Polícia Federal abriu inquérito sobre denúncias de desvio de R$ 400 mil do PSL

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O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem à noite, em entrevista ao “Jornal da Record”, que a Polícia Federal abriu inquérito para investigar as denúncias de desvio de R$ 400 mil do fundo partidário para financiar candidaturas laranjas patrocinadas pelo seu partido, o PSL.

Ele acrescentou que se o ministro Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência – que presidia a legenda durante a campanha – estiver envolvido, e for “responsabilizado”, ele terá que deixar o cargo. “Lamentavelmente, o destino [dele] não pode ser outro a não ser ele voltar às suas origens”, afirmou.

Ontem havia expectativa de que Bebianno pedisse demissão. Ele foi ao seu gabinete na parte da manhã, mas não retornou à tarde nem foi ao encontro de Bolsonaro no Alvorada. O ministro também não respondeu de forma detalhada as acusações de desvios no PSL, embora negue as candidaturas laranjas. A bancada do PSL reuniu-se à noite em um jantar para discutir a crise no partido.

Bolsonaro confirmou as acusações feitas pelo filho Carlos Bolsonaro contra Bebianno nas redes sociais, de que o ministro mentiu ao declarar que teria falado por telefone com o presidente no hospital. “É mentira, em nenhum momento eu conversei com ele [Bebianno], ressaltou. Bolsonaro ressalvou que uma “minoria” do partido está envolvida nesse tipo de operação, e disse que a abertura do inquérito para a Polícia Federal investigar o PSL é a “resposta” que ele dá a quem praticar corrupção.

Ontem Carlos Bolsonaro foi ao Twitter chamar Bebianno de mentiroso. “Ontem [dia 12] estive 24h do dia ao lado do meu pai e afirmo: É uma mentira absoluta de Gustavo Bebbiano que ontem [dia 12] teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro”, afirmou. À noite, a conta de Bolsonaro no Twitter replicou a postagem do filho.

Carlos também compartilhou um áudio de Bolsonaro, em que o presidente explicaria para um “Gustavo”, supostamente Bebianno, que não poderia falar por ordens médicas. “Ô Gustavo, tá complicado eu conversar ainda, então não vou falar, não vou falar com ninguém a não ser estritamente o essencial e estou em fase final de exames pra possível baixa hoje, está ok? Boa sorte aí”.

Ao jornal “O Globo”, Bebbiano disse que teria conversado com Bolsonaro várias vezes na terça-feira, e negou qualquer mal estar no governo diante das denúncias do desvio de R$ 400 mil do fundo partidário para uma candidatura laranja do PSL. Bebianno foi presidente da legenda no ano passado, inclusive durante a campanha.

Ontem no início da noite Bolsonaro recebeu um grupo de ministros de seu núcleo mais próximo no Palácio da Alvorada: o general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Na cúpula militar do governo, a avaliação é de que Carlos Bolsonaro comportou-se mal, criando um desgaste desnecessário justo no retorno do presidente ao Planalto. Mas na entrevista de ontem, Bolsonaro saiu em defesa dos filhos: “parte da mídia tenta me jogar contra meus filhos e meus filhos contra mim, não existe isso”, rechaçou.

Irmão mais novo, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse ao Valor que não havia analisado a “gravidade” das denúncias de candidaturas-laranja em seu partido. “O que eu tenho acompanhado é o que está principalmente no Twitter. A mesma informação que eu tenho é a que vocês têm”, esquivou-se. “Não vou falar já o que eu não sei. De repente eu posso dar uma canelada. Prefiro me resguardar”, afirmou.

O ministro da Casa Civil minimizou o episódio e saiu em defesa de Bebianno. “Tem que ter paciência. A gente tem que ir com calma. O ministro Gustavo Bebianno é uma pessoa super dedicada ao projeto, é um homem sério, responsável, correto”, ponderou. “Essas coisas são naturais num processo que está iniciando. É como time de futebol: nem sempre o lateral se acerta bem com o ponteira”, comparou.

A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) disse que o governo não pode ser um puxadinho da casa de Bolsonaro. “Não cabe a nenhum filho usar mensagem do presidente para desestabilizar um ministro”.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), negou que a turbulência familiar interfira no andamento das propostas do governo na Casa, e defendeu Bebianno, que é seu interlocutor no Planalto.

“Não é problema meu [se é uma interferência dos filhos no governo]. O que tenho a dizer é que Bebbiano é um cara muito correto, nesse processo da minha eleição, ele cumpriu papel importante para o governo de diálogo, deixando claro, mostrando que não haveria nenhuma interferência do governo. Tudo que ele falou aconteceu”, concluiu.

Do Valor