Lava Jato foi acusada de extorquir delatores!

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Em agosto deste ano, matéria da Folha de SP causou grande alvoroço ao noticiar que o ex-advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Duran estava acusando o juiz Sergio Moro e a força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público de venderem “facilidades” a candidatos a fazer delação premiada.

O advogado Rodrigo Tacla Duran, que trabalhou para a Odebrecht de 2011 a 2016, acusou o advogado trabalhista Carlos Zucolotto Junior, amigo e padrinho de casamento do juiz Sergio Moro, de intermediar negociações paralelas dele com a força-tarefa da Operação Lava Jato.

Tacla Duran informou que a mulher de Moro, Rosangela, fora sócia do escritório de Zucolotto, que também é defensor do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima em ação trabalhista que corre no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

As conversas de Zucolotto com Tacla Duran envolveriam abrandamento de pena e diminuição da multa que o ex-advogado da Odebrecht deveria pagar em um acordo de delação premiada. Em troca, segundo Duran, Zucolotto seria pago por meio de caixa dois.

O dinheiro serviria para “cuidar” das pessoas que o ajudariam na negociação, segundo correspondência entre os dois que o ex-advogado da Odebrecht disse à época que teria em seus arquivos.

Os procuradores citados por Tacla Duran afirmaram que nem sequer conhecem o advogado amigo de Moro. O juiz disse que Zucolotto é “sério e competente” e afirmou ser “lamentável que a palavra de um acusado foragido da Justiça brasileira [Tacla Duran] fosse utilizada para levantar suspeitas infundadas sobre a atuação da Justiça”.

Na verdade, a fala de Moro encerra um grande absurdo. As suspeitas não foram levantadas contra a Justiça e, sim, contra membros da Justiça. A afirmação de Moro equivale a dizer que a Lava Jato levanta suspeitas contra o Congresso Nacional, quando, na verdade, a Operação investiga parlamentares e não o Congresso.

Tacla Duran foi acusado de lavagem de dinheiro e de formação de organização criminosa pelo Ministério Público Federal e tentou fazer delação premiada, mas as negociações fracassaram ele teve a prisão decretada por Moro, mas como é cidadão espanhol ficou naquele país e não se apresentou à Justiça brasileira.

O Brasil pediu a sua extradição, mas a Espanha negou.

Desde então, Tacla Duran vem dando entrevistas com acusações à Lava Jato e à Odebrecht. Ele diz que a empreiteira fraudou documentos apresentados em seu acordo de delação premiada e que os procuradores da Lava Jato sabiam disso e aceitaram os documentos fraudados.

Mas o pior é que Duran afirma que tratou das investigações da Lava Jato com Zucolotto, amigo de Moro, que, então, iniciou uma negociação paralela entrando por um caminho que o espantou, tentando vender facilidades em nome de Moro e do MPF.

Duran colocou Moro na incômoda situação de ficar impedido de julgar e deliberar sobre o seu caso e também expôs os procuradores da força-tarefa de Curitiba.

Zucolotto teria exigido que condição para o acordo era ele mesmo não aparecer na linha de frente. Revelou ter bons contatos na força-tarefa e poderia trabalhar nos bastidores”.

Antes que Zucolotto entrasse no circuito, segundo Duran, o procurador Roberson Pozzobon teria proposto que pagasse uma multa de US$ 15 milhões. Ele teria recebido a proposta no dia 27 de maio de 2016, uma sexta-feira. Teria que voltar ao Brasil três dias depois, para assinar o acordo.

“Sozinho na minha casa na Flórida, pensei muito sobre isso e decidi que não assinaria nem voltaria ao Brasil”, afirma Duran. Ele diz ter enviado um advogado para representá-lo na reunião. “Ao serem informados da minha recusa em admitir crimes que não cometera, os procuradores de Curitiba não quiseram mais conversa e encerraram as negociações”, diz.

“Foi nosso último contato”, afirma Duran.

O juiz Sergio Moro, à época, saiu em defesa do advogado Carlos Zucolotto Junior e disse, por meio de nota, ser “lamentável que a palavra de um acusado foragido da Justiça brasileira seja utilizada para levantar suspeitas infundadas sobre a atuação da Justiça”.

Moro não deixou o amigo e sócio de sua mulher se manifestar à imprensa. Falou por ele: “O sr. Carlos Zucolotto é pessoa conhecida do juiz titular da 13ª Vara Federal [o próprio Moro] e é um profissional sério e competente”, afirmou o magistrado. “O sr. Carlos Zucolotto atua na área trabalhista e jamais advogou em matéria criminal”, disse o juiz.

Moro afirmou ainda que sua mulher, Rosangela, participou “de uma sociedade de advogados” com Zucolotto, mas “sem comunhão de trabalho ou de honorários”. Segundo ele, Rosangela “jamais trabalhou em processos do escritório do sr. Carlos Zucolotto e vice-versa”.

“Depois de fazer suas sondagens, Zucolotto teria conversado com o ex-advogado da Odebrecht. Na suposta correspondência, teria dito que o MPF teria “como melhorar a proposta de delação” para si e que seu “contato” conseguiria “que DD [Deltan Dallagnol]” entrasse na negociação.

Segundo Duran, a ideia de Zucolotto era alterar o regime de prisão de fechado para domiciliar e diminuir a multa para um terço do valor, ou seja, de US$ 15 milhões para US$ 5 milhões. “E você paga mais um terço de honorários para poder resolver isso, me entende?”, teria escrito Zucolotto,

Duran diz então que, “de fato, os procuradores Julio Noronha e Roberson Pozzobon enviaram por e-mail uma minuta de acordo de colaboração com as condições alteradas conforme o que Zucolotto havia indicado em suas mensagens”.

A própria Lava Jato não tomou medida alguma em relação a essas denúncias. Apenas tratou de desqualifica-las sem mostrar qualquer interesse em investigar. Claramente, a Lava Jato não admite que seus membros possam ser investigados ante uma acusação de que se corromperam.

Faltou, porém, combinar com os russos. Os deputados Paulo Pimenta (PT-RS) e Wadih Damous (PT-RJ), membros da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da JBS, obtiveram apoio dos outros membros para irem até a Espanha, em nome do Legislativo brasileiro, interrogar Tacla Duran.

Em mais de uma hora de conversa (gravada) com os parlamentares, Tacla Duran entregou documentos que mostram, por exemplo, que uma mesma conta bancária citada por delatores diferentes em processos diferentes, no mesmo período, tem saldos negativos e positivos, ou seja, foi falsificada em algum dos dois processos com a anuência dos investigadores do MPF.

Mas não é só. Moro diz que o amigo Zucolotto nunca trabalhou com Direito criminal e, sim, apenas com Direito trabalhista. Duran disse aos deputados em tela que, no portfólio do escritório de Zucolotto, constam atuações na área criminal.

Outra coisa que foi apurada é que há dois anos, pelo menos, a força tarefa da Lava-Jato em Curitiba sabia que o escritório de advocacia Zucoloto, do qual Rosângela Moro, esposa do juiz, foi sócia, era correspondente na cidade paranaense do escritório de Duran.

Essa informação consta na resposta enviada pela Receita Federal ocultada dos autos pelo Ministério Público. Nela, aparece relação de valores recebidos pela mulheres de Moro, apesar de ela, através do marido, negar que tinha recebido dinheiro de Tacla Duran

 

Duran entregou montes de documentos aos deputados e deu detalhes em mais de 60 minutos de conversa gravada. Inclusive recibos de depósito na conta da mulher de Moro e, mais do que isso, troca de e-mails que comprometem Zucolotto, amigo de Moro, e vários procuradores da Lava Jato.

Tudo isso está na mão da CPMI que mandou os dois parlamentares à Espanha para ouvirem denúncias das quais a Lava Jato não quer nem ouvir falar, enquanto tenta encerrar investigação sobre o assunto com base na tese de que Moro e os procuradores estão acima de investigações e suspeitas.

Moro e os procuradores podem dizer o que quiserem, mas a grande ironia é que gente que usou depoimentos de bandidos para acusar pessoas honestas como Lula podem cair por conta de depoimentos de outros bandidos. Isso, sim, que é ironia poética.

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Ouça, no vídeo abaixo, trecho do depoimento de Tacla Duran aos deputados Paulo Pimenta e Wadih Damous