Vendedor que filmou Damares em loja é demitido
Thiego Amorim, vendedor que filmou a ministra Damares Alves e que a acusa de pegar em seu pescoço, foi demitido da loja da grife Cantão. Ele postou no Facebook neste domingo (13):
Amores, venho atrás desse post informa lo que não faço mas parte do quadro de funcionários da marca. Ali ficou pequeno demais pra mim. Agradeço o apoio de todos e já tô pronto pra próxima batalha. Obrigado pelo apoio e carinho do Brasil inteiro. Eu não vou desisti, nunca desisti e não vai ser agora. Estamos juntos bjs amo vocês.
Ele concedeu entrevista ao DCM falando sobre o caso.
Thiego Amorim viralizou nas redes sociais num vídeo com a ministra Damares Alves na loja da grife Cantão num shopping de Brasília.
O vendedor diz que gravou o momento final de seu encontro com ela. Thiego afirma que há uma gravação da câmera do estabelecimento com uma ameaça de Damares. Segundo seu advogado, ele solicitou o registro, mas não foi atendido.
“Entramos com uma ação na PGR por ela ter pegado no pescoço do Thiego”, afirma o advogado Suenilson Sá.
Eles solicitam que o Ministério Público abra investigação se encontrar crime no ocorrido. O MP poderá também pedir a gravação. A loja pediu desculpas à ministra.
Ao DCM, Thiego Amorim disse que não foi demitido após o episódio.
Diário do Centro do Mundo: O que aconteceu no episódio com a ministra Damares Alves na loja onde você trabalha em Brasília?
Thiego Amorim: Trabalho no comércio há mais de 12 anos, tudo o que faço é com ética. Não sei profundamente sobre política porque não sou dessa área, mas reconheci a ministra por causa das notícias mais recentes.
Ela estava com duas meninas que eram suas assessoras. Escolheu uma peça de roupa, foi ao provador e não deu certo. Enquanto ela estava no provador, eu perguntei a uma amiga se ela era mesmo a ministra.
Demos uma olhada no Google e vimos que era ela mesma. Disse que ia perguntar sobre essa história do azul e do rosa.
Tinha lido sobre essa notícia uma hora antes. Ao sair do provador, perguntei pra ela: “ministra, que história é essa de menino veste azul e menina veste rosa?”. Ela se aproximou e pegou no meu pescoço, quase no ombro.
DCM: Ela te agarrou?
TA: Ela pegou como de forma para falar: “você sabe com quem está falando?”. Não disse essas palavras, mas a intenção foi essa. Fez isso de uma forma rude e grosseira. Foi aí que eu tirei o celular do bolso para gravar e as assessoras tentaram me impedir.
Foi naquele momento que a ministra falou: “Vou acabar com a ideologia de gênero nas escolas”. Respondi que isso não existe e ela afirmou que essa ideologia está nas escolas porque ela é professora.
E então falei: então por que a senhora está de azul? Nesse momento ela se afastou de mim e eu consegui gravar. A ministra Damares dizia naquele momento que eu estava constrangendo ela. Falei: “você que me constrangeu, meu amor”. Disse isso por ela ter colocado suas mãos no meu pescoço.
Atendo muitas pessoas poderosas na loja, de celebridade até donas de clínicas, deputadas, senadoras. Jamais toquei nessas pessoas sem ter permissão. Espero que ninguém seja obrigado a tocar em ninguém.
Quero também corrigir uma informação: a ministra Damares não me esganou, não puxou meu pescoço e nem nada do tipo. Ela só pegou no meu pescoço.
Há pessoas que não gostam de ser atendidas por mim, mesmo eu conhecendo muito bem os produtos e tudo com o que eu trabalho. É uma batalha diária que eu passo, matando um leão pra mostrar que eu trabalho bem nisso.
Pra mim a declaração dela acabou sendo uma gota d’água. Não sou de direita e nem de esquerda, não ergo bandeira nenhuma e batalho pelo meu.
DCM: Você publicou o vídeo de Damares. Como foi a repercussão?
TA: A repercussão tem dois lados. Começou superpositiva, com muita gente me dando apoio. Eu tinha quatro mil seguidores e subiu pra 19 mil. As pessoas começaram a seguir o Thiego por quem ele é.
No Instagram da marca da loja, algumas pessoas foram lá pedir a minha demissão. Isso não vai acontecer porque o que conta lá são os números. Eu tenho bons números de venda e faço meu trabalho profissionalmente. Isso é verdade tanto que não tratei a ministra Damares mal e ela chegou a provar roupa na loja.
A parte realmente boa é que o carinho das pessoas nas redes sociais está me gerando mais vendas. Estou vendendo tanto que não estou conseguindo dar conta de toda a demanda. Não consigo ir no banheiro ou comer.
A parte ruim é que tiveram pessoas como aquele maquiador que é gay e apoia Bolsonaro que acessou meu instagram e falou absurdos. Eles vão ser processados porque eu não sou um zé ninguém.
Recebi apoio de deputados como a Erika Kokay, políticos do Rio, além de celebridades como Cléo Pires, Fernanda Lima, Maria Rita que disse que me ama, Nando Reis compartilhou meu vídeo. Então, assim, hoje tenho uma rede de apoio. Sempre fui assim de questionar porque sou minoria. Sou negro e gay. Se eu não impuser respeito, as pessoas não vão me respeitar.