Witzel segue a onda bolsonarista e acha que seus excessos serão relevados

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O novo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), segue exibindo um pendor para comportamentos excêntricos. Alguns, por inócuos ou ridículos, podem ser classificados na rubrica do folclore que alguns políticos abraçam —mas não quando a extravagância agride normas constitucionais.

Na primeira categoria se inscrevem iniciativas como a de mandar confeccionar uma faixa colorida para envergar no dia posse. Mal não fez, a não ser para a sobriedade que deveria acompanhar a cerimônia num estado como o do Rio, após os trágicos governos do MDB.

Para um ex-juiz, entretanto, Witzel se excede de fato e de direito quando conduz seu governo para o terreno pantanoso da arbitrariedade e da afronta à Constituição, que em seu artigo 220 veda toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

Não há outros termos para qualificar a proibição imposta à Casa França-Brasil, instituição da Secretaria de Cultura: Witzel e seu secretário da área, Ruan Lira, impediram que se realizasse o programa previsto para o último dia (13) da mostra “Literatura Exposta”.

O curador Álvaro Figueiredo não hesitou em qualificar como censura o veto a que se apresentasse uma performance do grupo És Uma Maluca com nudez feminina e alusões a tortura durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985).

Como que temendo a repercussão negativa, Witzel e Lira se escudaram no pretexto andrajoso de que o programa dominical não havia sido incluído em contrato. Em poucas palavras, expõem a própria pusilanimidade a serviço do moralismo e do revisionismo histórico. E não foi sequer o primeiro atentado censório contra a exposição.

Em dezembro, o diretor da Casa França-Brasil, Jesus Chediak, havia proibido —sob a justificativa de não depreciar um presidente — a veiculação da voz do eleito Jair Bolsonaro (PSL) numa instalação do mesmo coletivo em que baratas de plástico assomavam de um bueiro sobre azulejos, noutra referência à tortura.

Witzel surfou a onda bolsonarista para surpreender a muitos e eleger-se governador. Discursou em ato de campanha pró-Bolsonaro no qual foi rasgada placa com o nome da vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL); depois, desculpou-se e repudiou a intolerância.

Já eleito, Witzel permitiu-se defender o abate pela polícia de portadores de fuzil, licença que excede em muito a legalidade do que estaria a seu alcance como governador. Empossado e censor, parece crer que seus excessos —agora não só retóricos— seguirão relevados.

Da FSP