Governador filiado a partido “socialista” quer ser de direita
Orquídeas para a cabo que atirou num assaltante no Dia das Mães. Condolências a familiares de policiais que morrem em serviço. A defesa da farda como “extensão da bandeira paulista”.
Desde sua posse, em abril, o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), busca associar sua imagem à da Polícia Militar. O último gesto aconteceu no sábado (4), quando anunciou a coronel da PM Eliane Nikoluk (PR) como sua vice na convenção que oficializou sua candidatura à reeleição.
Na ocasião, ele defendeu que é preciso resgatar o respeito às autoridades no estado. “A Polícia Militar e a Polícia Civil são as autoridades. Não é correto deixar que eles se exponham”, disse França, que em seguida elogiou a atuação da PM Katia Sastre —a cabo que matou o assaltante no Dia das Mães e recebeu flores do governador.
Especialistas em segurança pública criticaram a atitude temendo que isso pudesse estimular a população a reagir a assaltos — o que a política não recomenda — ou que a corporação entendesse que o governo incentiva a morte de assaltantes.
“O que ela podia fazer? Ele que não devia ter tirado a arma”, ele afirmou, no sábado (4). “[Defender a policial] Não tem nada a ver com ser de esquerda ou de direita. Tem a ver com bom senso.”
Na semana passada, o governador foi ao enterro de um soldado que morreu num acidente de moto em perseguição policial. Encontrou o deputado federal Major Olímpio (PSL) no sepultamento, em São Paulo.
Nesse mesmo dia, França telefonou ao delegado regional de Santo André para cumprimentá-lo por uma apreensão de drogas que tinha visto na TV. O pessebista diz que faz isso para que os oficiais se sintam reconhecidos.
Em abril, o governador foi ao cemitério de Espírito Santo do Pinhal (a 191 km da capital) prestar homenagem à família de um cabo que também morreu num acidente durante uma perseguição.
Candidato ao Senado, Olímpio representa as polícias na Câmara e é presença frequente nas condolências a colegas mortos em serviço. Ele diz que não costumava encontrar governantes paulistas nos enterros e só soube de uma vez em que Geraldo Alckmin (PSDB) participou de um, em 2002.
Houve na campanha de França quem sugerisse indicar Olímpio para uma das vagas ao Senado na coligação do PSB. Afinal, o partidário de Jair Bolsonaro não se aliaria a um “Márcio Cuba”–como o adversário João Doria (PSDB) apelidou o governador.
A ideia não prosperou. Olímpio, no entanto, diz que vê o pessebista com “muita simpatia”. “Ele [o governador] sentiu que, se se aproximar, pode pegar uma fatia”, afirma Olímpio sobre os cerca de 172 mil policiais militares no estado, ativos e inativos.
A corporação, segundo ele, se sente desamparada pela falta de reajuste nos governos do PSDB. O deputado estadual Coronel Camilo (PSD), aliado de Doria, reconhece que a relação entre o governo e os policiais —assim como todo o funcionalismo no estado— andava mesmo esgarçada.
Camilo engrossa o coro dos que acham que, “neste momento, parece oportunismo” a aproximação com a categoria. “Por que ele não fez mais ações quando era vice-governador?”, indaga.
Segundo a assessoria de Alckmin, o tucano foi a cinco cerimônias fúnebres enquanto esteve no cargo —de 2001 a 2006 e, depois, de 2011 até abril deste ano, quando renunciou para concorrer à Presidência. “Não era prática do então governador avisar a imprensa para não gerar tumulto em momentos reservados e de sofrimento dos familiares dos policiais”, afirmou a equipe do tucano.
França costuma afirmar que seu maior adversário é o desconhecimento da população. Ele viu no episódio em que a policial atirou contra um assaltante uma chance de marcar posição e, ao mesmo tempo, divulgar a sua imagem.
Sua equipe relembra o episódio em um vídeo que circula entre apoiadores pelo WhatsApp. “Desde a minha posse, venho prestigiando a atitude de coragem de nossos policiais”, diz França para a câmera, na peça em que termina defendendo que “eles têm que ser bem remunerados e merecem nosso respeito”.