Força de candidatos de esquerda põe banqueiros em pânico
Nem Ciro, nem Haddad, o mau humor do mercado que tem levado o dólar a patamares recordes não é com um nome específico, mas com a possibilidade mais ampla de um candidato da esquerda não só chegar ao segundo turno, como ainda bater o atual líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL).
Ainda que levantamentos recentes mostrem quatro candidatos empatados na segunda posição, a última pesquisa Datafolha, divulgada na segunda-feira (10), apontou Ciro Gomes (PDT) ligeiramente à frente na disputa pela vaga, com 13% das intenções de voto, contra 10% anteriormente.
Na mesma pesquisa, Fernando Haddad (PT), que ainda não havia sido oficializado como candidato no lugar do ex-presidente Lula quando o levantamento foi realizado, saltou de 4% para 9%.
Em um eventual segundo turno, Bolsonaro perderia para Ciro e empataria com Haddad.
Na terça-feira (11), um dia após a divulgação desses resultados, a Bolsa caiu mais de 2% e o dólar subiu 1,5%.
“As políticas nem de Haddad nem de Ciro são pró-mercado e, por isso, nenhum deles é favorito entre investidores. O que fará a diferença será a sinalização que darão no dia seguinte à eleição, caso algum deles vença”, diz Luis Otavio de Souza Legal, economista-chefe do banco ABC Brasil.
“Vamos ter um PT com mais responsabilidade fiscal como no primeiro governo de Lula ou vai ser como no governo de Dilma [Rousseff]? Vamos ter um Ciro pautando o lado mais fiscalista como quando governou o Ceará ou um que ataca o capital privado e pressiona a autonomia do Banco Central?”, completa.
Especialistas destacam que a equipe econômica de Ciro, com nomes como Mauro Benevides Filho, até recentemente secretário de Fazenda do Ceará, demonstra ter mais “pé no chão” e reconhecimento sobre a situação fiscal apertada do Brasil.
A equipe fala, por exemplo, em mudanças na Previdência, um dos temas mais caros ao mercado. A proposta seria a criação de um sistema híbrido, de repartição e capitalização de contas individuais.
Um economista e professor que preferiu não se identificar destacou que Ciro fez uma boa gestão fiscal quando foi governador no Ceará, nos anos 1990. Mas ele afirma que o discurso de Ciro é desequilibrado e, muitas vezes, o candidato parece dizer coisas que não foram conversadas com sua equipe.
“Ciro poderia ser mais digerível ao mercado não fosse seu discurso. Claro que o agente mais vacinado sabe que aí entra um tom eleitoral, até para se segurar entre segmentos da esquerda ligados ao PT”, diz Rui Tavares Maluf, coordenador da pós-graduação em Opinião Pública e Inteligência de Mercado da Fundação Escola de Sociologia e Política de SP.
O diretor executivo de uma gestora e ex-funcionário do Banco Central disse, sob condição de anonimato, que Ciro pode ser um pouco pior que Haddad devido ao que chamou de seu comportamento explosivo. O PT, ele diz, poderia obter algum ganho baseado no histórico de pragmatismo econômico da era Lula.
Embora possa ser visto como um nome até mais ortodoxo —Haddad tem formação em direito e economia— o principal entrave para o ex-prefeito de São Paulo, dizem agentes financeiros, seria carregar consigo nomes do PT que poderiam exercer pressão sobre um governo do petista.
“Para além de preferências por nomes, o que o mercado mais espera é que seja resolvida a questão fiscal, ainda que gradualmente”, diz Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Capital e ex-diretor do BC.
Da FSP.