Sem votos, aliança entre Temer e Alckmin trava
A ameaça de um abraço de afogados na eleição deste ano parece recomendar uma aliança para unir o fragmentado grupo que assumiu o poder com Michel Temer (MDB).
A desconfiança recíproca entre os personagens desse consórcio, porém, tem bloqueado os canais para um pedido de socorro.
As incertezas da campanha consolidam dia a dia um tabuleiro eleitoral pulverizado, que amplia o risco de derrota do chamado centro político. Esse time foi relegado ao segundo pelotão da corrida e levou alguns atores a pregarem a antecipação de uma aliança que consideram inevitável.
Nenhum dos protagonistas do grupo, entretanto, admite falta de fôlego, porque não há uma boia de salvação aparente. O candidato que parecia ser o ponto de convergência, Geraldo Alckmin (PSDB), não consegue decolar nas pesquisas, e as demais opções dessa congregação têm desempenho ainda mais acanhado.
Some-se a isso o desgaste alimentado pelo jogo de conspirações e traições da política. Temer hesita em abrir negociações concretas com o tucano porque se considera traído pelo ex-governador paulista. O presidente atribui a Alckmin os votos que o PSDB deu para afastá-lo do poder nas duas denúncias votadas na Câmara.
A turma do MDB acredita que seria humilhada se decidisse abaixar a cabeça e oferecer seu apoio agora ao tucano, que tem apenas 8% das intenções de voto. Alckmin manteria seu tom crítico ao governo e, caso vitorioso, fecharia as portas do Palácio do Planalto para Temer e seus amigos a partir de 2019.
Por enquanto, o presidente ganha ao manter o quadro eleitoral fragmentado. Em julho, quando as chapas começarem a tomar forma, o valor do apoio do MDB pode ser mais alto e a oferta de Henrique Meirelles como candidato a vice parecerá mais sedutora.
Do lado dos tucanos, propostas de aproximação também ficam sob suspeita. Aliados de Alckmin acreditam que Temer trabalha para esvaziar o ex-governador paulista e forçar o PSDB a substituí-lo na eleição.
O escolhido seria o ex-prefeito paulistano João Doria, considerado mais amigável e disposto a abrir espaço em sua campanha para o grupo do presidente.
Outro motivo da resistência de Alckmin é o inegável peso de Temer na campanha. O tucano teria dificuldades se fosse forçado a fazer uma defesa enfática do governo atual e carregar as sucessivas acusações de corrupção que recaem sobre o presidente.
O PSDB e o MDB haviam selado uma aliança para a eleição no dia 12 de julho de 2016. Naquela ocasião, Temer e Aécio Neves (PSDB) acertaram com o DEM que a coalizão que encabeçou o impeachment de Dilma Rousseff deveria se unir para permanecer no poder em 2019.
Temer e Aécio foram triturados pela delação da JBS, e o acordo foi rasgado. Os termos mudaram e, até agora, ninguém se dispôs a fazer concessões para assinar um novo documento.
Por sobrevivência política, o “centro” pode se ver obrigado a abandonar as desconfianças e colar os fragmentos desse contrato. Alckmin ainda é o favorito para ser o representante desse ajuntamento remendado. Na medida em que a eleição se avizinha, o receio do fracasso pode contar a seu favor.
Com informações da Folha