A bajulação asquerosa de Nizan Guanaes a bilionários
Com a desculpa de relatar um não-assunto, sua chegada aos 60 anos, o publicitário proto tucano Nizan Guanaes escreveu uma bajulação asquerosa a bilionários, começando pelo defunto mais rico do país, Roberto Marinho
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Dia 9 de maio, eu faço 60 anos. É a idade em que o sujeito começa a repetir em festas, rodas de café e salas de dentista a psicanalítica frase: “Você sabia que Roberto Marinho começou a Rede Globo aos 60 anos?”.
É por isso que dedico a ele esta coluna de 60 anos. Roberto Marinho, seu Frias (o visionário publisher desta Folha), Abilio Diniz, Jorge Paulo Lemann, Jorge Gerdau são homens que não param quando o dinheiro não é mais problema. Eles seguem iluminando o caminho, e nós vamos seguindo atrás.
No dia 4 de novembro, aos 60 anos, eu vou correr a maratona de Nova York. O homem que atravessará a linha de chegada mais morto que vivo depois de mais de quatro horas de corrida é um ex-gordo de quase 200 quilos que está escrevendo um livro chamado “Fênix, Porque Tudo Acabou”. Não é um livro sobre mim, mas sobre reinvenção —tão necessária num mundo onde tudo acabou e onde todos nós, repito, todos nós precisamos nos reinventar.
Porque, eu não sei se já disse, o doutor Roberto Marinho fundou a Rede Globo aos 60 anos (kkk). E, para mim, a obra maior de doutor Roberto não é a Globo (essa obra colossal). Sua maior obra é ensinar os outros a seguir em frente após os 60.
Aliás, devo confessar que o doutor Roberto não me inspirou só profissionalmente, mas amorosamente também. Quando conheci Donata, disse a ela com a maior cara de pau que devíamos nos casar porque não devíamos esperar como o doutor Roberto esperou até bem tarde para se declarar ao seu antigo amor, dona Lily. Ou seja, o homem fundou a Globo aos 60 e redescobriu o amor depois dos 80. Eu mandava flores com cartões a Donata e assinava doutor Roberto.
Não parar de sonhar, não parar de amar, esse é o legado de Roberto Marinho e de tantos homens e mulheres pelo mundo todo que inventam e se reinventam sem olhar no relógio do tempo porque reinventam o relógio e o tempo.
No ano que vem, aos 61 anos, vou estudar em Harvard. Quero também cursar a Universidade Singularity, frequentar Davos e o DLD Innovation Festival de Tel Aviv, cheio de perguntas e repetindo, como Sócrates, que só sei que nada sei.
O homem que amanhã chega aos 60 anos não é bem um homem, mas uma errata. Uma vida iluminada por um monte de erros crassos reescrita a muitas mãos, onde são visíveis a caligrafia amada de Donata, os garranchos de meus médicos Roberto Kalil e Arthur Guerra e de tantas outras mãos que me deram a mão para eu chegar até aqui.
Vim comemorar meus 60 anos amanhã na ilha devastada e em reconstrução de Saint Barth. Quando escolhi o lugar, não percebi o significado da escolha. Passarei sem festa, com mulher e filhos a celebrar tranquilo nessa linda ilha, com suas praias azuis, suas rochas de Xangô e suas águas de Iemanjá.
Devastada pelo furacão Irma, ela renasce das cinzas como Fênix, como eu, que tantas vezes tive de me refazer.
Vivemos num século no qual as pessoas vão viver muito, mas muito mesmo. E precisam estar dispostas a se reinventar muitas vezes. Como Abilio, Jorge Paulo, seu Frias, Olavo Setúbal, Fernando Henrique, Luiza Trajano e Roberto Marinho nos diversos períodos de altos e baixos ao longo da longa vida.
São 60 anos. Seis anos sem minha mãe, 39 sem meu pai, décadas sem meu avô. Mas eles não morrem. E atravessarão comigo a reta de chegada da maratona com os meus pés congelados, os meus joelhos em frangalhos e a minha alma feliz. Para reafirmar, como disse Hemingway, que o homem pode até ser destruído, mas jamais vencido.