Candidato de Lula e Bolsonaro estarão no 2º turno
Este texto se dedicará à análise do quadro político brasileiro à luz do aumento do cerco ao ex-presidente Lula após a decisão vergonhosa – e previsível – do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que se eximiu de conceder um habeas corpus para o qual o ex-presidente preenche todos os requisitos – bons antecedentes criminais, atendimento das determinações da Justiça, idade avançada…
Mas, antes, há que fazer um comentário sobre a forma de encarar tal situação.
É imperativo ser contrário à “naturalização” da prisão de Lula. No momento em que passarmos a admitir a hipótese de que o ex-presidente seja encarcerado sob as “razões” assacadas contra si, admitiremos que não existe mais condição de fazer política pelas vias normais neste país.
Estaremos vivendo sob um regime de exceção e nada do que for feito pelo Estado brasileiro continuará sendo legítimo, pois viveremos sob um poder de Estado despótico, antidemocrático e ilegal.
Dito isso, há que analisar o que será do quadro eleitoral brasileiro em caso de uma eventual prisão de Lula – que alguns já dão como favas contadas, mas que não é bem assim.
A saída de Lula da corrida eleitoral rearranja o cenário político de uma forma extremamente benéfica a Bolsonaro porque o eleitor majoritário hoje, no Brasil, é o que deseja e exige ruptura com “tudo isso que está aí”.
Lula e Bolsonaro, em certa medida, são as duas faces da moeda da ruptura com o que o governo Temer representa em termos de piora da qualidade de vida no país. O governo Temer pendeu para o lado de Bolsonaro com a intervenção federal-militar no Rio de Janeiro e isso, a médio prazo, irá enfraquecer o candidato da extrema-direita porque logo as pessoas vão ver que truculência não é solução para a criminalidade e a violência.
Como já diziam os nossos avós, violência gera violência.
Antes de a “solução” violenta e autoritária no Rio produzir estragos, porém, há que ver que parte do eleitorado de Lula pode, sim, deixar-se seduzir pelo discurso de ódio bolsonariano. Não uma parcela muito grande, mas suficiente para garantir a ele presença no segundo turno inevitável que terá a eleição presidencial de 2018.
Do lado da esquerda, só acredita quem quer nas pesquisas sobre cenários sem Lula. Colocam Fernando Haddad, Manuela D’Ávila e Ciro Gomes nos formulários da pesquisa sem dizer ao entrevistado que Haddad, por exemplo, estaria na disputa como candidato de Lula.
Ou Manuela.
Ou Ciro Gomes.
É uma fraude não apresentar ao eleitor a opção de voto “candidato de Lula”. As perguntas sobre esse candidato são feitas isoladamente. Os institutos perguntam se o entrevistado votaria ou poderia votar no candidato de Lula e um percentual entre 25% e 45% dos entrevistados diz que votaria com certeza, ou poderia votar, nesse candidato.
Ou seja, de saída o candidato que será indicado por Lula – se ele não puder mesmo concorrer, porque isso ainda não é certeza – já é o mais forte, tendo garantida, em tese, a segunda vaga no segundo turno da eleição presidencial de 2018.
A aposta da mídia antipetista é a de que, ao lado da república de Curitiba e do PSDB, conseguirá vitaminar Geraldo Alckmin. Porém, essa aposta está cada dia mais fraca. Porque o eleitorado do PSDB, em todas as eleições desde 1994, é um eleitorado que tem, em maioria, muito mais afinidade com um Jair Bolsonaro, com um candidato do arbítrio, da violência policial, da homofobia, da xenofobia, do machismo, do fundamentalismo religioso.
O candidato de Lula, porém, ganhará um impulso adicional com uma eventual prisão do ex-presidente.
A mídia e o partido do Judiciário simplesmente se recusam a admitir que Lula não está perdendo aprovação, está ganhando. E vai ganhar mais ainda quando o desejo de votar nele se transformar em indignação.
Se você é antipetista, mas não é burro, vai dar razão ao que vou dizer agora: cada eleitor de Lula que está ficando ao lado dele nas pesquisas apesar do massacre jurídico-midiático que ele vem sofrendo não aceita as tais “provas indiciárias” contra ele, ou seja, não aceita que o ex-presidente seja encarcerado com base em “convicções” e “versões” que a Lava Jato chamou de “indícios”.
Ah, mas as pesquisas Datafolha e CNT/MDA dizem que a maioria quer Lula preso. Mesmo se fosse verdade, porque há pesquisas dizendo que a maioria é contra a prisão de Lula (Vox Populi), o fato é que essa “maioria” não se traduz em votos.
Lula é o candidato que traduz e catalisa melhor em votos o sentimento da população. Quem gosta da pesquisa MDA publicada na terça-feira 6 deve notar que ela coloca Lula como o candidato menos rejeitado entre todos, apesar de conter a informação de que 52% querem sua prisão contra 37% que não querem.
A prisão de Lula seria um fator de desequilíbrio da disputa eleitoral. A ascensão de Bolsonaro irá fazer a esquerda se unir em torno do candidato esquerdista mais forte e com mais chances, que, devido aos fatores supra elencados, será o candidato de Lula.
A indignação do eleitor de Lula, se ele for preso, fará esse eleitor querer votar em quem seu candidato impedido indicar – só não entende isso quem não viu pessoas simples do povo dizendo que querem cumprir a pena de Lula no lugar dele.
Mas, enfim, os planos dos golpistas estão fazendo água. Conseguiram uma reforma trabalhista que já está empobrecendo duramente o eleitorado. Os demitidos ou os que forem contratados sob as novas regras vão piorar muito de vida e cedo ou tarde vão entender que a reforma trabalhista adotada após a derrubada de Dilma é a culpada.
Alguns, um pouco mais informados, vão ser capazes de mensurar o efeito do teto de gastos públicos sobre a população majoritária no país, a remediada ou pobre.
Nem vamos falar do aumento da miséria e da fome, porque esse capítulo daria um livro.
Assim sendo, o que este blogueiro acha é que os golpistas deram um tiro no pé indo tão longe para prender Lula. Alguns dizem que só querem a imagem de Lula preso para usarem na eleição e depois o soltam. Pois eu acho que é essa imagem que fará com que o ex-presidente tenha influência ainda maior sobre a eleição de 2018.
Quem está dizendo o que você acaba de ler é alguém que previu o golpe de 2016 com uma década de antecedência e que, nos anos seguintes, continuou falando que o risco de golpe estava aumentando, até que, em 2013, descreveu como o golpe seria – Temer trairia Dilma e promoveria o impeachment dela para tomar seu cargo.
Alguém que era criticado por falar insistentemente em golpe…
Só isso.