Bolsonaro deixa Mourão sem função
Determinado a não ser um “vice decorativo” na Esplanada, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, não recebeu do presidente Jair Bolsonaro nenhuma atribuição no novo governo. A gestão Bolsonaro publicou nesta terça-feira uma medida provisória em que formaliza a estrutura da nova máquina federal, com 22 ministérios. A vice-presidência não é designada por Bolsonaro para atuar em nenhuma área, em nenhum programa e em nenhuma função no próprio Palácio do Planalto.
Em outubro, quando Bolsonaro ainda estava em campanha no segundo turno da eleição, Mourão disse ao GLOBO que estava se preparando para não ser um “vice decorativo”. O general afirmou que estaria dentro do Palácio do Planalto, em sala ao lado da do presidente da República, com participação efetiva no governo Bolsonaro.
— Eu me vejo como um assessor qualificado do presidente, um homem próximo ali, junto dele, dentro do Planalto, ali do lado dele, nossas salas serão juntas. Não seremos duas figuras distantes, como já aconteceu, um para o lado e o outro para o outro lado. Aquelas reuniões que ocorrem ali, eu estarei presente — disse Mourão.
As salas da Vice-Presidência funcionam num anexo do Palácio do Planalto, e não nos andares da Presidência. Mourão esperava que Bolsonaro delegasse a ele funções de liderança no governo:
— Posso atender à necessidade de coordenar trabalhos que sejam interministeriais. Ele pode me delegar essa tarefa. Por exemplo, em projetos de infraestrutura, de parceria público-privada, coisas que a gente tenha algum conhecimento.
A Medida Provisória publicada nesta terça-feira mostra que nada saiu como o esperado para o vice. Os projetos de parceria público-privada ficaram com a Secretaria de Governo, chefiada pelo general Santos Cruz.
Já a “coordenação e integração das ações governamentais” da máquina ficou com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que também atuará na “avaliação e no monitoramento da ação governamental e da gestão dos órgãos e das entidades da administração pública federal”, outra área desejada por Mourão.
Como O GLOBO revelou no começo de dezembro do ano passado,Bolsonaro irritou-se com declarações do vice-presidente durante o trabalho de transição e chegou a lhe impor uma espécie de lei do silêncio.
A recomendação – para que o militar adotasse uma postura mais discreta e deixasse que o presidente eleito concentrasse os holofotes – foi repassada ao general por meio de alguns dos mais próximos aliados de Bolsonaro, mas não foi cumprida por Mourão. O GLOBO entrou em contato com o vice-presidente para avaliar a distribuição de tarefas no governo, mas não obteve retorno.
Do O Globo