Empresários brasileiros podem tomar calote do governo reaça da Argentina

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O empresariado brasileiro, assim como toda burguesia tupiniquim, vibrou com a eleição do direitista Mauricio Macri na Argentina. Seu governo desastroso, porém, pode gerar um calote para os reaças brasileiros que o apoiaram.

A crise argentina e a forte desvalorização da moeda local colocam pressão sobre companhias que exportam para o país –com destaque para as empresas brasileiras.

Segundo análise do banco JPMorgan, realizada com base em relatórios de companhias de capital aberto, as empresas brasileiras estão entre as mais afetadas pela instabilidade no país vizinho.

Na lista estão companhias como Ambev, Klabin e Braskem. A mais afetada entre as brasileiras é a Alpargatas, dona da marca Havaianas.

Segundo o banco, 19,1% de sua receita está exposta à Argentina. No balanço do segundo trimestre, a Alpargatas afirmou que o cenário no país é conturbado.

Artigos esportivos são o forte da empresa no mercado vizinho. De acordo com a Alpargatas, as vendas do segmento vinham bem até abril, mas a desvalorização do peso argentino no segundo trimestre –que teve queda de 30% ante o dólar no período– levou a reajuste nos preços e redução nas vendas.

A empresa diz ter adotado medidas para minimizar o impacto, como reavaliação da estrutura de produção e importação de produtos acabados.

De janeiro a agosto, o valor das exportações do Brasil para a Argentina foi de US$ 11,5 bilhões (R$ 47,6 bilhões), alta de 1,1% na comparação com 2017.

Outras companhias brasileiras já apontam preocupações com a Argentina.

Em relatório, a Ambev, que tem 8,2% das vendas concentradas na Argentina, segundo o JPMorgan, se diz cautelosa com o país vizinho.

A empresa de bebidas relata que o custo (excluindo depreciação e amortização, por hectolitro) subiu 3,8% no segundo trimestre deste ano, ante 2017, por causa de pressões inflacionárias no vizinho, além de alta no valor de matérias-primas. Procurada, a Ambev disse que não comentaria.

Segundo Livio Ribeiro, pesquisador do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), é improvável que algum segmento de exportação à Argentina fique imune.

“Claro que o sofrimento não é homogêneo. Dado o tamanho do choque, parece difícil que algum setor não seja afetado”, diz Ribeiro.

Um dos mais afetados é o automotivo e, para Federico Servideo, presidente da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira, a perspectiva é de um segundo semestre ainda mais difícil.

“Haverá queda no consumo local, por causa de medidas para controlar gastos públicos, e redução das importações, pela baixa capacidade dos argentinos em comprar produtos dolarizados.”

Fabrizio Panzini, gerente de negociações internacionais da CNI (confederação da indústria), diz que, em crises anteriores, companhias brasileiras buscaram novos mercados para compensar a perda no vizinho. Entre as alternativas estão Chile, Peru e México.

Em sua avaliação, ainda é cedo para saber se o movimento se repetirá. A opção depende do setor e do investimento necessário para a mudança.

Gustavo Sousa, diretor financeiro e de relações com investidores da Klabin, do setor de papel, diz considerar pequena a exposição da empresa ao mercado argentino (7,1%, segundo o banco americano).

Ele afirma que a maior parte das vendas para o vizinho é feita em dólar, sem prejuízo cambial. Diz ainda que, caso haja redução de negócios, a empresa redireciona produtos para outros mercados.

A Braskem, com 2,6% da receita exposta à Argentina, diz que sua política de diversificação de mercados permite compensar variações da economia nos países em que atua.

Estão na lista do JPMorgan empresas baseadas no Chile, mas com operação no Brasil, como a varejista Cencosud (24,5%), a empresa de energia Enel Americas (16,7%) e a aérea Latam (11,5%).

A companhia de aviação explica que a desvalorização do peso gerou queda na demanda por viagens de argentinos, mas o país tem atraído viajantes.

A Cencosud diz ter bons resultados na Argentina quando se leva em conta a moeda local, mas a depreciação do peso impacta os resultados se valores são convertidos para peso chileno.

A varejista espera uma redução na venda de importados no país e, por isso, diz que ajustará seu mix de produtos.

A Enel afirma não ter grande preocupação com a crise na Argentina. “O objetivo é melhorar o fluxo de caixa proveniente do país até que os problemas sejam resolvidos.”

Da FSP.