A novidade nem sempre é boa

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Leia a coluna de Joel Pinheiro da Fonseca, economista, mestre em filosofia pela USP.

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Ser novo não é ser bom

Onyx Lorenzoni conseguiu uma grande vitória e se fortaleceu na cadeira ao emplacar Davi Alcolumbre na presidência do Senado. Renan Calheiros, ao mesmo tempo, se revelou muito mais frágil do que parecia, e as grosserias publicadas por ele contra a jornalista Dora Kramer só reforçam a alegria que é vê-lo longe dessa posição tão importante.

Renan perdeu, portanto o novo venceu? Não tão rápido. Alcolumbre, amigo pessoal de Onyx (e empregador de sua esposa no gabinete), votou contra cassar Aécio e tem investigações contra si correndo no STF.

Com Onyx tendo já admitido caixa dois no passado, Ricardo Salles (ministro do Meio Ambiente) condenado por improbidade administrativa, Marcelo Álvaro Antônio (ministro do Turismo) com sérias suspeitas de ter montado um esquema de candidatas laranjas e, por fim, Flávio e o próprio Jair Bolsonaro enrolados com um ex-assessor que tem vínculos preocupantes com milícia carioca, fica difícil ver no governo alguma grande revolução ética.

Seus defensores podem até argumentar que o que foi descoberto até agora é muito menor que a corrupção do PT, mas o fato é que o novo governo não corresponde ao ideal de incorruptibilidade e luta implacável contra todo e qualquer desvio.

Isso não é necessariamente ruim. Renovar não é fim em si mesmo. Queremos um governo que entregue mudanças importantes para o Brasil. O ideal de anjos de pureza moral e ideológica —em combate contra uma força do mal claramente identificada— é, além de falso, contraproducente e perigoso.

Os seres humanos são sempre imperfeitos e muitas vezes corruptos, e é com isso que temos que trabalhar. Por vezes, alguém de práticas questionáveis —mas capaz de negociar— entrega mais resultados do que o impoluto inflexível e, por isso, inútil.

Dito isso, o governo Bolsonaro será capaz de entregar o que promete? No curto prazo, sou otimista. Com Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre claramente a favor da reforma da Previdência e a equipe econômica do governo trazendo uma proposta ousada para mesa de negociação, a reforma deve passar, aliviando a corda no pescoço das contas públicas.

Com isso, o Brasil seguirá crescendo e mais investimentos serão feitos, de capital doméstico e internacional.

Neste momento, Renan Calheiros está muito enfraquecido, e a esquerda inexiste como força política relevante. Há um entendimento geral, na política e na população, que algum tipo de reforma terá que ser feito.

É uma pílula amarga, mas necessária. E que, a bem da verdade, acaba com muitos privilégios que, hoje em dia, tornam nossa distribuição de renda ainda mais injusta.

O pacote legislativo de Sergio Moro, ele próprio polêmico por conter trechos possivelmente inconstitucionais e por aumentar os casos em que policiais podem matar impunemente, deveria, sob essa lógica, ficar para um segundo momento.

Gastar capital político nele, em um Congresso que já é muito fragmentado e no qual as maiorias do governo podem facilmente se esfacelar, com novas denúncias surgindo toda semana, é jogar fora o grande bem que o governo pode fazer.

O governo Bolsonaro —analisado como um todo— não prima pela coesão interna, pela pureza ética de seus membros e nem pela competência. No campo dos valores, traz posicionamentos abomináveis. Mesmo assim, é o que tem para hoje.

Se não errar de maneira espetacular (o que é sempre uma possibilidade) pode ser o protagonista de mudanças importantes. Política é assim: aquilo que abominamos pode trazer o bem.

Da FSP