Eleições de 2018 abriram portas para manifestações de ódio
De julho a novembro do ano passado, o estado de São Paulo conheceu aumento expressivo e consternador dos registros de crimes relacionados à intolerância.
Nesses meses, mostram dados obtidos por esta Folha, a média de ocorrências de tais delitos mais que triplicou na comparação com o primeiro semestre de 2018. O número saltou de quase 5 episódios por dia para pouco mais de 15.
As informações constam de boletins policiais de crimes como injúria, calúnia e lesão corporal motivados por alguma forma de intolerância: racial, religiosa, por origem, etnia ou cor, além de homofobia e transfobia.
Iniciada em julho, a alta intensificou-se nos meses seguintes e atingiu o apogeu em outubro, com 568 ocorrências e média de 18 por dia. O período mais crítico, portanto, coincide com a campanha eleitoral, e seu auge, com as votações de primeiro e segundo turno.
Correlação, como se sabe, não implica causalidade, sobretudo diante de fenômeno social tão complexo. Entretanto parece evidente que o espírito conflagrado da disputa, marcada pela polarização ideológica e pela estigmatização de adversários, criou ambiente favorável a manifestações abertas de ódio e intolerância.
Tal comportamento atingiu níveis bárbaros em episódios como a facada desferida em Jair Bolsonaro (PSL), em setembro, e o assassinato de um defensor de Fernando Haddad (PT) no mês seguinte.
No caso de São Paulo, o estado registrou, até novembro, 3.191 registros de crimes relacionados à intolerância em 2018, aumento de 60% sobre todo o ano de 2016, que liderava em número de ocorrências.
O deplorável quadro, infelizmente, tende a ser ainda mais grave. Há consenso entre especialistas de que é elevada a subnotificação desse tipo de violência.
Tal diagnóstico encontra amparo em recente pesquisa Datafolha. Segundo o levantamento, 26% dos brasileiros declaram já ter sofrido preconceito devido à sua religião, 22% por sua cor ou raça e 9% por sua orientação sexual. Preocupantes em si, tais índices apresentaram aumento desde a última pesquisa, em 2008. Eram, então, 20%, 11% e 4%, respectivamente.
Mais do que apenas lamentar o atual acirramento de ânimos, cumpre a todos, em particular às autoridades, combater explicitamente suas manifestações mais nefastas.
Da FSP