Jovem conta como funciona o processo de “cura gay” de uma igreja
Bruno Aguiar, por um tempo ele passou por um processo de “cura gay” na igreja evangélica Comunidade das Nações em Brasília.
Ele resolveu entrar na onda de trocar um like por um curiosidade para contar no Twitter como foi passar por isso. Nós separamos alguns destes tuítes neste post.
“1 LIKE = 1 curiosidade sobre o processo de “cura gay” dentro de uma igreja evangélica, baseada na minha experiência de quase três anos de imersão nesse processo”
Ele começou falando como o termo “cura gay” é chamado em uma igreja evangélica.
“1 – O processo de “cura gay” não tem esse nome dentro da igreja evangélica. Tem vários outros. Libertação, restauração, quebra de maldição, santificação e outros. E esses processos servem para oprimir e prender diversos tipos de pessoas dentro de uma igreja. Não só pessoas LGBT’s”
Ele achou uma boa participar disso porque acreditava que ele iria solucionar todos os problemas da vida.
“3 – Eu mesmo só topei deixar de ficar com homens durante tanto tempo (quase 3 anos) porque eu estava em um momento muito vulnerável sentimentalmente e a cura gay me foi apresentada como a solução de todos os meus problemas. Além da vida eterna, céu e toda a ladainha q conhecemos”
Ele explicou que o pastor da igreja que ele frequentava conseguiu mudar o que ele acreditava sobre o próprio passado.
“4 – um pastor chegou a me levar a acreditar que eu havia sido abusado sexualmente para justificar a minha sexualidade. Tudo mentira. Mas a estrutura de manipulação é tão eficiente que acreditei mais no pastor do que nas minhas memórias”
Ele inclusive passou por um processo de exorcismo que não expulsou nenhum demônio.
“5 – esse mesmo pastor me disse que eu estava possuídos por diversos demônios. Deu até o nome deles. E em um ritual de exorcismo improvisado começou a querer expulsar os demônios e ficou bastante irritado porque eu não apresentei nenhum sinal de possessão”
Em uma das etapas ele teve de listar todos os homens com quem transou.
“6 – uma das etapas da “cura gay” precisei listar o nome de todos os homens com que fiz sexo e pedir perdão a deus por cada um deles. Obviamente não lembrei de todos, mas a lista parou em mais de 50 nomes, na época. Disseram que caso era “muito grave”. Risos”
A igreja que ele frequentava usava o inferno como forma de amendontrá-lo.
“9 – umas ferramenta muito eficiente para q vc acredite no pecado do “homossexualismo” é o medo. A todo momento te lembram sobre o inferno. Essa ideia de um final trágico e eterno, fogo ardente e tudo mais. Vc fica com medo o tempo todo. Quase ninguém está ali por amor ou algo bom”
Ele contou que ficou três anos sem transar ou se masturbar durante esse tempo e o corpo dele reagia com muitas poluções noturnas.
“10 – fiquei esses quase três anos sem nenhum tipo de contato sexual, nem com homens e nem com mulheres. E a masturbação também é condenada com muita força. Tinha semanas que eu tinha polução noturna duas ou três vezes”
A polução noturna é o nome dado para uma ejaculação involuntária que acontece durante o sono.
Ele também foi convencido a não estar em nenhum ambiente com outros homens gays e até mudou de casa por isso.
“12 – os lideres q conduzem a cura gay também que vc se afaste de qualquer pessoa homossexual ou ambiente que você possa ter contato com práticas homossexuais. Eu cheguei a mudar de casa por conta disso. Na época eu dividia apartamento com dois dos meus melhores amigos. E gays”
“Depois de um ano Bruno passou a ser um exemplo para outros homens que frequentavam a mesma igreja e buscavam essa “cura”.
“13 – chega uma etapa da cura gay que você é tido como um exemplo a ser seguido. Após um ano, eu comecei a ser líder de outros rapazes homossexuais que queriam deixar de ser”
Ele conta que chegou a “ajudar” quase dez homens que estavam em busca deste “milagre”.
“14 – essa é uma das coisas que mais lembro com pesar. Cheguei ao ponto de liderar quase dez rapazes na cura gay. Alguns deles estão na cura gay até hoje esperando o milagre”
Quando ele caiu em si que não precisava se curar de nada, os pastores começaram a convencê-lo de que ele estava passando por uma espécie de Deus para toda a vida.
“15 – com o passar do tempo, vc percebe q a cura não existe e para de esperar um milagre. Neste momento os seus líderes dizem que o seu caso não é de cura. Mas de provação. É como se deus estivesse testando se você ama mais jesus ou os seus desejos carnais. E isso é pra vida toda”
Ele chegou até a namorar uma mulher que frequentava a mesma igreja, pois, de acordo com o pastor, Deus tinha mandado.
“17 – cheguei a namorar uma moça durante alguns meses. Passamos algum tempo orando pelo tefone, de madrugada, esperando a confirmação de deus para o namoro. A confirmação veio. Mas, misteriosamente, não foi pra mim ou pra ela. Foi pro meu líder. Ele falou: “namorem! Deus mandou”
Em todo esse tempo Bruno viu coisas como R$100 mil como resultado de pagamento de dízimos e ofertas dos fiéis da igreja.
“22 – outro fator q fez eu querer me afastar foi ter acesso e ver coisas q não concordava. Vi um culto reunir mais de 100 MIL REAIS em dízimos e ofertas. E quando eu pedia 500 reais à igreja para fazer um sopão para dezenas de moradores de rua, eles negavam. E eu pagava do bolso”
E ele
“23 – toda vez que eu via algo que não concordava, eu questionava. E isso é a pior coisa que se pode fazer dentro de uma igreja: QUESTIONAR. Você é tido como rebelde, endemoniado, desviado da fé etc. Começam a te isolar e tratar mal. Até que você se arrependa do questionamento.”
Quando ele resolveu parar com esse processo, o bispo da igreja disse que ele iria morrer.
“26 – quando o bispo descobriu q eu estava entregando os cargos da igreja, ele me chamou no seu gabinete. Somente eu e ele. Ele me olhou nos olhos e disse: se você sair da igreja, deus manda te dizer q a próxima vez q eu te verei será no seu enterro. Eu senti meu corpo paralisar”
Mas não foi a primeira vez que ele se sentiu mal dentro no ambiente da igreja que frequentava, na verdade Bruno sempre teve sentimentos ruins e momentos de “falsa felicidade”.
“36 – Igreja é uma estrutura muito pesada e de muita opressão! Te faz se sentir mal do primeiro dia ao último (para quem esse dia chega). E alguns momentos falsos de felicidades mascaram isso. Mas me tratarem assim me ajudou a ter uma oportunidade de sair.”
Ele contou que um dia decidiu não ir mais, se despediu dos pastores por e-mail e nunca recebeu nenhuma resposta de volta. Isso foi há seis anos e até hoje ele tem lembranças ruins desse tempo difícil.
“37 – Um belo dia decidi não ir mais. Mandei um e-mail pra liderança e contei todos os motivos da minha saída. Fui bastante educado, mas sincero. Até hoje, nenhum dos líderes respondeu. Nem pra perguntar se eu estava bem ou mesmo agradecer os quase três anos de trabalho voluntário”
“38 – Já vai fazer seis anos que eu saí da cura gay. E até hoje histórias do que fiz comigo mesmo e o que fui levado a fazer com os meus discípulos me amedrontam. Por isso prefiro parar por aqui.”
Ele terminou a thread sobre essa experiência avisando que vai escrever um livro sobre isso.
“39 – Para finalizar, decidi escrever um livro sobre tudo o que vivi. Na fase de pesquisa, tomou uma proporção maior e não é mais sobre cura gay apenas. Agora é sobre MANIPULAÇÃO RELIGIOSA. Espero finalizá-lo logo.
Ah, e o nome da igreja é Comunidade das Nações, em Brasília. Bjs”
Do Buzzfeed