Aumento da tarifa não significa melhorias nos ônibus de SP

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O aumento da tarifa dos ônibus paulistanos de R$ 4 para R$ 4,30, a partir desta segunda (7), faz os passageiros pensarem, uma vez mais, se o serviço vale pelo que cobra.

Desde o último aumento da passagem, em janeiro de 2018, a cidade teve pouco avanço na criação de corredores e de faixas exclusivas, que agilizam as viagens. Tampouco foram oferecidos novos descontos ou promoções na tarifa.

Nos últimos anos, a aposta da prefeitura para atrair mais passageiros se concentra em ar condicionado. Em 2018, foram entregues cerca de 1.300 ônibus novos, com climatização e tomadas USB. No entanto, a refrigeração só está em presente em 30% da frota, segundo levantamento do site G1.

Uma lei de 2016 determina que ao menos 80% dos ônibus da cidade tenham ar condicionado, mas não estabelece prazo para isso. A expectativa da gestão municipal é que os 80% sejam atingidos até 2022.

As mudanças dependerão muito da nova licitação do serviço de ônibus, que pretende reorganizar as linhas e mudar as exigências para as empresas. Porém, esse processo terminou mais um ano sem ser concluído. Assim, alguns itinerários seguem muito cheios e outros, repletos de assentos livres. A alteração nas linhas promete melhorar as viagens para os passageiros, mas “racionalizar” pode significar apenas que mais gente viajará em pé.

Para aprimorar o serviço de ônibus, a prefeitura poderia investir mais em:

  • Manutenção: é comum encontrar veículos mais velhos que fazem muito barulho, tremem ou superaquecem.
  • Informação: descobrir a que hora cada coletivo vai passar não é simples, mesmo usando aplicativos. As previsões nem sempre são cumpridas e dados em tempo real só existem em parte das linhas.
  • Facilitar o pagamento: cidades como Londres permitem pagar a viagem com o cartão de débito ou o celular diretamente no ônibus. Em São Paulo, é possível carregar o bilhete único pelo celular, mas antes de usar é preciso levar o cartão até um totem.
  • Criar descontos em horários de menor movimento, como fazem metrô e CPTM com a tarifa do madrugador, ou para quem usa muito o serviço.

Nas últimas duas décadas, os passageiros ganharam várias vantagens: a maior delas, o bilhete único (2003), permitiu pegar até quatro ônibus pagando uma tarifa. Depois, veio a ampliação do tempo de integração aos domingos (2008), bilhetes com tarifa diária e mensal (2013) e passe livre para estudantes (2015).

Neste período, também foram criados corredores de ônibus e faixas exclusivas em diversos bairros. Mas essa ampliação anda travada. O ex-prefeito João Doria (PSDB), que ficou no cargo entre janeiro de 2017 e abril de 2018, colocou como meta criar 72 km de corredores até 2020, mas entregou só 3,3 km e remanejou pelo menos R$ 716 milhões do que era previsto para esse tipo de obra.

Enquanto o ônibus segue cobrando mais pelo mesmo, a concorrência acelera. Aplicativos para chamar carros buscam atrair passageiros dos coletivos com conforto e descontos. Na modalidade Uber Juntos, em que se comparte a viagem com desconhecidos, um trajeto de 2,5 km pode sair por R$ 4,30.

Nos últimos anos, o número de passageiros de ônibus vem caindo. Na comparação entre 2017 e 2018, os coletivos paulistanos deixaram de levar 150 mil viajantes por dia, em média. O levantamento considera apenas os meses de janeiro a novembro. Com menos usuários, aumenta o custo de manter os veículos rodando, num ciclo que favorecerá mais aumentos.

Da FSP