Sem Bebianno, Bolsonaro fica sem comunicação direta com Maia
Com a saída do ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, a comunicação do governo de Jair Bolsonaro com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), passará a se restringir à equipe econômica.
O chefe da Secretaria-Geral era o único do primeiro escalão do Palácio do Planalto a falar diretamente com o presidente da Câmara, que é desafeto do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
Aliados temem que isso possa prejudicar a articulação política do governo em projetos de peso, como a reforma da Previdência.
Maia tem boa relação com o ministro da Economia, Paulo Guedes, com quem conversa diariamente, e com o secretário da Previdência, Rogério Marinho. Na área política, porém, era Bebianno seu principal canal.
O parlamentar não tem mantido diálogo com Onyx, que articulou contra sua reeleição para o comando da Casa, e tampouco com o general Santos Cruz, à frente da Secretaria de Governo. As duas pastas são as responsáveis pela interlocução entre Executivo e Legislativo.
Bebianno tornou-se o centro de uma crise instalada no Palácio do Planalto depois que a Folha revelou a existência de um esquema de candidaturas de laranjas do PSL, presidido pelo ministro entre janeiro e outubro de 2018.
Depois, foi criticado publicamente pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), um dos filhos do presidente, além de ter sido chamado de mentiroso pelo próprio presidente.
Sua exoneração foi confirmada no final da tarde desta segunda-feira (18).
Ao longo da semana passada, Maia se movimentou para evitar a saída de Bebianno do cargo, telefonando para Guedes para tentar apaziguar a crise e dando declarações defendendo o ministro.
Ele colocou na mesa a aprovação da reforma da Previdência, mas o chefe da equipe econômica não se mobilizou.
Parlamentares do PSL aconselharam Bolsonaro a não comprar briga com o presidente da Câmara às vésperas da apresentação do projeto que mudará as regras de aposentadoria, considerado crucial para o governo.
Além disso, dizem que o governo tem mais a perder do que Maia numa disputa de poder, já que ele tem o poder de pautar a votação da reforma.
Aliados do presidente da Câmara, porém, avaliam que não haverá impacto na tramitação da Previdência e avaliam que se trata de “fofoca” o temor de que ele pudesse segurar a tramitação caso se sinta ameaçado pelo Planalto. Um dos principais defensores da mudança nas aposentadorias desde o governo de Michel Temer, o parlamentar tem mostrado disposição de tocá-la independente da relação com o governo.
Mas deputados do partido de Jair Bolsonaro veem com preocupação o impacto da crise no Congresso, para além de Maia.
Segundo eles, a ingerência de Carlos no governo federal para ajudar a fritar Bebianno publicamente causou estremecimento nas relações entre Poderes.
Não tanto por causa da figura do ministro, apesar de deputados ouvidos pela Folha o classificarem como um dos aliados mais “afáveis” de Bolsonaro, mas porque surgiu desconfiança com relação à disposição do Planalto de jogar aos leões seus aliados, mesmo os de primeira hora.
Eles temem que possa haver ação parecida contra outros aliados do presidente se isso desagradar o filho.
Da FSP