Jornal diz que maioria das ‘fake news’ são bolsonaristas
O jornal Folha de São Paulo vem monitorando grupos de Whats App sobre política e descobriu que a quase totalidade de notícias falsas veiculadas por esses grupos são para atacar críticos de Jair Bolsonaro, inclusive utilizando grande quantidade de robôs.
O convite para participar de ataques digitais e articulados contra críticos do candidato Jair Bolsonaro (PSL) foi o principal tema em 175 grupos de WhatsApp favoráveis ao líder nas pesquisas para presidente.
A reportagem acompanhou durante seis dias todas as postagens nesses grupos públicos, além de outros 23 grupos pró-Fernando Haddad (PT) e 26 grupos neutros. No total, foram catalogadas 272 mil mensagens, enviadas por 17 mil números diferentes de telefones.
O assunto mais presente nos grupos pró-Bolsonaro no período foi o convite para que os participantes dessem “deslike” (desaprovação) a vídeos em que artistas pedem que a ministra Rosa Weber, do Tribunal Superior Eleitoral, puna Bolsonaro.
Os vídeos mostram artistas como Sophie Charlotte e Zezé Polessa cobrando atuação do tribunal devido à ação de empresários na compra de pacotes de mensagens no WhatsApp, atividade que a Folha revelou dia 18 de outubro.
Ao longo de seis dias, foram enviados 1.095 convites para atacar os vídeos nos 175 grupos. A ação parece ter tido efeito: um dos vídeos em questão, no YouTube, tinha 102 mil “deslikes” e 20 mil “likes” até a tarde desta sexta-feira (26).
“Pessoal, estão querendo incriminar alguém que em toda sua vida pública não teve uma mancha sequer no que diz respeito a corrupção”, dizia o convite. “Peço que vocês deem dislikes nos links do YouTube abaixo.”
Nos grupos pró-Bolsonaro também há grande presença de postagens que apresentam supostas conspirações para prejudicar o capitão reformado.
Algumas das mensagens mais distribuídas dizem, por exemplo, que o grupo radical Hizbullah —que já praticou ataques terroristas antes de adotar a via política no Líbano— e a Venezuela podem interferir nas eleições brasileiras para prejudicar o candidato do PSL.
A análise da atividade dos grupos pró-Bolsonaro mostra também que alguns perfis provavelmente são automatizados.
O número de celular campeão de atividade fez 2.450 postagens nos seis dias, sendo que ele chegou a disparar mensagens durante 32 horas seguidas, sem que houvesse nem uma hora de intervalo entre os envios no período. As mensagens eram enviadas para vários grupos distintos.
Outro número fez 1.400 postagens em um intervalo de uma hora (média de quase uma postagem a cada dois segundos). As mensagens, também enviadas a grupos distintos, eram diferentes entre si, e incluíam textos, imagens e animações.
Já os grupos pró-Haddad e os neutros acompanhados pela reportagem foram invadidos por seguidores de Bolsonaro, que inundaram as discussões com ofensas a Haddad e, dado o volume, impossibilitaram publicações expressivas do grupo original.
Estudo aponta para automação no envio de mensagens e orquestração entre grupos de WhatsApp pró-Bolsonaro
Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS) monitorou 110 grupos políticos abertosPesquisa inédita que monitorou, durante a última semana, grupos de WhatsApp das eleições 2018 aponta para a ação automatizada, ou seja, para o envio coordenado de informações em múltiplos grupos, a grande maioria deles ligados ao candidato Jair Bolsonaro
Esses grupos apresentam alto grau de interconexão e número elevado de administradores e membros comuns, muitos com atividade dezenas de vezes acima da média dos demais usuários.
O estudo —que monitorou 110 grupos políticos abertos e analisou seu grau de coordenação e interdependência— é do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS), centro de pesquisa independente que reúne professores de diversas universidades brasileiras e do laboratório de mídia do MIT (Massachussets Institute of Tecnology), nos EUA.
Seus achados são peças do quebra-cabeças revelado pela Folha que aponta para empresas comprando pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp, prática ilegal por se tratar de doação não declarada para a campanha do candidato Jair Bolsonaro (PSL), configurando crime eleitoral.
Os contratos para o disparo de mensagens chegariam a R$ 12 milhões, atingindo dezenas de milhares de brasileiros com conteúdo político contrário ao candidato Fernando Haddad (PT).
Segundo pesquisa do Ibope, 56% dos eleitores brasileiros afirmavam que seriam influenciados de algum modo pelas redes sociais e 36% diziam que seriam essas redes que definiriam seu voto.
No estudo do ITS, uma amostra de grupos abertos de WhatsApp disponíveis em repositórios na internet foi usada para o monitoramento.
“Os repositórios estão dominados pelos grupos de apoiadores de Bolsonaro. Existem alguns poucos grupos a favor de outros candidatos, mas muitas vezes os links de acesso foram revogados”, explica Caio Machado, um dos autores do estudo, mestrando em ciências sociais da internet pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.
“Ao buscarmos o que está na web, reproduzimos na nossa amostragem a provável proporção de grupos presentes ali”, diz, para justificar a quase onipresença de grupos pró-Bolsonaro na pesquisa.
Segundo ele, o principal achado foi a potencial automação de envio de mensagens. Enquanto alguns usuários fizeram 360 postagens no período estudado, a média dos demais era de dez mensagens. O intervalo entre envios de mensagens de uma mesma série eram mínimos: entre 1 e 20 segundos. Segundo o relatório, boa parte desses perfis não trazia nome próprio nem foto pessoal.
“São indícios muito fortes de automação. Pode ser o que chamamos de bots, ou robôs, que disparam mensagens, ou pode ser um usuário que utiliza algum nível de automação para difundir conteúdo, o que chamamos de ciborgue”, afirma.
Uma análise qualitativa das postagens desses usuários hiperativos apontou que o conteúdo disseminado não era o de mensagens de opinião própria, mas majoritariamente a retransmissão de informação e de mídias (vídeos e fotos).
Numa segunda análise, foi mapeada a presença de membros ao longo dos grupos. E alguns deles chegavam a compartilhar 50 usuários. Outros quatro usuários administravam mais de 17 grupos.
As atividades entre os grupos se mostraram intensas, sugerindo um grau de orquestração e coordenação.
Observamos uma via de disseminação de conteúdos. Há evidências de algo arquitetado, criando uma malha e uma estrutura de coordenação entre os grupos de modo a orquestrar a disseminação de informações através dos grupos de forma rápida e com o uso de alguma automação, sejam bot, sejam ciborgues.
Esta é a primeira campanha eleitoral que usa a internet, após resolução do TSE que autorizou o uso impulsionamento digital, mas vetou o uso de bots.
Nesta semana, comentários pró-Bolsonaro em posts feitos no Twitter pela Folha que continham palavras como “bolso” e “bolovo“ levantaram suspeitas do uso de robôs pela campanha de Jair Bolsonaro.
Em um dos posts, que tratava da competição entre joalherias e galerias de arte pelo bolo dos super-ricos, usuária sob suspeita de automação comentou: “Cadê as provas, Folha? Não tem, né? Pq não existem. Vcs estão com medo de perder os milhões que o governo PT banca vcs, né?”