Folha diz que você não curte privatizações por não saber o que são

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A tese é louca. Segundo editorial da Folha de São Paulo publicado nesta sexta-feira, a avassaladora maioria de 70% dos brasileiros que, em pesquisa ao instituto Datafolha, disse que rejeita privatizações é uma maioria composta por gente mentalmente doente ou patologicamente idiota porque não gosta de privatizações simplesmente por não saber o que são.

Ao contrário do que diz a Folha, porém, os brasileiros não gostam de privatizações não é por não saber o que são, mas por saber bem demais o que são, já que, no fim do século XX, o governo Fernando Henrique Cardoso conduziu um dos maiores processos de venda de patrimônio público do mundo, privatizando, por exemplo, o gigantesco sistema Telebras.

Por míseros R$ 22,058 bilhões, quando, na estimativa mais conservadora, as ações da Telebras em poder da União valiam mais de cem bilhões de reais.

Mas, seja como for, os brasileiros não gostam das privatizações não é por não saberem o que são, mas por saberem bem demais. Convivemos com ela todos os dias, seja na telefonia, seja no fornecimento de energia elétrica etc., etc.

Reportagem da Agência Brasil feita já sob o regime privatista de Michel Temer, no início deste ano, mostra que as operadoras de telefonia, produtos da privataria tucana, seguem liderando o ranking de reclamações ao Procon, com abusos seguidos contra o consumidor.

As operadoras de telefonia celular Claro, Vivo e TIM ocuparam o topo do ranking de reclamações da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-SP) em 2016. O levantamento foi divulgado pela entidade e lista empresas e setores que mais tiveram registros de reclamação no estado.

 

Sempre que você fala isso, aparece aquele discurso caduco de que se não fosse a privataria você até hoje teria que pagar 5 mil reais por uma linha telefônica. Quando ouvir essa bobagem, responda que o que barateou a telefonia brasileira não foi a privatização, mas a tecnologia. Se a telefonia fosse estatal teríamos hoje, no mínimo, um serviço igual, mas, pelo menos, a empresa seria do povo e geraria dividendos para o povo.

A Folha de São Paulo está mantendo estrito controle sobre os posicionamentos a respeito da pesquisa que publicou sabe-se lá como, porque, em seguida à publicação, passou a impedir manifestações nas suas páginas para não ter que só permitir manifestações que condizem com a sua visão.

A interdição desse debate é a maior prova de como as privatizações são envoltas em picaretagem. Um debate livre desmascararia os privatistas e talvez pudesse até resultar em abertura de investigações sobre a privataria tucana, seguramente o maior saque ao patrimônio público da história brasileira.

Leia esse lixo de editorial, leitor, e veja como são frágeis os argumentos pró privataria.

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FOLHA DE SÃO PAULO

29 de dezembro d e 2017

Tabu estatal

A defesa da presença forte do Estado na economia é um traço do ideário brasileiro que transcende a tradicional dicotomia direita-esquerda. Note-se, por exemplo, que a criação de empresas estatais ganhou impulso em momentos tão diferentes quanto o derradeiro governo de Getúlio Vargas (1951-54) e a ditadura militar (1964-85).

Não chega a espantar, assim, a opinião nacional majoritariamente hostil a privatizações, apurada pelo Datafolha entre eleitores das mais variadas preferências.

Rejeitam a ideia 58% dos que declaram intenção de voto presidencial em Jair Bolsonaro (PSC), um apologista do regime autoritário; o índice chega aos 80% no grupo que prefere reconduzir ao Planalto Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cujo partido abraça a defesa das estatais com ardor sindicalista.

No país como um todo, 70% se dizem contrários à venda das empresas, e 20%, favoráveis —o restante se declarou indiferente ou não respondeu. As cifras são quase idênticas quando se apresenta a hipótese de negociar a Petrobras.

Parece plausível que os percentuais sofram alguma influência da rejeição esmagadora ao governo Michel Temer (PMDB). Em março de 2015, quando a gestão petista era assolada pelos escândalos de corrupção na petroleira, 61% se opunham a sua privatização, então apoiada por 24%.

Tal proposta, diga-se, não estava nem está em pauta. Apenas se retomou, neste momento de colapso orçamentário, o debate em torno do processo de desestatização, abafado nos últimos anos por um misto de propaganda obscurantista e oportunismo das forças que vicejam no Leviatã brasileiro.

Fala-se aqui de 149 empresas só no âmbito federal —de bancos e energéticas a uma fábrica inconclusa de hemoderivados e uma emissora de TV de audiência próxima de zero; nas quais se encontram casos de atuação relevante e de mera fonte de verbas e empregos para grupos políticos.

Os benefícios proporcionados por esse aparato são palpáveis para quem os recebe; os custos, diluídos entre todos os cidadãos, costumam passar despercebidos.

A repulsa à venda de estatais cai conforme crescem a escolaridade e a renda dos entrevistados, num sinal de que o acesso à informação importa. Há um trabalho de esclarecimento a ser feito, não em favor da privatização generalizada, mas para que o tema deixe de ser tabu.

A agenda precisa contemplar ainda o aprimoramento do ambiente empresarial do país, em muitos setores ineficiente e dependente dos favores do Estado —a reforçar, possivelmente, a desconfiança dos brasileiros quanto à administração privada da economia.

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