Protesto contra cortes na educação pública marca sessão de filme brasileiro em Cannes

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A estreia de “Sem seu sangue”, dirigido por Alice Furtado, na Quinzena dos Realizadores, mostra paralela do Festival de Cannes, na manhã desta quinta-feira (23), foi marcada por um protesto silencioso. A equipe do filme, primeiro longa-metragem da cineasta carioca, levou ao palco do cinema La Croisette cartazes criticando os cortes do governo brasileiro nas verbas destinadas à educação pública.

“Todo apoio à universidade pública”, “Em defesa do Cap/UFRJ, Pedro II e institutos federais”, diziam os cartões, em português e em inglês. O gesto lembra o da equipe do filme “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, que disputou a Palma de Ouro na edição de 2016. Na época, cineastas e atores levaram para o tapete vermelho do Grand Theatre Lumière cartazes contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Alice é formada em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (Niterói).

— Achei mais que oportuno fazer esse manifesto agora, porque estudei em uma universidade pública. Muitas pessoas da equipe do filme vieram de escolas e universidades públicas — explica a diretora. — Meus pais são professores universitários. Conheço de perto as dificuldades por que o ensino público tem passado. O anúncio dos cortes na educação veio logo depois da seleção do “Sem seu sangue” em Cannes. Desde então ficamos pensando no que poderíamos fazer para demonstrar nossa insatisfação. O protesto também foi uma forma de homenagem à educação pública.

“Sem seu sangue” é protagonizado por Silvia (Luiza Kosovski), adolescente sem qualquer interesse pela rotina em casa ou no colégio. Ela parece recuperar o entusiasmo pela vida ao conhecer Artur (Juan Paiva), estudante recém-chegado na turma, depois de ser expulso de várias outras escolas. Mas o rapaz é hemofílico, o que torna seu corpo incapaz de estancar hemorragias.

Alice exibiu “Duelo antes da noite”, seu primeiro curta-metragem, na mostra Cinéfondation, dedicada a filmes de graduação, do Festival de Cannes de 2011.

De O Globo