Se conseguir chegar a presidência do Senado, Olímpio será dependente do governo

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No mesmo dia em que resolveu aderir à candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara, o PSL lançou o senador eleito Major Olímpio (PSL-SP) ao comando do Senado e, consequentemente, do Congresso Nacional.

Em entrevista, nesta quinta-feira (3), Olímpio, que é deputado federal em fim de mandato e comanda o partido em São Paulo, defendeu a autonomia do Legislativo em relação ao Judiciário, mas não fez o mesmo ao falar do Palácio do Planalto sob Jair Bolsonaro (PSL).

“Eu, se estiver na presidência do Senado, o alinhamento com o discurso do governo, com o discurso de Jair Bolsonaro com os compromissos, aí é total e integral”, afirmou.

Major Olímpio procurou também fazer um aceno aos partidos contrários ao governo, prometendo equilíbrio em uma eventual condução da Casa.

“Se você não tiver oposição, aí você tem uma ditadura estabelecida, e não é isso.”

Mas negou procurar o PT em busca de apoio para disputar o cargo com nomes como Renan Calheiros (MDB-AL), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Davi Alcolumbre (DEM-AP) e Alvaro Dias (Podemos-PR).

Questionado sobre a adesão do PSL à candidatura de Maia na Câmara, admitiu que o partido fez uma conta prática para não ficar alijado dos postos de comando da Casa.

“Não é questão da velha política. Me dá as opções botando o pé no chão. Qual a opção que temos hoje de garantir governabilidade para aprovação das medidas mais necessárias e fundamentais para o país, para o governo?”, questionou.

Por que o sr. resolveu se lançar candidato à presidência do Senado? Não resolvi. Fui escalado pelo partido a partir do presidente do partido, Luciano Bivar.

E por que o partido entendeu que deveria ter um candidato à presidência do Senado? Porque não tem nenhuma candidatura definida, por enquanto, que se possa dizer que será um fortalecimento para a governabilidade.

Sua candidatura será uma candidatura anti-Renan? Não entendo isso. Acho que pró-Senado, pró-Brasil, pró-mudanças. Não estou indo para ser anti. Não vou lá para ser contra ninguém. A mudança no Brasil também passa por um fortalecimento da Câmara, do Senado. Acho que posso representar este papel.

No caso de Renan se tornar presidente do Senado, isso pode ser prejudicial ao governo? Ele pode barrar a agenda do governo no Senado? No meu entendimento, ele é um político experiente e tem que prestar contas aos eleitores de Alagoas que também querem a mudança no Brasil. Ele tem essa responsabilidade. Eu, se estiver na presidência do Senado, o alinhamento com o discurso do governo, com o discurso de Jair Bolsonaro com os compromissos, aí é total e integral.

O presidente do Senado tem um papel de conciliação entre todos os integrantes da Casa. Como vai ser seu relacionamento com a oposição? Extremamente respeitosa a minha posição com relação à oposição, como sempre foi.

Como o sr. vai convencer seus opositores disso, porque na Câmara o sr. sempre fez discursos inflamados, tinha um posicionamento muito enfático contra a oposição? Sempre tive as minhas posições, minhas responsabilidades. Se eu for o presidente do Senado, aí eu passo a ser um ponto de equilíbrio em relação a isso. E o respeito à oposição é da democracia. Se você não tiver oposição, aí você tem uma ditadura estabelecida, e não é isso.

O sr. foi um dos principais cabos eleitorais de Bolsonaro na campanha. Tendo exercido este papel, como vai garantir autonomia do Congresso diante do governo? Todos os entes políticos que estão no Senado e na Câmara defendem suas posições políticas em determinado. Tivemos 46 senadores eleitos. Muitos deles vestiram a camisa pró-Jair Bolsonaro como fiz em São Paulo, e estão aptos também a dirigir o Senado, serem chefe de poder. A própria condição do cargo exige um equilíbrio em relação a todas as forças constituídas. Mais ainda no Senado, porque, aqui na Câmara ainda existe, em tese, um enquadramento da direção dos partidos sobre os parlamentares. O senador é muito mais independente. É quase uma instituição cada um dos gabinetes.

Então, é possível haver autonomia do Senado em uma eventual presidência do sr? Total.

Não é demais o PSL ter a Presidência da República e a presidência do Congresso? O DEM não tem três ministérios e a presidência da Câmara?

Mas não é a Presidência da República. E por que o Senado não pode ter um representante do PSL, que se elegeu com mais de 9 milhões de votos, também se colocando à disposição de presidir a Casa. Estamos num momento de tantas transformações, de mudança do contexto político, da forma de condução da Câmara e do Senado, de expectativa da população, de acompanhamento das coisas aqui. É perfeitamente possível.

Há uma interpretação de que sua candidatura ajudaria Renan Calheiros na medida em que tiraria votos de Tasso Jereissati [PSDB-CE]. O sr. concorda? Não acredito que isso possa acontecer. Para ser presidente, terei que conquistar mais votos que Renan, Tasso, Davi Alcolumbre [DEM-AP], Alvaro Dias (Podemos-PR). Não estou indo lá para tomar deles. Estou indo para buscar os meus.

A candidatura do sr. é algo definido? O sr. vai até o final ou isso pode ser revisto a partir de negociações com outros partidos? Houve essa determinação do partido. Sou um soldado do partido e vou cumprindo as missões que tenho. Até então, estava fazendo um papel de aglutinador de lideranças políticas tentando construir uma candidatura talvez única, mais sólida. A partir da determinação do partido, passo a ser uma opção, sem que vá parar essas interlocuções. Se, lá na frente, houver o entendimento de que devamos somar esforços numa outra candidatura, aí é uma definição não só minha, mas do partido como um todo e acho que isso vai ser construído.

Neste contexto de soldado para cumprir missão, qual será a sua como eventual presidente do Congresso? Primeiro, construir uma facilidade maior de governabilidade. Vamos ter que ter um número mágico de 49 votos para emenda constitucional. Isso terá que ser uma construção permanente. O resgate e o fortalecimento da posição do Poder Legislativo, com todo respeito, a Constituição já fala do equilíbrio e harmonia entre os Poderes, mas invasões indevidas na competência do Legislativo, muitas vezes feitas pelo Supremo Tribunal Federal, como chefe de Poder, temos que fazer com que se cumpra a Constituição, respeitando e exigindo o respeito em relação às competências constitucionais.

Haverá, então, posição de altivez em relação aos outros Poderes? Não tenha dúvida disso. Respeito todos os poderes constituídos, mas a exigência do respeito ao Legislativo, isso tem que ser uma máxima de quem sentar naquela cadeira de presidente do Senado.

Houve uma liminar do STF determinando voto aberto para a disputa da presidência do Senado. Como o sr. trataria esta questão? A manifestação do Eunício me parece que seria de recursar em relação a esta decisão liminar. Muito embora eu concorde que a eleição deva ser aberta, a forma como está sendo feita eu não concordo. Entendo que há uma invasão de competência. Como presidente da Casa, questionaria isso.

Tornando-se presidente do Senado, é o sr. quem manda na pauta. Que prioridades teria? O Senado tem um papel de uma Casa revisora. Temos que dar celeridade às pautas colocadas. Também devemos ter celeridade com a pauta do Congresso. Dentro de um alinhamento respeitoso com o governo, temos as demandas que vão ser encaminhadas pelo governo. [Temos que] tentar dar celeridade, principalmente à pauta da área econômica. Tem que ser a pauta prioritária.

O que muda do PSL da campanha para o PSL da vida real? Mudou muito pouco. O próprio discurso da posse de Jair Bolsonaro está só reafirmando conteúdos que apresentou para a população e que ela assimilou como possibilidade maior de se fazer realmente as mudanças. Não tenho visto incoerência.

Ainda no ano passado, parlamentares criticavam a interlocução política do governo porque os escolhidos para este papel não tinham canal aberto com o Senado. Como resolver esta questão? Ampliando esta interlocução. Eu e os outros senadores do partido estamos fazendo isso o tempo todo. Somos novos, estamos chegando, nos apresentando.

O sr. vai pedir voto a todos os partidos? Vou pedir voto ao PT?

Não vale a pena tentar? Respeitosamente, fica parecendo uma afronta a eles e não farei isso.

O sr. pretende viajar ou vai ser contato mais por telefone? O contato, já tenho feito isso, buscando me apresentar. Vou dizer ‘além disso estou me colocando como opção’.

O sr. falou que na Câmara é mais fácil um enquadramento dos deputados pelo partido. Foi isso que aconteceu no PSL para se declarar apoio a Rodrigo Maia? No PSL, é consensual.

Até recentemente, não era. O melhor dos cenários possíveis, que eu não acreditava que pudesse haver cenário tão positivo, aconteceu ontem: a abertura de espaço com a direção de duas comissões da magnitude que têm e o assento à Mesa, com a segunda vice-presidência. Entendo que o PSL tirou água da pedra.

Isso é o discurso dando lugar à realidade? Não. Isso é a realidade que se concretizou. O PSL corria um risco seríssimo de ficar com 53 parlamentares [oficialmente são 52, mas a cúpula do partido já conta com ao menos um ingresso durante a janela partidária] isolado, fora de bloco, sem participação nas comissões, sendo a 16ª opção, depois, numa escolha de comissão.

Mas como explicar isso para o eleitorado que os elegeu com base no discurso de que os senhores não queriam a velha política? Não é questão da velha política. Me dá as opções botando o pé no chão. Qual a opção que temos hoje de garantir governabilidade para aprovação das medidas mais necessárias e fundamentais para o país, para o governo? Quem mais ganhou com isso foi o povo brasileiro e o governo Bolsonaro, não o PSL.

O sr. não vê possibilidade de o PSL e o governo perderem este lastro de apoio popular por causa desta negociação? De forma nenhuma. Quais as candidaturas que estão colocadas e que permaneceriam colocadas? E me diga qual seria a opção para o PSL neste momento?

Então foi uma conta prática: quais as candidaturas e qual a viável? Sim. Sempre defendi uma candidatura própria do PSL à presidência [da Câmara] e a candidatura do Luciano Bivar [presidente nacional do partido]. Ele teve a altivez de dizer ‘vamos pensar numa coisa mais ampla que garanta a governabilidade’. E saímos construindo isso. Só que nem no melhor dos cenários eu imaginei que pudéssemos estar dentro de um bloco com solidez e participação tão efetiva e determinante em comissões tão importantes. Há uma dificuldade de você explicar para o eleitor, para as bases, para as pessoas que não conhecem o processo legislativo.

Da FSP