Datafolha diz que maioria não acreditou em calúnias sobre Marielle
FOLHA DE SÃO PAULO
Maioria recebeu notícia falsa sobre Marielle mas não acredita no que leu
Cariocas se dividem sobre trabalho policial para esclarecer mortes de Marielle e do motorista
As notícias falsas que circularam em aplicativos de mensagens e redes sociais sobre a vereadora Marielle Franco (PSOL), 38, morta a tiros no último dia 14, chegaram à maioria dos moradores da cidade do Rio de Janeiro.
No entanto, a maior parte das pessoas que leram essas notícias ou assistiram a esses vídeos conseguiu identificar que se tratavam de informações falsas.
Isso é o que revela pesquisa Datafolha realizada nos últimos dias na cidade em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
No mesmo levantamento, o instituto mapear a opinião dos cariocas sobre a intervenção federal na segurança pública do estado e o grau de sensação de insegurança na cidade —bem como os atuais índices de popularidade do prefeito Marcelo Crivella (PRB) e do governador Luiz Fernando Pezão.
A maioria leu ou assistiu algo relacionado às quatro primeiras, justamente aquelas de conteúdo fictício. Sobre essas, a maior parte respondeu que o conteúdo era falso.
“Marielle foi casada com o traficante Marcinho VP”, por exemplo, foi a notícia mais conhecida, por 60% dos entrevistados —45% deles a avaliaram como falsa e 6%, como verdadeira.
Dentre as cinco afirmações no questionário do Datafolha, a única à qual a maioria não teve acesso foi a de que “Marielle ajudava famílias de policiais mortos”.
Sobre essa, a única que de fato procedia, 40% dizem ter conhecimento —desses, 27% a consideram verdadeira, e 8%, como notícia falsa.
A ação foi movida a pedido da irmã de Marielle, Anielle Silva dos Reis Barboza, e da namorada da vereadora, Mônica Azeredo Benício.
Na decisão, a juíza afirma que, “ao analisar os vídeos indicados, verifico que alguns deles, realmente, extrapolaram o que a Constituição fixou como limite ao direito de livremente se manifestar”.
“Tais vídeos e áudios fizeram referência direta a Marielle, apontando-a como vinculada a facções criminosas e tráfico ou imputações maliciosas sobre as suas bandeiras políticas, como o aborto, fatos que podem caracterizar violação à honra e à imagem da falecida e que certamente causam desconforto e angústia a seus familiares”, completa.
Dois casos de distribuição de notícias falsas tiveram ampla repercussão na última semana. A desembargadora Marília Castro Neves, do Rio, por exemplo, escreveu em rede social que a vereadora “estava engajada com bandidos”.
Afirmou ainda que o “comportamento” dela, “ditado por seu engajamento político”, foi determinante para a morte, e que há uma tentativa da esquerda de “agregar valor a um cadáver tão comum quanto qualquer outro”.
Já o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) publicou um post no qual acusava Marielle de ter sido eleita com a ajuda da facção Comando Vermelho e de ter sido casada com Marcinho VP.
INVESTIGAÇÃO
Seis em cada dez moradores do Rio acham que os responsáveis pelo assassinato da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes, serão presos. Outros 31% acreditam que eles não serão presos –os mais jovens são os mais pessimistas (43%).
Entre os que acreditam na prisão, 41% acham que ela deve levar algum tempo, e 19%, que virá em pouco tempo.
A população parece estar dividida sobre a qualidade da investigação: 37% a aprovam, 34% a consideram regular, 17% a reprovam e 12% não opinaram. “Parece estar andando, mas tenho medo de que eles tentem proteger colegas, se descobrirem que policiais estavam envolvidos. Eles podem levar a investigação para onde querem. Temos que ficar em cima”, diz o estudante Gabriel Lopes, 21.