Cientista político vê chances expressivas de Haddad

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Artigo publicado em 03 de setembro de 2019 pela FSP:

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Haddad vai jogar com a 13

Petista tem posição confortável, mas precisa se mostrar viável contra Bolsonaro

 

Fernando Haddad é o candidato do Partido dos Trabalhadores à Presidência do Brasil e Manuela D’Ávila é sua candidata a vice. A confirmação da substituição definitiva dos nomes na chapa petista deve vir nos próximos dias,  talvez nas próximas horas.

Todo mundo sabia que isso tudo aconteceria: você pode discordar das decisões de Moro e do TRF-4, mas, depois de elas terem sido tomadas,  a inabilitação de Lula era inevitável.

Os petistas têm o direito de reclamar da rapidez incomum da decisão, mas ela provavelmente os beneficia.

A estratégia de manter Lula na disputa enquanto fosse possível revelou-se um sucesso. O PT ainda pode perder, mas é muito difícil imaginar que lançar outro nome desde o início teria deixado o partido em posição melhor do que está.

Lula se despede das eleições tendo dado um nó tático em adversários e comentaristas como poucas vezes se viu.

Mas havia o risco real de esticar demais a corda de sua candidatura e deixar Haddad com pouco tempo para se afirmar como candidato. Insistir até agora com Lula foi um ato de protesto. Insistir até o fim seria um teatro idiota.

As chances de Haddad e Manuela são boas. Lula tem quase 40% das intenções de voto. Não há motivo para duvidar que entre um terço e metade desses votos se desloquem para Haddad já no primeiro turno.

Ciro Gomes e Marina Silva serão adversários formidáveis na disputa pelo eleitorado lulista, mas o apoio explícito de Lula é uma senhora vantagem. O PT é um partido mais estruturado do que o PDT ou a Rede. Terá apoio de governadores importantes, inclusive de direita.

E não é só isso: Haddad tem bem menos tempo de TV do que Alckmin, mas tem mais do que Ciro e Marina. Como mostra artigo dos cientistas políticos Felipe Borba e Emerson Cervi em 2017 na revista Opinião Pública, o efeito mais claro do horário de TV nas disputas presidenciais até hoje foi ajudar ultrapassagens entre candidatos oposicionistas. O horário eleitoral deve ajudar Alckmin, mas deve ajudar mais Haddad.

Haddad já entra em campo, portanto, como um dos favoritos para vencer a eleição presidencial.

Mas essa não é uma eleição normal. Para começo de conversa, estamos aqui discutindo o quanto um cara preso conseguirá transferir para um cara solto seu imenso favoritismo. E isso não é, nem de longe, o mais esquisito sobre a eleição.

O fator aberrante é Jair Bolsonaro.
Bolsonaro não é um candidato normal. Não é possível ter certeza de que aceitaria uma derrota eleitoral, ou de que  governaria democraticamente.

A aversão inspirada por Bolsonaro da centro-direita para cá pode fortalecer quem se mostrar mais capaz de derrotar o doidão do Paulo Guedes e, pelo menos, garantir que haverá eleição em 2022.

Por isso, Haddad não pode se sentir confortável com sua posição na largada —que é, repito, excelente—, mas precisa já se mostrar viável contra Bolsonaro no segundo turno. Mesmo quem preferir o petista pode votar em Ciro ou Marina se achar que Bolsonaro venceria o PT.

Para evitar esse cenário, o PT vai ter que ressaltar sua liderança na oposição a Temer enquanto já ensaia a moderação do segundo turno. A jogada até agora foi de craque, mas essa conclusão em gol não será fácil.

Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).