Amorim: ao negar invadir Venezuela, Mourão acaba sendo o mais sensato

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Em um encontro histórico, a TV 247 reuniu um dos maiores especialistas em geopolítica do mundo, o jornalista Pepe Escobar e o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, que já foi classificado pela revista estadunidense Foreign Policy como o melhor chanceler do mundo. Na entrevista concedida a Pepe Escobar, Amorim relata como ocorreu a construção do BRICS e também avalia a presença intensa dos militares no governo Jair Bolsonaro. Segundo o ex-ministro, “ao negar invasão na Venezuela”, o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, “acaba sendo o mais sensato do governo”.

BRICS e o mundo multipolar

Celso Amorim revela que o bloco político de cooperação entre os países Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul surgiu como embrião numa reunião do chanceler brasileiro com o ministro das Relações Russas Sergei Lavrov, logo que Lula assumiu a presidência, em 2003.

Na sequência, as reuniões entre os líderes desses países ganharam mais corpo “quando foram realizadas paralelamente aos fóruns da Organização das Nações Unidas (ONU)” e também “fora de Nova Iorque”. “No encontro realizado no Brasil é que a composição do Bric começou a ser materializada”, recorda. O bloco foi oficializado em 2006.

Em 2011, a letra S foi adicionada à sigla Bric, com o ingresso da África do Sul (South Africa) no bloco, transformando-se em Brics

Amorim salienta que havia no Brics “um clima de confiança” e que fica o questionamento de como o “Brasil irá se comportar” com a nova gestão na presidência da República. “Até mesmo porque o Brasil irá presidir o Brics em 2019”, projeta.

Questão Venezuela

Amorim observa que o tensionamento torna-se cada dia mais “perigoso” na Venezuela e teme que o país vizinho transforme-se em um “novo Afeganistão”, invadido pelos EUA em 2001 e que gera um imbróglio que já dura 18 anos.

A preocupação do ex-ministro é referente à tensão no local. De um lado existe pressão dos EUA e os países subordinados à sua política para derrubar Nicolás Maduro da presidência, contando com o apoio da oposição golpista liderada por Juan Guaidó, que se autointitula presidente interino da Assembleia Nacional da Venezuela.

Por outro lado, Maduro não está isolado neste cenário e conta com o apoio político das potências China e Rússia, que ofertam apoio diplomático e fortalecem suas relações econômicas com o país vizinho.

“A Venezuela é a maior potência petrolífera do planeta, é natural que China e Rússia busquem uma aproximação”, observa.

Ele ainda classifica como “sensata” a postura de Mourão. Ao contrário de Bolsonaro, que cotidianamente profere ataques verbais a Maduro, o general já declarou que “não há interesse do Brasil em invadir militarmente a Venezuela”.

Apesar da fala de Mourão, Amorim destaca que o chanceler Ernesto Araújo já sinalizou que irá apoiar economicamente e politicamente Guaidó. “Ou seja, já é uma forma de intervenção”, completa.

Em um pior cenário de guerra na Venezuela, Amorim expõe que, ao contrário do que foi a guerra do Vietnã, com milhares de soldados estadunidenses mortos, hoje já não há mais tolerância com a morte de soldados mortos em operações militares. “Quando chegam 10, 20 cadáveres, já é muito, há um limite dos EUA neste sentido de invadir países”, afirma.

“Por outro lado”, segue o ex-ministro, “considero que a Rússia e a China não irão tão longe em um conflito militar na América Latina. No máximo ocorrerá um apoio indireto”.

Ditadura militar no Brasil

Ex-ministro da Defesa no governo Dilma, ele teve uma atuação direta com as Forças Armadas. Questionado sobre o perfil atual da cúpula militar, Amorim disse que “em grande parte, eles possuem uma visão nacionalista do Brasil no que diz respeito a questão territorial”.

Questionado por Pepe Escobar se o Brasil vive uma ditadura militar, Amorim salienta que o Brasil não vive este estágio de repressão. “Caso contrário, nem poderíamos estar neste entrevista”, conclui.

De Brasil 247