Carlos Bolsonaro se lembra que é vereador e foca em entregar medalha a Mourão

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O vereador Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente da República Jair Bolsonaro (PSL), compareceu hoje à primeira sessão da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro no ano legislativo de 2019. Sem dar entrevista, o filho de Bolsonaro publicou via Twitter apoio a uma proposta de homenagem ao vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), no dia seguinte em que o general fez críticas à exposição da crise no governo após divulgação por Carlos de um áudio do presidente.

Um dos pivôs da crise que envolve o secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, suspeito de autorizar repasses do fundo do PSL para suposta candidata fantasma nas últimas eleições, e Jair Bolsonaro, Carlos silenciou sobre a crise no governo. Assessores de políticos chegaram a fazer fila para apertar a mão de Carlos e tirar selfies na chegada ao plenário da Câmara.

Interlocutores do presidente afirmam que Jair Bolsonaro decidiu atender a apelos políticos e manter Bebianno no cargo. A informação foi dada a Bebianno pelos colegas Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo), segundo informou o “Estadão Conteúdo” no começo da tarde de hoje.

No post publicado durante a sessão legislativa na tarde de hoje, o vereador endossa pedido de Jimmy Pereira (PRTB) para homenagear o general Mourão.

O apoio à homenagem acontece um dia após Mourão afirmar, sem citar Carlos, não ser bom que o caso de Bebianno seja discutido em público. “Eu acho que não é bom essa exposição. Não é boa. Não faz bem. […] Não é questão de ficar triste, né? É uma questão de que não é bom uma discussão dessas em público”, declarou.

Carlos também ouviu no plenário a mensagem com as diretrizes propostas pela Prefeitura do Rio aos vereadores da capital. Estava prevista para hoje a votação da primeira matéria do ano (a criação de um Sistema Municipal de Cultura, proposta do Executivo), mas a sessão caiu por falta de quórum.

Abraços de opositores e selfies

Na chegada à primeira sessão de 2019, o filho do presidente foi recebido por antigos aliados e opositores como figura ilustre. De Tarcísio Motta (PSOL) –de quem ganhou um abraço apertado com tapas nas costas– a César Maia (DEM), pai do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), todos fizeram questão de cumprimentá-lo. Os trabalhos da Câmara foram retomados depois de 45 dias de recesso.

Vários dos presentes durante a proposta de homenagem a Mourão com a Medalha Tiradentes tiraram fotos da assinatura do documento, que Carlos postaria minutos depois no Twitter.

Uma das assessoras presentes no plenário comentou com jornalistas presentes: “eu nunca vi uma cena dessas”. No entanto, a presença dele no plenário durou pouco mais de 30 minutos. O vereador se retirou e não acompanhou a votação da primeira matéria do ano na Câmara –por falta de quórum a votação não foi realizada.

Em 2018, Carlos Bolsonaro se licenciou por três vezes dos trabalhos legislativos. Os afastamentos somam 120 dias e coincidem com o período em que ficou responsável pela comunicação da campanha do pai à Presidência.

Em dezembro, quando a última licença já havia vencido, Carlos faltou por três vezes, de acordo com o Portal Transparência da Câmara. Se levado em consideração todo o ano de 2018, o vereador faltou a oito ocasiões e abonou quatro ausências.

Entenda a crise e a suspeita de laranjas

Carlos assumiu o papel de “pivô da crise” ao desmentir versão de Bebianno, publicada pelo jornal “O Globo” na última terça-feira (12), em que negou que houvesse crise no governo e afirmou ter falado três vezes com o presidente somente naquele dia. Bebbiano disse também não ter qualquer responsabilidade sobre o repasse de R$ 400 mil à ex-candidata a deputada federal por Pernambuco Maria de Lourdes Paixão.

Em resposta, Carlos postou: “Ontem estive 24h do dia ao lado do meu pai e afirmo: ‘É uma mentira absoluta de Gustavo Bebbiano que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro para tratar do assunto citado pelo Globo e retransmitido pelo Antagonista'”, escreveu Carlos em seu Twitter.

O vereador ainda publicou um áudio em que o presidente diz a Bebianno que “está complicado conversar”. “Não vou falar, não vou falar com ninguém, somente o essencial”, disse Bolsonaro. A divulgação da conversa deflagrou o momento mais crítico da crise, provocando até mesmo críticas de integrantes do PSL, como a deputada federal Joice Hasselmann (SP).

O próprio presidente chegou a retuitar em sua conta na rede social o post do filho com o áudio da conversa. Já em entrevista à “TV Record”, gravada pela manhã e exibida à noite, Bolsonaro declarou que era mentira que teria conversado com Bebianno na terça.

Reportagem da “Folha de S.Paulo” mostrou em 10 de fevereiro que o grupo de Luciano Bivar, atual presidente do PSL, criou uma candidata laranja em Pernambuco, que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público a quatro dias da eleição de 2018. Maria de Lourdes Paixão, 68, concorreu a deputada federal e foi a terceira maior beneficiada com verba do partido de Bolsonaro em todo o país –no entanto, ela recebeu apenas 274 votos.

A prestação de contas dela, que é secretária-administrativa do PSL do estado, sustenta que 95% do valor recebido foram gastos para imprimir 9 milhões de santinhos e cerca de 1,7 milhão de adesivos em uma gráfica. No entanto, a “Folha” visitou os endereços indicados por Maria de Lourdes e não encontrou sinais de que ali tenha funcionado o estabelecimento indicado. O responsável formal por autorizar repasses dos fundos eleitoral e partidário foi Bebianno, então presidente em exercício do PSL.

Depois das denúncias, iniciou-se o conflito entre Luciano Bivar e Gustavo Bebianno, respectivamente presidente licenciado e presidente em exercício do PSL à época da eleição.

Bivar atribuiu a Bebianno a decisão sobre o repasse de dinheiro público à suposta candidata laranja de Pernambuco, mas o ministro negou ter sido o mandante da transferência. À rádio “CBN”, Bebianno disse que nunca viu Maria de Lourdes.

Nova denúncia apresentada em reportagem da “Folha” ontem mostrou que Bebianno liberou R$ 250 mil para a candidatura de uma ex-assessora, que por sua vez repassou parte da verba para a mesma gráfica de fachada utilizada por Maria de Loudes Paixão. A ex-candidata Érika Siqueira Santos, que trabalhou como assessora do partido diretamente com Bebianno, tentou uma vaga na Câmara dos Deputados e obteve apenas 1.315 votos.

Em entrevista à “TV Record”, Bolsonaro chegou a indicar que, caso Bebianno, seja responsabilizado no caso das candidaturas laranjas do PSL seria demitido.

Do UOL