Após uma semana de Bolsonaro, Banco Mundial reduz previsão de crescimento do Brasil
O Banco Mundial reduziu a previsão de crescimento global, do Brasil, e de diversos países por causa do aumento de incertezas econômicas. O relatório, publicado nesta terça-feira, indica que as “tensões comerciais permanecem elevadas” e que alguns grandes mercados emergentes enfrentam pressões consideráveis do mercado financeiro, justificando a redução do crescimento global para 2019 de 3%, conforme projetado em junho, para 2,9%.
“A previsão de crescimento entre as economias avançadas deve cair para 2% neste ano, afirma o Global Economic Prospects de janeiro de 2019. A desaceleração da demanda externa, os custos crescentes dos empréstimos e incertezas políticas persistentes devem pesar sobre as perspectivas para os países emergentes e em desenvolvimento. O crescimento para este grupo deve manter-se constante em 4,2% neste ano, um índice mais baixo do que o esperado”, informou o banco em comunicado.
As duas maiores economias do mundo – Estados Unidos e China – viveram em 2018 uma escalada de tensão, com a aplicação de tarifas extras para produtos de ambos os países. E apesar da trégua anunciada após a reunião do G20 na Argentina, em dezembro, não há ainda acordo final para esta guerra comercial. Segundo o Banco Mundial, o crescimento americano, que teria sido, segundo estimativas, de 2,9% em 2018, vai se reduzir para 2,5% neste ano. No caso da China, a desaceleração deverá ser de 6,5% para 6,2%.
No caso brasileiro, o Banco Mundial reduziu sua expectativa de crescimento de 2018 de 2,4%, segundo publicação de junho, para 1,2% no atual levantamento. O banco argumentou que incertezas políticas do processo eleitoral e a greve dos caminhoneiros do meio do ano, juntamente com o aumento das incertezas globais, contribuíram para isso. Para este ano, o banco reduziu a previsão de crescimento de 2,5% para 2,2%, e condicionou o resultado à uma rápida aprovação das reformas pelo novo governo, como a reforma da Previdência:
“Uma expansão de 2,2% está prevista para o Brasil, pressupondo-se que reformas fiscais sejam rapidamente implementadas e que a recuperação do consumo e investimento supere os cortes nas despesas públicas”, informou o relatório. “A previsão de 2,2% para este ano pressupõe que as reformas fiscais sejam implementadas rapidamente sob a administração entrante, e que uma recuperação do consumo e investimento, resultante da melhoria da confiança e do sentimento dos investidores, superará o efeito negativo do crescimento dos gastos governamentais reduzidos”.
O relatório ressaltou, contudo, que em 2018 as exportações brasileiras foram beneficiadas com a guerra comercial entre EUA e China. “Os preços da soja nos Estados Unidos caíram substancialmente após o anúncio de tarifas impostas pela China sobre as importações de soja dos EUA, enquanto os preços foram maiores em outros países, particularmente no Brasil. A imposição de tarifas levou ao desvio do comércio, com as importações chinesas de soja dos Estados Unidos 25% menores em 2018 em relação a 2017, enquanto as do Brasil aumentaram 22%”, disse.
A América latina também sofreu com a crise argentina, outro importante parceiro comercial brasileiro. Segundo o Banco Mundial, o país vizinho viveu uma recessão de 2,8% em 2018 e deve ter uma nova retração de 1,7% em 2019, indicando uma recuperação mais lenta, mesmo o país tendo obtido US$ 57 bilhões junto ao FMI, em sua maior operação da história. Mas o pior resultado entre as maiores economias novamente caberá à Venezuela, que atravessa uma grave crise econômica, social e política: depois de um tombo de 18% no PIB de 2018, a economia deve mergulhar mais 8% neste ano.
“Embora se espere que o crescimento regional se reforce ao longo do horizonte previsto, a melhoria será mais fraca do que anteriormente esperado, em parte devido aos efeitos do endurecimento e da política comercial incerta sobre o mercado. No entanto, o fortalecimento do Brasil e da Colômbia, juntamente com melhorias graduais na Argentina, impulsionará o crescimento regional para 1,7% em 2019 e 2,4% em 2020. Os riscos descendentes dominam, incluindo a possibilidade de um abrupto estreitamento das condições financeiras externas, escalada da incerteza da política comercial doméstica ou internacional, respostas adversas do mercado às condições fiscais e perturbações de desastres naturais”, informou o relatório.
O Banco Mundial alerta para riscos crescentes na economia global. “Diversos desdobramentos podem também atuar como freio na atividade econômica. Um aperto cada vez mais acentuado nos custos dos empréstimos poderia deprimir os fluxos de entrada de capital em muitos países emergentes e em desenvolvimento. Aumentos anteriores da dívida pública e privada poderiam elevar a vulnerabilidade a oscilações das condições financeiras e do sentimento do mercado. A intensificação das tensões comerciais poderia enfraquecer o crescimento global e atrapalhar as cadeias de valor interconectadas mundialmente”, disse o documento.
Do O Globo