Pelo Brasil, Ciro Gomes precisa pensar antes de falar

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Corre solta polêmica boba que causou grande mal-estar em relação a Ciro Gomes por conta de mais uma das frases que ele vive soltando e que dão margem a antipetismo, machismo e tudo de ruim que vem assolando o país depois que junho de 2013 tirou a extrema-direita do armário.

Ciro Gomes é um homem público respeitável. Vida limpa, conhecedor como poucos de economia e dos problemas do Brasil e poderia, sim, vir a ser um bom presidente caso se abrisse mais ao diálogo e se repensasse seu modo de ser.

Em 2002, Ciro começou a ter chances eleitorais, mas despencou nas pesquisas após uma série de erros primários.

Naquele ano, foi chamado de “destemperado” por um ouvinte durante um programa de rádio e reagiu comprovando a crítica chamando o ouvinte de “burro” e “petista furibundo”.

Ainda naquele ano, outra frase impensada derrubou suas intenções de voto e o tirou definitivamente da corrida eleitoral; disse que a principal função de Patrícia Pillar, então sua esposa, era dormir consigo.

Recentemente, Ciro acusou Lula de “insultar a inteligência do povo brasileiro” ao manter “essa narrativa de perseguição política”. Depois tentou se explicar, mudou o discurso, mas o estrago estava feito.

Agora, surge nova polêmica com potencial para desidratar Ciro antes mesmo de sequer chegarmos ao ano eleitoral de 2018.

A Folha de São Paulo publicou matéria sobre declaração de Ciro sobre Marina Silva que fica difícil não interpretar como machismo. Apesar das acusações dele mesmo à Folha de ter manipulado suas palavras, o que ele disse permite, sim, um entendimento pouco abonador para si.

Palavras de Ciro:

“Não tô vendo a Marina com apetite de ser candidata, ou então é uma tática extraordinariamente nova que nunca vi na minha vida pública, que é o negócio de jogar parado. Não vejo ela com energia, e o momento é muito de testosterona. Não elogio isso. É mau para o Brasil, mas é um momento muito agressivo e ela tem uma psicologia avessa a isso. Não sei, eu tô achando que ela não é candidata.”

Afinal, Ciro foi machista ou não? Para a ex-candidata a presidente pelo PSOL Luciana Genro, foi. E esse entendimento protagonizou um grande quiproquó entre os dois.

Os militantes pró Ciro estão em campo tentando convencer as pessoas de que ele não disse o que disse, mas a própria história desse político sério, porém inábil com as palavras, mostra que ele foi extremamente descuidado em mais uma das suas muitas declarações desastradas.

Ciro defendeu a testosterona na política? Não. Pelo contrário, disse que “não apoia isso”. Mas, para ele, combatividade na política é “testosterona”. Isso ele disse.

O que é testosterona? A definição correta, segundo o Houaiss, é “hormônio esteroide androgênio encontrado em maior quantidade nos homens do que nas mulheres”, que, por isso, é qualificado como “hormônio masculino”, enquanto que o considerado “hormônio feminino” é a progesterona.

É óbvio que Ciro Gomes não via Patrícia Pilar como tendo a finalidade em sua vida de apenas dormir consigo, Ciro também defendeu Lula muitas vezes e o contexto de suas críticas a ele não é bem esse, mas palavras, caro leitor, são como pasta de dente: uma vez fora do tubo, não podem ser colocadas de volta no lugar de onde saíram.

Uma imagem vale mais do que mil palavras. Se o hormônio testosterona é visto (erroneamente) como “o hormônio masculino”, ao escolher esse termo Ciro sugeriu que é necessário ser homem para enfrentar um momento como o que vive o país.

Ciro poderia ter usado “combatividade” em lugar de “testosterona”. Ao usar essa imagem, reforçou o estereótipo de “machista” que o persegue há tanto tempo.

O Brasil precisa de Ciro Gomes, ou de políticos como Ciro Gomes. Se não for para esta eleição, talvez para a próxima. Mas Ciro não avança na política, apesar de ter governado o Ceará. E não avança porque não pensa antes de abrir a boca. É muito impulsivo.

O Blog da Cidadania, porém, não apoia que massacrem o pedetista por essa frase infeliz. Luciana Genro foi oportunista. Fez escarcéu por uma frase que poderia ter sido relativizada, apesar de imprópria. Ela agiu como a Folha, que deu destaque à frase de Ciro para prejudica-lo politicamente.

Quem apoia o Ciro não deve combater quem o alerta. Fará melhor por ele se o convencer a não dizer uma palavra sem antes refletir não só sobre seu sentido, mas sobre que margem dará à exploração política, tão farta em períodos eleitorais e que, em 2018, chegará ao paroxismo.

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