Vélez perderá tempo caçando ameaças que não existem
Como o chanceler Ernesto Araújo, o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, dá grande peso ao embate ideológico em suas manifestações. Em boa parte, os discursos de ambos coincidem —o que, infelizmente, ainda diz muito pouco sobre os planos do governo para o ensino público.
Tome-se como exemplo o pronunciamento de Vélez ao assumir o cargo, em que se destacou o compromisso de combater, “com denodo”, o “marxismo cultural hoje presente em instituições de educação básica e superior”.
Tampouco faltaram menções ao que se considera uma “onda globalista”, da qual faria parte a “ideologia de gênero” e cujos objetivos incluiriam solapar “a família, a igreja, a escola, o Estado e a pátria”.
Não se pode admitir, pontificou o ministro, que agências internacionais inoculem no país “pautas nocivas aos nossos costumes”.
Trata-se, como se vê, de uma extrapolação paranoica do ideário do movimento batizado de Escola sem Partido. De preocupações legítimas de pais com pregações doutrinárias, especialmente esquerdistas, em sala de aula, descamba-se para teorias conspiratórias sem amparo em nenhum tipo de pesquisa rigorosa.
Se tomar ao pé da letra a missão que se impôs, Vélez tende a criar novos riscos para o ensino nacional, tais como a censura e o denuncismo. Mais provável, porém, é que perca um tempo valioso no combate a fantasmas.
Nos momentos mais relevantes de seu discurso, o ministro afirmou que vai priorizar temas de fato centrais, como a educação básica, em especial a alfabetização, e a valorização do professor. Não apresentou, contudo, um plano de ação.
Suas primeiras medidas não se mostraram promissoras —e nem tanto pela extinção da secretaria responsável por ações de diversidade, aparentemente mais motivada pela birra com a palavra do que por alguma estratégia gerencial.
Preocupante foi a escolha de nomes para o segundo escalão. Seria de esperar que Veléz compensasse a sua inexperiência administrativa cercando-se de técnicos competentes e conhecedores dos meandros da máquina pública.
Entretanto 3 das 6 seis secretarias da pasta serão chefiadas por ex-alunos seus na Universidade Federal de Juiz de Fora. Nenhum deles possui experiência em gestão.
O MEC é uma estrutura gigantesca, que abriga mais de 40% dos servidores civis do Executivo federal. Tem pela frente enormes desafios na regulação e no financiamento do ensino público, num cenário de severa restrição orçamentária.
Dispõe ainda de conhecimento acumulado ao longo de décadas, que não pode ser substituído por cruzadas ideológicas.
Da FSP