Deputado agride verbalmente colegas para defender Escola sem Partido

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Uma discussão ríspida, com trocas de ofensas, marcou nesta terça-feira (5) nova reunião da comissão que discute o projeto de lei 7180/14, conhecido como Escola sem Partido, na Câmara dos Deputados.

O embate mais duro aconteceu entre os deputados Ivan Valente (PSOL-SP) e Pastor Eurico (Patri-PE), respectivamente contrário e favorável ao projeto, durante votação de um requerimento da deputada federal Érika Kokay (PT-DF) –uma das principais opositoras do projeto –que inverteria a pauta e, com isso, obstruiria a votação. O requerimento acabou rejeitado por maioria, mas a sessão foi suspensa às 16h12, após mais de três horas de debate, pelo presidente da comissão, Marcos Rogério (DEM-RO), com o começo da ordem do dia na Casa.

O bate-boca começou depois de Valente criticar declaração de Eurico, na reunião da comissão nessa terça-feira (4), com elogios à ditadura militar brasileira (1964-1985). Na ocasião, o parlamentar do Patriotas classificou o período como “salvaguarda do Brasil” e defendeu que o projeto evitará que os alunos se tornem “soldados do mundo esquerdopata”.

“Vossa excelência foi do Partido Socialista Brasileiro [PSB] — do partido do Miguel Arraes, que foi arrastado pelas ruas do Recife na ditadura. Vossa excelência é um esquerdopata. E diga que ‘não teve ditadura’ e que o Arraes não foi arrastado pelas ruas do Recife”, se irritou Valente, que foi preso político.

Eurico ganhou direito de resposta concedido por Rogério, rebateu a “fala do doente deputado” e disse ficar “admirado com a insanidade da pessoa que me citou”, em referência ao colega do PSOL.

“Na verdade, ele é uma pessoa que tem uma doença mental chamada comunismo e suas adjacências”, afirmou o pastor.

“Isso é ofensivo, senhor presidente, eu não vou aceitar”, reagiu o deputado do PSOL, que, ao ter direito de resposta negado pelo presidente da comissão, completou: “Esse [Eurico] é um fascista. Cala a boca, fascista. Tem que ter moral. Quem lutou contra a ditadura? Delinquente”.

Também contrária ao projeto, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) interveio e observou ao presidente da comissão que “fere o decoro” um deputado chamar o outro de doente mental. “Agradeço a ponderação, mas já temos tumulto demais”, respondeu Rogério.

“[Ivan Valente] já provou na sua fala que falta alguma coisa. Tem parafuso folgado aí”, prosseguiu o pastor. “O deputado deveria respeitar as pessoas. Se eu saí do partido pelo qual fui eleito [menção ao PSB] é porque tenho meus motivos e não sou esquerdopata e doente como vossa excelência”, completou o pastor, dirigindo-se a Valente.

“Direitopata. Não respondeu o questionamento porque não pode responder”, devolveu Valente. Diante da insurgência do colega do PSOL sobre as colocações feitas fora do microfone, Eurico encerrou com um “fique calado!”.

As sessões para discutir o projeto têm tido intenso bate-boca entre os presentes e parlamentares, além das tentativas de obstrução da oposição, contrária ao projeto.

O bate-boca de hoje entre os dois deputados repercutiu entre os colegas. Chico Alencar (PSOL-RJ) afirmou que, já que a comissão “em tese discute questões educacionais”, os parlamentares deveriam ser mais bem-educados na condução dos trabalhos.

“Dizer ao outro deputado que ele é um doente mental é, evidentemente, uma ofensa ao parlamentar”, definiu Alencar.

Kokay também se manifestou solidariamente a Valente. Para ela, Eurico tentou “patologizar” doentes mentais ao usar a expressão com objetivo ofensivo.

“Aliás, isso repete a história da luta antimanicomial – era nos manicômios que se colocavam as pessoas que divergiam, os homossexuais, as mulheres, as mães solteiras. Querem voltar a essa lógica de se impedir a liberdade de expressão, em verdadeira sintonia com esse projeto”, pontuou.

Do UOL