Assim como o presidente, marca do governo é antiga e mal estruturada
Na sua primeira semana de mandato, o presidente divulgou a nova marca e slogan de seu governo. O vídeo de apresentação trazia os dizeres “Um novo Brasil, sem corrupção, sem impunidade, sem doutrinação nas escolas e sem a erotização de nossas crianças”.
O desenho tem um sol, representado pela bandeira do Brasil, que nasce ao fundo de uma colina. A imagem guarda semelhanças com a marca adotada por Obama durante as eleições americanas de 2008.
Desenvolvida pelo designer Sol Sender, da VSA Partners, a identidade visual da campanha do americano ficou mundialmente conhecida como inovadora. Para a versão de Obama, Sender apropria-se do minimalismo, linguagem rara na política, com o mesmo sol atrás de uma colina, representando renovação, narrativa que invadia o discurso político do então candidato. A nova marca Brasil não é o primeiro caso de semelhança, a mesma simbologia foi utilizada pelo presidente turco Recep Tayyip Erdoğan durante sua campanha de 2014.
Na versão de Bolsonaro, a delicadeza dos traços e cores é trocada por um uso exacerbado do verde e amarelo em posições confusas. Ao preservar a orientação de nossa bandeira, os designers criam um sol azul e um céu verde.
A escolha não é coincidência. Cores são elementos-chave na comunicação de Bolsonaro. Durante campanha, ele se apropriou do verde e amarelo para retratar seu nacionalismo exacerbado. O político ainda usa o vermelho como sinônimo de comunismo e de um grande mal.
Já a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, afirmou que o Brasil entrava numa nova era, na qual menino veste azul e menina veste rosa.
Logo abaixo do símbolo, a marca traz os dizeres “Pátria Amada Brasil – Governo Federal”. É a primeira vez que o slogan de um governo brasileiro ganha status de marca, aparecendo antes mesmo do nome do país, reforçando o tom ufanista desta gestão.
A tipografia também chama atenção. A fonte usada é a Signika, do conjunto de fontes grátis do Google, destinadas a projetos de sinalização de espaços e não necessariamente a marcas.
Essa escolha anda na contramão de tendências mundiais. Cada vez mais, empresas e instituições buscam desenhos de fontes exclusivos para suas marcas. Uma tipografia genérica e gratuita, usada sem interferência no seu desenho, aumenta o risco de se perderem elementos da marca para outras que adotem o mesmo recurso.
Apesar de tais escolhas levarem a nova marca Brasil para um caminho genérico, o maior problema são questões técnicas. A construção pouco horizontal desfavorece a assinatura “Governo Federal”, que vai acabar desaparecendo quando a identidade precisar ser reduzida.
Outro grande problema são as cores. Os gradientes com variações de tons são de difícil reprodução na impressão, o que pode fazer a marca perder identidade e fidelidade no seu uso.
Mas talvez o equívoco mais simbólico esteja no desequilíbrio na marca causado pela má construção tipográfica da palavra “Brasil” —o espaço entre as letras está mal calculado, com buracos desnecessários, que causam perda de força na composição. Acostumados ao universo digital, os desenvolvedores parecem ter esquecido que grande parte dos usos da identidade de um país se dá no mundo impresso e físico.
A marca lembra o que ficou conhecido como “estética Bolsonaro” durante a campanha eleitoral. Apostando no populismo, o agora presidente abriu mão do movimento de profissionalização das campanhas brasileiras —e aderiu ao improviso.
Não era raro vê-lo à frente de uma bandeira pendurada na parede com fita crepe ou, no cotidiano, usando regata e chinelo, cenas antes impensáveis para um candidato. A decisão, ao se comunicar com o público, foi um sucesso. E a linguagem se reproduziu nas manifestações de seus apoiadores. No governo, contudo, com a necessidade de se comunicar com um público mais diverso e exigente, a estratégia pode ser desastrosa.
No lançamento da marca, Bolsonaro fez uma publicação em seu Twitter: “A parte mais importante é que a divulgação está sendo lançada na internet com custo zero, economizando mais de R$1,4 milhões aos cofres públicos”.
Na nova gestão, o custo de desenvolvimento e distribuição da marca é tratado como despesa e não investimento. E nem a boa apropriação das plataformas digitais impede que a primeira imagem desse governo seja antiga, repetitiva e mal estruturada.
Da FSP