceu? Quão sem caráter e perturbado alguém tem que ser para só enxergar corrupção em um único partido enquanto contemporiza com a corrupção em geral?
Essas pessoas são impiedosas. Não querem que os desvalidos recebam ajuda do Estado via políticas públicas, não enxergam que a diferença de oportunidades (nascer pobre, nascer rico) é o que impede que pobres subam na vida. E querem se beneficiar da injustiça econômica, social e profissionalmente.
Gente assim não presta, caro leitor. É gente perigosa, é gente capaz de qualquer maldade, é gente que, por você discordar dela, vai odiá-lo a um ponto imprevisível. Por uma simples antipatia, alguém assim pode envenená-lo ou coisa pior.
Dirão que muita gente que profere essas asneiras políticas não sabe o que está dizendo, apenas repete o que, hoje em dia, muitos dizem. E não faz reflexão. Mas, convenhamos, com as redes sociais, com as novas tecnologias, ninguém fica “a salvo” das duas ou mais versões sobre qualquer fato.
Não acredito mais que alguém seja extremista de direita por “inocência”. Não acredito mais que alguém acredite na mídia tucana, em seus colunistas, nos Bolsonaros da vida por não saber do contraponto às opiniões pervertidas deles.
Isso é sem-vergonhice. Quem aceita essas ideias imorais sobre direitos humanos, sobre o social, sobre os gêneros, as etnias e as orientações sexuais é porque não presta mesmo. Desse modo, estou decidido a cortar gente assim da minha vida. Se não for possível fazer essas pessoas refletirem, vou me afastar.
Sugiro a você, leitor, que reflita muito sobre isso. Quem garante que aquele cunhado radical de direita um dia não vai pirar e sair dando tiro em todo mundo? O assassino de Campinas é cópia de muitas pessoas que temos no nosso entorno social e profissional e, agora, todos sabemos do que essas pessoas são capazes…