Record puxa tapete da Globo aliando-se antes a Bolsonaro

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A decisão de veicular uma entrevista com Jair Bolsonaro (PSL) no mesmo horário do debate dos outros presidenciáveis na TV Globo selou a aproximação do candidato com a Rede Record, controlada pela Igreja Universal do Reino de Deus.

O objetivo de Bolsonaro é ter na Record sua “Fox News”, como dizem seus aliados em referência à emissora noticiosa americana que publica pontos de vista majoritariamente favoráveis ao presidente Donald Trump —largamente espezinhado pela mídia tradicional dos EUA.

Para o grupo que controla emissora paulista, além de afinidades eletivas como a proximidade de Bolsonaro de líderes e do ideário evangélicos, há a expectativa de que, eleito presidente, ele mude regras de distribuição de verba publicitária federal.

A Record não declarou apoio a Bolsonaro. O enlace foi sacramentado após o líder da Universal e dono da emissora, o bispo Edir Macedo, ter declarado voto em Bolsonaro, no sábado (29).

O namoro, contudo, é mais antigo. Começou em novembro do ano passado, quando Bolsonaro foi apresentado à direção da Record em um evento do Ressoar, o instituto filantrópico da emissora, no hotel Unique, em São Paulo.

A apresentação foi feita por Fábio Wajngarten, analista de mídia e empresário ligado a Bolsonaro, que também levou o candidato à direção da RedeTV! e do SBT. O economista Paulo Guedes, guru do presidenciável, fez o mesmo na Rede Globo.

Poucos dias depois do evento em São Paulo, Bolsonaro passou a atacar a Globo, criticando a concentração de verbas publicitárias do governo federal na emissora. Em 1º de dezembro, disse que iria “cortar pela metade” os recursos destinados à empresa.

A Secretaria de Comunicação do governo federal tem cerca de R$ 900 milhões anuais para investir em televisão. Hoje, o valor destinado à Globo é pouco inferior aos 40% de participação de mercado que a emissora tem —o chamado “share”.

Ao longo do ano, houve outros contatos entre os grupos, mas a campanha do PSL não conseguiu obter o endosso. Emissários da Record alegaram que seria indevida, do ponto de vista de independência jornalística, a tomada de posição.

Bolsonaro continuou a criticar a Globo, num estilo semelhante ao de Trump, que associa a rede de TV CNN às “fake news” sempre que pode.

Não deixou, contudo, de aceitar ser entrevistado no Jornal Nacional e na GloboNews, onde reiterou as críticas ao uso de verbas públicas na Globo. Inflou dados, contudo, conforme números divulgados pela emissora.

Com o afunilamento da disputa presidencial entre Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), Edir Macedo fez sua opção. Após anos próximo do PT, voltou ao antipetismo de sua origem.

Outros líderes, como Silas Malafaia (Assembleia de Deus), já haviam declarado apoio ao deputado. Nesta quinta (4), a Frente Parlamentar Evangélica endossou a candidatura do PSL.

O anúncio ocorreu no momento em que Bolsonaro recebia em sua casa uma equipe da Record para gravar a entrevista. A ideia de seus consultores de comunicação era a de estabelecer um contraponto claro à Globo, ainda que houvesse o risco de dar a impressão de que o candidato fugiu do debate.

Para tanto, foi apresentado um atestado de seus médicos afirmando que ele não estaria apto a falar longamente e se estressar. Bolsonaro se recupera de duas cirurgias após ter sido esfaqueado num evento de campanha no dia 6 do mês passado.

Douglas Tavolaro, vice-presidente de jornalismo da emissora paulista e braço direito de Edir Macedo, acompanhou pessoalmente a gravação no Rio.

O deputado já havia concedido entrevista a outra emissora de TV, a Bandeirantes, na semana passada. O entrevistador, José Luiz Datena, foi logo a seguir apontado como apoiador de Bolsonaro —o que ele nega.

Da FSP.