Para indicado ao INEP, professores são ‘gente que não quer estudar’
Indicado para a diretoria do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) que cuida do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), Murilo Resende Ferreira afirmou que os professores brasileiros são desqualificados e manipuladores, que tentam roubar o poder da família praticando a ideologia de gênero. As declarações foram dadas em uma audiência no Ministério Público Federal sobre “Doutrinação Político-Partidária no Sistema de Ensino”, em 2016.
Resende, que já faz reuniões no Inep, onde assumirá a Diretoria de Avaliação da Educação Básica, responsável também por outros exames oficiais do governo, foi indicado ao cargo pelo movimento Escola sem Partido, do qual é adepto. Na audiência pública realizada em Goiás, onde leciona em faculdades, ele propôs uma prova de português e matemática para a categoria, a quem chamou de “gente que não quer estudar de verdade”.
— É impressionante a maneira como os professores são incapazes de perceberem que eles têm alguma coisa a ver com o mal da educação brasileira, como eles creditam tudo à sociedade, à ausência de dinheiro — afirma Resende, continuando: — Relembrando meu grande professor Olavo de Carvalho, eu acho que talvez não seja nem necessário um Escola sem Partido, se a gente puder realizar simplesmente uma coisa no nosso ensino: uma prova de português e matemática para os professores.
O indicado para o Inep classificou de “chocante” o despreparo de professores, contrários ao projeto Escola sem Partido, que o antecederam na audiência em Goiás:
— Me chocou a carência linguística, a incapacidade de enunciar frases simples de português, o jargão vazio que a gente testemunhou em quase todos os professores que vieram falar aqui. É chocante.
— Se eu estivesse anotando a quantidade de erros de português, erros de concordâncias. Como professores com essa incapacidade absoluta em relação à própria língua podem dizer que não têm nada a ver com o analfabetismo funcional dos seus alunos? Como professores que sequer respeitam a língua portuguesa podem vir aqui falar candidamente de filosofia, arte? — completou.
Resende se disse “vítima” da doutrinação marxista, mesmo tendo estudado em colégio privado, e afirmou que a ideologia de gênero é usada por “manipuladores” para esconder a própria falta de preparo, após fazer um relato sobre o problema em outros países do mundo:
— Então ideologia de gênero, que hoje é o grande cavalo de batalha desses manipuladores, sim, gente que não quer estudar de verdade, que sequer conhece a literatura, sequer conhece a filosofia.
Ele disse que os professores no país pregam o aborto, incesto e pedofilia, mas que tentam escamotear suas intenções, driblando a confiança dos pais.
— Não se conta isso para os pais, essa é a farsa de vocês. Vocês falam: ah, é simplesmente uma questão de respeito em relação aos homossexuais. É só isso o que a gente quer ensinar — ironizou.
Em outro trecho, acusa:
— O que os professores estão querendo com isso é poder. Um poder que eles querem roubar e sequestrar da família.
Resende defendeu acabar com a “contaminação ideológica” que ele diz ter chegado ao MEC e atribui o problema ao regime militar. Segundo ele, foi o governo da época que alojou os “marxistas” nas universidades e escolas.
— Esse estágio atual que a gente passa na educação brasileira nasceu em muito sentido já no regime militar. Onde a gente viu o regime militar adotar uma famosa tese da panela de pressão, que para contrabalancear a esquerda guerrilheira, a esquerda lá do Araguaia, eles deveriam dar um espaço a esses marxistas dito democráticos, que não tinham aderido à luta armada. E o espaço deles deveria se dar nas escolas — afirmou, concluindo:
— Com a redemocratização, esse aparelhamento brutal e ditatorial avançou inclusive para lugares como a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), o MEC. (…) Precisa de uma reforma absurda, completa, para limpar todas essa contaminação ideológica até o ponto em que os professores voltem a se preocupar com a sala de aula, e não só com filosofia da educação, ficar discutindo Paulo Freire e a criança do futuro que será um jovem socialista.
Do O Globo