Caso Coaf mostra que Bolsonaro só é mito para seus seguidores cegos

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Imagine, dileto leitor, que estejamos em 2021. Já transcorreu um pouco mais da metade do mandato presidencial de Jair Bolsonaro. Seu plano econômico, capitaneado pelo ex-ministro Paulo Guedes, fracassou. O governo não conseguiu equilibrar as contas públicas, o desemprego aumentou, empresas estão quebrando e a inflação vem aumentando resolutamente a cada mês.

Numa situação dessas, a notícia de que a mulher do presidente recebeu um cheque de R$ 24 mil do ex-assessor de um dos filhos, cuja movimentação bancária é incompatível com seus rendimentos declarados, teria boa chance de resultar em impeachment.

Fernando Collor, vale lembrar, caiu por causa de um Fiat Elba; Dilma, devido a pedaladas fiscais. Mas é importante não confundir os gatilhos das deposições, que podem ser motivos banais ou graves, com o contexto político-econômico que as determinou, isto é, com crises graúdas. Em 2005, com a economia em forma, Lula sobreviveu ao mensalão.

Como Bolsonaro acaba de ser eleito e ainda não teve tempo de produzir seus próprios desastres econômicos e políticos, é improvável que o Coafgate venha a causar-lhe grandes problemas proximamente. Acredito que autoridades irão levar a investigação em banho-maria, para utilizá-la como trunfo político em caso de emergência.

Embora ainda não haja elementos fáticos para afirmar nada com segurança, a operação flagrada pelo Coaf cheira a “pedágio”, a prática ilegal, mas corriqueira entre parlamentares, de apropriar-se de parte dos salários de seus assessores.

Mesmo que não dê em nada, o escândalo é didático, pois mostra desde já que Bolsonaro só é mito na cabeça de seus seguidores mais cegos. O padrão ético do futuro presidente e seus familiares é, como o da maioria dos homens, produto do meio em que vivem, que, no caso é o baixo clero da política, repleto de “pedágios”, funcionários-fantasmas e outras espertezas antirrepublicanas.

Da FSP