Para variar, Bolsonaro fala um monte de bobagens. Dessa vez, foi sobre a F1

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Depois do susto dado a autoridades de São Paulo ao dizer que o Grande Prêmio de Fórmula 1 estava de malas prontas para o Rio de Janeiro em 2020, o presidente Jair Bolsonaro telefonou nesta sexta-feira para o governador João Doria para se explicar. Bolsonaro disse que não tem preferência por São Paulo ou Rio na disputa pela sede do evento automobilístico, e que somente deseja que ele permaneça no Brasil.

Foi o segundo contato do presidente com Doria desde que, na quarta-feira, ele assinou um termo que cedeu ao governo do Rio um terreno para a construção de um novo autódromo na capital fluminense. Na quinta-feira, Bolsonaro havia disparado um áudio pelo WhatApp para o governador em sinal de paz.

A confusão começou quando Bolsonaro assinou um termo que cede um terreno federal para a construção de um novo autódromo no Rio. Na cerimônia, Bolsonaro afirmou que a capital fluminense receberia a edição de 2020 do GP.

Doria e o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, passaram um dia inteiro sem entender de onde o presidente havia tirado informações para declarar que o Grande Prêmio de Fórmula 1 estava se mudando para o Rio. Esse nem era um assunto de competência do governo federal e, mais, o próprio governo Bolsonaro está investindo este ano R$ 38 milhões em reformas de modernização no autódromo de Interlagos para que eventos como a Fórmula 1 continuem sendo realizados. Depois do susto, governador e prefeito logo suspeitaram que Bolsonaro falava sem conhecimento de causa.

A corrida automobilística acontece na capital paulista há 29 anos consecutivos, as tratativas para renovação de contrato com a Fórmula 1 estão em andamento e nada havia sido dito ao prefeito por parte dos organizadores do GP sobre uma eventual mudança de São Paulo. “O presidente foi levado ao erro”, resumiu nesta sexta-feira o prefeito de São Paulo, quando os ânimos estavam mais calmos.

Em seu áudio a Doria na quinta-feira, Bolsonaro disse que nada tinha contra a cidade de São Paulo e que só estava querendo ajudar o Rio. Ele pediu que sua explicação fosse transmitida a Covas. “Foi um áudio simpático”, disse o governador. “Não há nenhuma razão para afastamento ou qualquer interpretação de nossa parte que possa representar reprovação ao presidente”, encerrou o assunto.

O mal-estar gerado pela declaração do presidente foi grande e integrantes do governo Bolsonaro foram acionados para telefonar para Doria. Mais do que apoiar a mudança da sede para o Rio, Bolsonaro havia mencionado que a permanência da corrida na capital paulista estava inviabilizada por uma “dívida enorme” de São Paulo com a Fórmula 1.

“A prefeitura não paga nada à Formula 1 e nem deveria. Se alguém tem alguma dívida não é a cidade de São Paulo”, reagiu Covas. Não é a primeira vez que aparecem rumores de que a sede da Fórmula 1 se mudaria para o Rio. Isso acontece toda vez que se aproxima a data de renovação do contrato do GP com o autódromo de São Paulo. Por ser um evento financeiramente importante para o estado de São Paulo — a F1 gera receita de cerca de R$ 330 milhões aos cofres públicos — , a declaração de Bolsonaro e a assinatura do termo de cooperação entre o governo federal e o governo do Rio para a cessão de um terreno para construir um novo autódromo fizeram o alerta soar no gabinete das autoridades.

A corrida deste ano, marcada para 17 de novembro, está garantida, na capital paulista. Já o GP de 2020 é uma incógnita. Numa entrevista concedida nesta sexta-feira, Doria e Covas deflagraram a disputa pela sede da Fórmula 1 nos próximos anos.”Se quiser disputar a Fórmula 1, vai disputar com São Paulo e posso garantir a vocês que São Paulo tem mais chances de vencer do que o Rio”, afirmou Doria.

Ao mesmo tempo em que fez a provocação, Doria disse compreender o “desejo” do governador Wilson Witzel e do prefeito Marcelo Crivella de levar o evento para o Rio. “Eles estão no direito deles de lutarem para viabilizar eventos para o Rio de Janeiro. A cidade do Rio tem efeito impulsionador na economia de todo o estado e o turismo é o maior gerador de empregos para o Rio. Portanto, compreendemos o esforço e desejo das autoridades do Rio para ter a F1 lá. Mas entre o desejo e a realidade há uma distância grande e tem São Paulo”, brincou Doria.

Integrantes do governo e da prefeitura mostraram otimismo sobre a continuidade da corrida na cidade de São Paulo. Eles acreditam que Bolsonaro tenha sido usado no episódio por para abrir um debate sobre a troca da sede do GP no Brasil. Em junho, o dono da Fórmula 1, Chase Carey, tem reunião marcada com as autoridades paulistas para mais uma rodada de conversas sobre a renovação do contrato da corrida em Interlagos. A construção do autódromo na zona oeste do Rio está ainda em fase preliminar. Desde fevereiro a publicação do edital de construção e a administração da pista passa por entraves burocráticos e adiamentos.

Da Época