Vem pra Rua se volta contra Renan
Depois de ter ajudado a derrubar Dilma Rousseff (PT), o Vem pra Rua escolheu Renan Calheiros (MDB) como o alvo da vez e diz esperar as investigações sobre a família de Jair Bolsonaro (PSL) para decidir se é o caso de protestar contra o presidente da República.
Por ora, o movimento vê no presidente um aliado para concretizar uma de suas bandeiras: o avanço para um Estado menor, “eficiente e desinchado”, na definição do grupo. Estão de acordo em reformas, como a da Previdência.
Criado em 2014 com o mote do combate à corrupção, o VPR foi indutor dos protestos pelo impeachment de Dilma, ao lado de organizações como o MBL (Movimento Brasil Livre) e o Nas Ruas. Em março de 2015, atos contra o governo em todos os estados reuniram 1 milhão de pessoas.
Esvaziado depois da saída da petista, o movimento buscou outras pautas, sem o mesmo barulho de antes. Abraçou causas mais genéricas, como fim do foro especial e suspensão do indulto de Natal.
Também defendeu punição para o então deputado Eduardo Cunha(MDB-RJ), cobrou o afastamento do presidente Michel Temer (MDB) após ele ser denunciado e gritou pela prisão de Lula (PT).
“Somos legalistas. Não posso acusar uma pessoa que não foi investigada. Nós só vamos para cima quando ela passa a ser investigada ou é denunciada”, diz Adelaide Oliveira, coordenadora nacional do VPR.
É essa a razão, segundo ela, pela qual o movimento está quieto diante das suspeitas que envolvem o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
“Tem que investigar até o fim. Não só o caso dele, mas também o dos outros 26 deputados [estaduais do Rio, citados em relatório do Coaf, o órgão federal de controle financeiro]. Somos contra o foro privilegiado.”
Corretora de imóveis e ativa no celular em mais de 40 grupos de militância política, Adelaide está no movimento desde o início. Afirma que faz tudo voluntariamente, como os outros 150 líderes espalhados por cerca de cem cidades pelo país. No auge, o grupo chegou a fazer atos simultâneos em 400 municípios.
A fase agora é outra: em 20 de janeiro, domingo, um ato contra a eleição de Renan para presidente do Senado reuniu na avenida Paulista, segundo o VPR, 400 pessoas —a reportagem da Folha estimou 150.
Apesar da baixa adesão, novas manifestações estão nos planos. “Ele representa a velha política, feita com troca de cargos e toma lá, dá cá. Vai na direção oposta do que a população quer da política. Se ele chegar lá, nós vamos andar para trás”, diz Adelaide.
A pressão inclui lobby direto e conversa com senadores em Brasília. “Eles nos recebem porque sabem que conseguimos colocar gente na rua”, segue ela, porta-voz desde 2018, quando seu antecessor, Rogério Chequer, se afastou do posto para concorrer a governador de São Paulo pelo Novo.
Terminou em 6º lugar no pleito, com 673.102 votos (3,32% do total). O engajamento virtual era apontado como um trunfo de sua campanha. “Ajudei a desenvolver uma plataforma grande de mídia social no Vem pra Rua, mas a minha mesmo só fui desenvolver em 2018”, justifica o empresário, com 114 mil seguidores no Facebook.
O movimento ultrapassa 2,2 milhões de apoiadores em sua página oficial. Passada a derrota, Chequer continua ligado ao VPR, mas sem cargo de comando no grupo que fundou com amigos quatro anos atrás.
Hoje ele é mais um voluntário. No ato do dia 20, vestia camiseta preta em vez da verde e amarela que costumava usar no passado, quando subia no caminhão de som e falava à multidão. Ouviu os discursos num canto da Paulista.
O saldo eleitoral foi distinto do alcançado por “grupos irmãos” que tiveram líderes de expressão nacional vitoriosos em outubro. Kim Kataguiri (DEM-SP), do MBL, e Carla Zambelli (PSL-SP), do Nas Ruas, por exemplo, viraram deputados federais.
Chequer e Adelaide têm explicações parecidas para a diferença. Falam que o VPR é suprapartidário e quer se manter independente para criticar qualquer legenda. Afirmam ainda que evitam misturar o papel institucional com eventuais pretensões pessoais.
A jornada até aqui foi positiva, na avaliação dos integrantes. Comemoram ter “desalojado o PT do poder” e acreditam que a renovação vista no pleito, principalmente no Legislativo, teve uma mãozinha de grupos como o VPR.
“Os cidadãos se engajaram de uma maneira inédita. Houve ganhos, muita gente nova se elegeu, mas também muita gente sem qualificação, que não foi preparada. Isso precisa melhorar”, analisa a porta-voz, que recusou convites para se filiar ao Novo e para entrar no RenovaBR, grupo de incentivo a potenciais candidatos.
“Conseguir o impeachment foi um ato heroico. Era um partido poderoso e infiltrado no sistema todo”, acrescenta ela. “Votei contra o PT [para presidente no segundo turno] e votarei quantas vezes for preciso. O PT deveria ser extinto.”
Da FSP