Sem conseguir alianças à direita, Marina critica Alckmin

Todos os posts, Últimas notícias

 

Em sua terceira tentativa de chegar ao Planalto, a pré-candidata da Rede, Marina Silva, nega que seu projeto político tenha fracassado e alfineta o adversário Geraldo Alckmin (PSDB): “Seria um fracasso se eu estivesse correndo agora atrás do centrão”.

“O eleitor passa a ser apenas um detalhe, tanto é que todo mundo fica dizendo que quem não tem esse tipo de aliança não tem viabilidade, não importa que o eleitor está dizendo que quer votar em você”, afirmou à Folha sobre o acordo do tucano com partidos como DEM, PR, PRB, Solidariedade, que vão lhe garantir tempo de TV e base parlamentar.

Apesar disso, Marina defendeu as alianças da Rede com partidos como o DEM, o PSDB e o Patriota nos palanques regionais. “Eu estou sendo inteiramente coerente, olhando o programa e as pessoas”, disse. A pré-candidata aparece como segunda colocada nas pesquisas em um cenário sem o ex-presidente Lula, com 15% de intenções de voto.

Aliada apenas como o PV, a candidata terá só 20 segundos na TV, e uma inserção diária. A ex-senadora admitiu a dificuldade de fazer campanha com poucos recursos e tempo de TV, mas disse que não desistirá porque a “velha política” prevaleceu em 2010 e 2014.

A entrevista foi feita na manhã desta quinta-feira (2), antes de o PV oficializar a adesão à candidatura de Marina, mas já com as negociações em curso para que Eduardo Jorge assumisse a vice. A ex-senadora negou que a sigla —cujo “apetite” ela criticou em 2010— tenha tratado de distribuição de cargos para definir apoio.

É a terceira vez que a sra. concorre à Presidência. Nas duas primeiras, com o discurso de ser a terceira via e de ser contra a “velha política”, não conseguiu chegar ao segundo turno. Neste ano, a campanha é a mesma. O que mudou desta vez? Por que a sra. acha que vai ser diferente?
É a esperança de que a nova política comece a acontecer, que se renova a cada eleição. Eu não posso desistir dela porque a velha política prevaleceu. A velha política prevaleceu em 2010 e em 2014, mas agora eu espero que uma nova forma de ver e governar o Brasil possa ser instaurada, ainda que os da velha política tenham se reforçado bastante para permanecer no poder. Eu vou insistir que se pode ganhar uma eleição não porque se tem o centrão, mas porque se tem uma proposta que dialoga com as verdadeiras vontades da população.

Com o isolamento de Ciro e a ampla aliança de Alckmin, esta eleição não está caminhando para ter exatamente a mesma polarização das últimas?
Isso é o que o pessoal da polarização quer.

E como a sra. pretende romper isso com pouco tempo de televisão?
Só o povo pode romper isso. Não tem como romper. Até porque os grandes partidos fizeram isso exatamente para que a sociedade não possa mudar. Eles gostam de eleições plebiscitárias, onde eles têm todos os recursos financeiros, todo o tempo de televisão, e a sociedade não tem como exercitar o seu desejo de mudança.

Em 2010 a sra. reclamou do “apetite do PV” por cargos. Qual espaço o PV está querendo num eventual governo Marina Silva?
O PV não entrou nunca e jamais entraria num diálogo dessa natureza comigo. A minha avó costumava dizer que a formiga sabe a folha que corta, e às vezes o problema não é tanto da formiga, é da folha. Então essa linguagem nós não temos. O PV se propôs a fazer esse diálogo conosco sem sequer exigir vice, nada.

A sra. critica a política de alianças de seus adversários, mas nos estados a Rede está fazendo coligações com partidos como DEM, PSDB, Patriota. Por que a Rede também está caindo nesse pragmatismo?
Desde 2010, quando eu fui candidata, eu dizia que as nossas alianças iriam ser programáticas e iriam ser considerando as melhores pessoas, que tenham programa e trajetórias. Não tenho nenhum constrangimento de estar com essas pessoas. As nossas alianças são programáticas sim.

Mas não é ruim para a Rede ter, por exemplo, um palanque junto com o Patriota, que na Bahia vai apoiar a candidata de vocês [Célia Sacramento]? É um partido que se refundou com o objetivo de tentar receber o candidato Jair Bolsonaro (PSL-RJ).
Sim, mas o Bolsonaro não está mais no Patriota [o deputado não chegou a se filiar ao partido] e com certeza o partido na Bahia está entrando com uma pessoa que tem outra trajetória. Eu estou sendo inteiramente coerente, eu estou olhando o programa e as pessoas. E em alguns casos até mesmo divergindo respeitando a decisão local. Na nacional eu estou fazendo as alianças que eu considero que são coerentes e que são programáticas.

Os outros candidatos não poderiam usar exatamente o mesmo discurso sobre as alianças que a sra. critica na nacional?
Depende da trajetória, das pessoas que estão compondo. Verifica quem são as lideranças. E uma aliança nacional tem um outro tipo de característica, você faz uma aliança com o centrão, é o centrão que tá falando, já decidiu até o próximo presidente do Congresso. Com certeza tudo já está decidido. O eleitor passa a ser apenas um detalhe, tanto é que todo mundo fica dizendo que quem não tem esse tipo de aliança não tem viabilidade, não importa que o eleitor está dizendo que quer votar em você.

A sra. teve dificuldade para criar a Rede e hoje o partido, em vez de crescer, tem diminuído no Congresso. Além disso, depois de três anos, chegou sem alianças formadas às vésperas da eleição. Considera um fracasso?
Não. Seria um fracasso se eu estivesse correndo agora atrás do centrão. Seria um fracasso se na constituição da Rede eu tivesse colocado deputados que não tivessem nada a ver com a Rede para poder aumentar fundo partidário e tempo de televisão. Seria um fracasso se fosse um partido que não respeitasse a democracia e que não permitisse que existam diferentes pontos de vista dentro do partido.

A sra. diz que pretende governar com os melhores de cada partido. Mas o Congresso não é feito só deles, e o presidente precisa do Congresso para governar. Como vai garantir a governabilidade?
Os que não são melhores terão uma regra republicana com a qual se relacionar. Não vamos substituir as práticas republicanas pelas emendas para aliciamento de votos. Vamos conseguir maioria dialogando, apresentando boas propostas, colhendo boas propostas. É assim que se faz as coisas, não aceitando que isso é uma lógica dada, consolidada e que não pode ser revogada. E eu espero que o povo brasileiro revogue-a desta vez, elegendo quem não se prende a essa lógica.

A sra. acha que vai haver uma renovação significativa do Congresso mesmo com o fundo eleitoral indo para os maiores partidos e vendo que os caciques vão repassar os recursos para aqueles que já têm mandato? Uma que permita que essa ordem que é dada— seja revogada?
Eu gostei muito do “mesmo”, porque fica bem clara a denúncia que eles fizeram uma manobra terrível para prevalecer no poder. Mesmo com fundo partidário só pra eles, mesmo com tempo de televisão só pra eles, mesmo com alianças incoerentes. Eu acredito. Vamos continuar lutando, e eu sou especialista em remar contra a maré.

A sra foi muito próxima do ex-presidente Lula e chegou a chorar em 2014 ao falar de críticas que ele lhe fazia durante a campanha. Há ressentimento da sua parte?
Não, ressentimento não. Eu tenho tristeza de ver tudo o que aconteceu, lamento que tenha se perdido um projeto que iniciou com objetivos tão relevantes para a democracia e para a sociedade brasileira, [que] tenha se perdido em um projeto de poder pelo poder. Os grandes partidos que já deram grandes contribuições à democracia à estabilidade econômica, à justiça social, todos se perderam em projetos de poder pelo poder.

Quais são as três primeiras propostas que pretende enviar ao Congresso no primeiro ano de um eventual governo? 
A primeira coisa a fazer para resolver o problema da crise econômica é ter um governo com credibilidade. Está todo mundo esperando quem é o governo que virá pra poder investir. A primeira medida dessas três uma quem faz é o povo. Das demais, o problema do deficit público passa sim pelo debate da questão da Previdência, e nós vamos ter que encarar uma reforma tributária com certeza. Os estados estão falidos, os municípios estão falidos. E é necessário fazer também uma reforma política.

Seu partido está ameaçado pela nova cláusula de barreira, que tem como objetivo acabar com siglas de baixo desempenho eleitoral. A senhora pretende manter essa medida em uma reforma política?
Sim, é preciso que não se tenha a proliferação indiscriminada de partidos.

Então, mesmo com a possibilidade de que isso sufoque a Rede, a sra. vai mantê-la?
Da forma como está feita eu acho que foi feita de uma forma completamente antidemocrática. Foi feita uma minirreforma política para que não seja capaz de prosperar nenhum projeto que não seja esse das alianças incoerentes ou os grandes partidos que com base na quantidade parlamentares estão orientando o corte de recursos para os partidos. Você tem que uma cláusula de barreira, não de eliminação. O que foi feito é quase uma cláusula de eliminação.

Com informações da Folha de S. Paulo.