Assessor internacional de Bolsonaro é mais um fã de Olavo de Carvalho
Quando o Twitter bloqueou seu perfil, Filipe Martins, 30, abriu uma conta em outra rede social em protesto e republicou a mensagem que havia causado o banimento.
“O feminismo é só um instrumento de poder de esquerda”, escreveu quatro meses atrás, durante a campanha eleitoral. “A mulher que ousa discordar das pautas de esquerda é tratada feito lixo. Só presta a que é idiota útil. O problema é que o idiota útil nunca sabe que é idiota nem a quem é útil.”
A rede social escolhida para o descarrego foi o Gab, que, ao acolher sem censura comentários antissemitas sobretudo nos EUA, popularizou-se entre adeptos de teorias supremacistas e neonazistas.
Nomeado na quinta-feira (3) assessor especial da Presidência de Jair Bolsonaro para assuntos internacionais, Martins rechaça publicamente qualquer associação com a alt-right, como é chamada a direita radical repaginada nos EUA.
Aluno e admirador de Olavo de Carvalho, formado em relações internacionais pela UnB (Universidade se Brasília) e diretor de assuntos internacionais do PSL, Martins integrou o núcleo da transição no grupo do agora chanceler Ernesto Araújo.
Mas seu acesso ao presidente e família independe do ministro de Relações Exteriores. Além de ser ouvido por Bolsonaro na confecção de discursos, por exemplo, tem boa relação com Carlos e Eduardo Bolsonaro, dois de seus filhos.
Sua atuação, contudo, é em parte contestada. Alguns aliados do presidente veem em Martins uma personalidade às vezes estridente e nem sempre bem preparada para a função para a qual trabalhou para ser nomeado.
Quando acompanhou o deputado Eduardo Bolsonaro em viagem aos Estados Unidos, em dezembro, por exemplo, deixou transbordar considerações ideológicas como críticas ao Foro de São Paulo, mesmo quando a audiência —grande investidores— exigia objetividade. Dizem que sua pouca idade e inexperiência podem trazer prejuízo a Bolsonaro.
Martins é entusiasta de Steve Bannon, ex-estrategista do presidente americano Donald Trump. Tanto que, natural de Sorocaba (SP), ganhou o apelido de Sorocabannon.
Embora critique agressiva e frequentemente a imprensa brasileira, à qual associa a elite e a esquerda, o assessor se mostrou hábil perto de um recluso Ernesto Araújo.
Na assessoria especial da Presidência, em função análoga à de Marco Aurélio Garcia durante o governo Lula, Martins atuará como ponte entre o chanceler e Bolsonaro. Na definição de membros do governo, o assessor não terá atribuição de formular política externa mas sim de garantir sintonia entre o Itamaraty e o Palácio do Planalto.
Quer ajudar o presidente a dar uma expressão mais acabada às suas ideias sobre temas internacionais e preparar os seus discursos, auxiliando na comunicação dentro e fora do país.
“Sua atuação trará ainda mais solidez a um importante trabalho já debatido durante a campanha de aproximar o Brasil de nações desenvolvidas e democráticas, e não mais de ditaduras que violam desde direitos humanos a processos eleitorais”, disse a empresária Letícia Catel, que trabalhou na transição.
Martins e Araújo estrearam internacionalmente na última sexta-feira (4), quando participaram do Grupo de Lima, no Peru, que elaborou documento em reprimenda à ditadura Maduro na Venezuela.
“Ninguém melhor talhado que Filipe G. Martins para assessor internacional do Planalto”, assinalou Ernesto Araújo em rede social depois da viagem conjunta. “Seu conhecimento, sensibilidade, determinação, visão estratégica e patriotismo raramente se reúnem nesse grau na mesma pessoa.”
Crescido em um bairro pobre da paulista Sorocaba, Martins estudou em escola pública e, antes de prestar vestibular, decidiu estudar por conta própria. Aos 17, conheceu Olavo de Carvalho, com quem mantém contato até hoje.
Com o escritor radicado nos Estados Unidos tem afinidades de forma e conteúdo. É crítico do chamado globalismo, do ateísmo, do aborto e da descriminalização de drogas, por exemplo. E burilou estilo afeito a polêmicas.
“O espírito brasileiro está possuído por um demônio e nada além de um exorcismo poderá quebrar este ciclo amaldiçoado e mitigar os problemas nacionais”, escreveu em junho. “Vivemos sob o reino dos perfeitos idiotas”, concluiu em maio.
“Sempre digo que a crise ocidental é também uma crise da masculinidade”, interpretou em agosto.
“Esta eleição é um grande dedo do meio do povo brasileiro para os donos do poder e seus serviçais na classe jornalística, na classe artística e na academia. Um grito de libertação”, afirmou em setembro.
Da FSP