Muzema está dominada pela máfia

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Moradores do Muzema dizem que a presença de milicianos ainda é bastante ostensiva na região, mesmo apenas três meses após a Operação Intocáveis, desencadeada pelo Ministério Público do Rio e Polícia que prendeu supostos chefes da principal organização criminosa da Zona Oeste, considerada a milícia mais antiga do Rio. Moradores também afirmam que milicianos se escondem nas comunidades da área.

Uma antiga moradora do condomínio Figueira do Itanhangá, na Muzema, Zona Oeste do Rio, onde dois prédios desabaram na manhã desta sexta-feira, relata que a invasão de milicianos no condomínio ocorreu há pouco mais de dois anos.

Dona de uma casa no local, ela diz que comprou o terreno em 2008, mas só passou a morar lá em 2017, quando sua casa ficou pronta. Um ano depois, com a presença de um grupo paramilitar, ela viu-se obrigada a pagar uma taxa de R$ 100 todo mês, uma espécie de condomínio.

– A relação com eles é péssima, né? Eles são donos de tudo. Tem morador que é revistado para poder entrar no condomínio. Antigamente, aqui era um condomínio em que as pessoas compravam o terreno para fazer casas. Mas, desde que eles chegaram, começaram a fazer vários prédios. De um ano para cá, foi uma explosão de construções – relata.

Segundo ela, o nome do condomínio vem de uma figueira que ficava na rua de entrada do condomínio e foi cortada por milicianos para a construção de um prédio.

Uma placa na entrada do condomínio informa que a cobrança de uma taxa dos moradores se tornou obrigatória desde janeiro 2018. O pagamento precisa ser feito até o dia 10, com multa diária de R$ 1 por atraso. O valor é de R$ 60 para apartamentos e R$ 100 para casas. O pagamento é feito na Associação de Moradores da Muzema, localizada na Avenida Engenheiro Souza Filho 574.

Nem mesmo a presença de equipes de resgate impediu a movimentação de milicianos. Enquanto a reportagem do GLOBO conversava com moradores locais, homens que seriam olheiros da milícia passaram de moto observando a movimentação.

– Tem que tomar cuidado porque os olheiros estão passando. Eu não posso falar muito – alerta outra moradora.

Uma terceira moradora diz que, além da taxa, paga R$ 60 pela TV a cabo. Com medo, ela evita ser vista conversando com jornalistas:

– Tudo aqui tem que pagar para eles. Eles observam tudo e dizem que, se não fizermos nada de errado, como roubar, não vai nos acontecer nada.

Após o acidente, há quem lamente a falta de controle nas construções.

– Aqui não tem lei. A prefeitura não quer saber – resume um morador.

De O Globo