Tá arrependido e se sentindo enganado por quê? Afinal, Bolsonaro não te enganou

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Mais um eleitor de Bolsonaro arrependido. Desta vez, um professor (vídeo abaixo). Toda vez que vejo um eleitor dizendo ter sido ‘enganado’ eu fico me perguntando quando foi que Bolsonaro apresentou uma proposta concreta para qualquer área.

As pessoas foram enganadas em qual discurso, especificamente? Eu digo: nenhum. Tudo o que esse boçal fez na campanha eleitoral foi falar mal do PT, mentir desavergonhadamente (kit gay e mamadeira de piroca não me deixam mentir), destilar ódio e fugir de debates.

https://twitter.com/i/status/1126887873167482881

Para provar que Bolsonaro não enganou o povo, basta ler o seu programa de governo, que era, em síntese, o nada sobre o nada. Convido o nobre professor do vídeo, incendiário de camisas, a dar uma rápida olhadinha no Plano de Governo do boçal para a Educação. Para baixar o conteúdo, clique aqui.

Um leitor atento vai perceber que uma parte imensa do material foi usada para descer a lenha no país. Quem escreveu essa porcaria estava inspirado: criticou o Brasil em tudo e mais um pouco e, de vez em quando, apresentou algum esboço de proposta, a maioria sem fundamento algum. Selecionei uns slides bacanas sobre educação, mas o exercício pode ser feito com todos os temas apresentados no documento. Vejamos:

 

Página 41 do Plano de Não-governo do Bozo:

Esta porcaria acima nos mostra o seguinte: para a equipe de Bolsonaro, o Brasil não precisa ampliar os investimentos em educação, bastaria ‘gastar direito’. Qualquer estudioso do assunto sabe muito bem que isso é uma falácia.

Para melhor compreensão, vou deixar o link para que o leitor possa conhecer ou se aprofundar a respeito do CAQi (Custo Aluno-Qualidade Inicial) e do CAQ (Custo Aluno-Qualidade, elaborados pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Acesse aqui.

Continuando a leitura do slide, é espantoso que um programa de governo cite ações de outros países sem dizer que ações são essas, quanto custariam e por que seriam úteis ao Brasil. Já sabemos, porém, que “importar” soluções de outros países não é uma estratégia bem sucedida, em geral, pois é preciso considerar múltiplos fatores locais na criação e na implantação de qualquer política pública.

Outra bizarrice do slide é dizer que “conteúdo e metodologias” devem ser mudados. Quem escreveu esse absurdo não entende de educação. Primeiramente, é importante lembrar que quando Bolsonaro era candidato já estava em vigor a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que versa sobre os conteúdos a serem esninados, em geral, a toda a população em idade escolar.

Os trabalhos da BNCC tiveram início em 2015, no mandato de Dilma Rousseff, presidenta legitimamente eleita. A versão final do documento foi publicada em 2017, já no governo golpista de Michel Temer, com mudanças absurdas, que jamais passaram pelo crivo do processo democrático previsto desde a criação do documento.

Voltando ao “programa de governo”, fico me perguntando: ele pretendia fazer o que a fim de “mudar o conteúdo”? Queimar a BNCC na fogueira da inquisição da Santa Ignorância (religião seguida por ele e seus asseclas)?

E como ele pretendia “mudar a metodologia”, uma vez que esta é de livre escolha de cada instituição de ensino, conforme preconiza a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN)?

Dizer que existe “uma metodologia” nas escolas do país é ignorância ou má-fé sem limites. É mentira. Como pode um professor ou uma professora concordar com esse absurdo ou se manter silente?

Outra afirmação nefasta é a de que existe nas escolas brasileiras a “sexualização precoce” das crianças. Isso ofende a profissão do magistério. Essa gente é tão obscurantista que confunde educação sexual com “sexualização precoce”. Não é desconhecimento, é mau-caratismo, mesmo.

É fundamental dizer que a educação sexual nas escolas ajuda a identificar abusos sexuais sofridos pelas crianças, sendo que a maioria desses crimes é cometida dentro de casa, por parentes muito próximos como pais, tios ou irmãos. Educação sexual também combate gravidez na adolescência e trasmissão de doenças sexualmente transmissíveis.

 

Página 45 do Plano de Não-governo do Bozo:

Olhe aí! Quem disse que Bolsonaro mentiu? Aqui eu devo dar o braço a torcer. Tá escrito com todas as letras: “Precisamos inverter a pirâmide: o maior esforço tem que ocorrer cedo, com a educação infantil, fundamental e média.” Já estava claro que haveria corte no ensino superior. Ninguém foi enganado.

A mentira, porém, foi a de que os recursos iriam para a educação infantil e o ensino fundamental. Rá! Pegadinha! O facão foi geral. E pior: as verbas da educação estão sendo usadas para chantagear o congresso pela aprovação da reforma da previdência (outra bizarrice que ele disse que faria e que agora tá deixando os Bolsominions, sei lá por que, furiosos).

E vale ressaltar: uma reportagem da Agência Pública mostrou que o corte no orçamento das 68 universidades e 40 institutos federais evidencia conflitos de interesses envolvendo o ministro da economia Paulo Guedes e sua irmã Elizabeth Guedes, dona de faculdade privada…

 

Página 46 do Plano de Não-governo do Bozo:

Olhem! Eles citaram a BNCC! Incrível, mas ainda tô procurando no documento onde está a “ideologia satânica de Paulo Freire”. Sério, isso é absurdo. Nenhum professor com uma formação minimamente decente leria isso sem se ofender ou ficar espantado. O quadro vermelho é um disparate: “um dos maiores males atuais é a forte doutrinação“. Hein?

Algumas breves considerações sobre os dois blocos de texto à direita do slide:

  1. A universidade já fazem isso, estúpido. Ela já busca formas de elevar a produtividade, a riqueza e o bem-estar da população. Ela já desenvolve novos produtos, também por meio de parcerias e pesquisas com a iniciativa
    privada. Mas ela faz MUITO MAIS que isso. Ou seja, quem escreveu essa porcaria não deve ter pisado em uma universidade. Sobre a parte final, o empreendedorismo já é fomentado nas empresas juniores das universidades. Mas achar que fazer “o jovem querer sair da universidade pra abrir um negócio” seja o papel preponderante da universidade é de uma pobreza intelectual assustadora. A universidade é caminho para infinitas possibilidades na vida do universitário. Ser empresário é apenas uma delas.
  2. Educação à distância: Uma reportagem de dezembro da Agência Pública afirma que Paulo Guedes, ministro da economia de Bolsonaro, atuou com investimentos no setor educacional privado e a distância. E que, segundo o Ministério Público Federal (MPF), ele captou R$ 1 bilhão de fundos de pensão, entre eles, Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras), Funcef (Caixa) e Postalis (Correios). Os primeiros aportes foram feitos em janeiro de 2009, com prazo previsto de seis anos de duração.

 

Página 47 do Plano de Não-governo do Bozo:

O primeiro parágrafo do slide acima é uma pérola. Incrível! O autor do plano de (des)governo de Jair Bolsonaro descobriu que o país é uma república federativa e que os entes federados têm diferentes atribuições no sistema de ensino. Eureka!

O que chama atenção, porém, são o parágrafos seguintes. O primeiro diz que “Precisamos evoluir para uma estratégia de Integração, onde os três sistemas dialoguem entre si”. Definitivamente, o ignorante que escreveu essa porcaria não entende NADA de educação brasileira.

A cooperação técnica e financeira entre os entes federados já existe. Ou seja, todas as esferas já “dialogam”. As escolas municipais e estaduais, por exemplo, recebem recursos financeiros, equipamentos e mobiliários, além de orientação técnica, do governo federal.

Assim funciona, por exemplo, com o Programa Dinheiro Direto na Escola, o Programa de Salas de Recursos Multifuncionais (descontinuado por Temer), o Programa Nacional do Livro Didático, o Programa Nacional de Alimentação Escolar, o Programa Nacional de Transporte Escolar, entre tantos outros!

Os estados contribuem também técnica e financeiramente com os município e vice-versa. Conheço, por exemplo, um município bem pequeno cujo prédio escolar é da prefeitura. De manhã e de tarde, as crianças da educação infantil e do ensino fundamental usam o prédio. À noite, é a vez dos alunos do estado frequentarem a escola no Ensino Médio e na Educação de Jovens e Adultos.

Agora vem a cereja do bolo do slide tosco: “As universidades públicas e privadas contribuirão, nesse novo modelo, na qualificação de alunos e professores nas áreas aonde existam carências.”

  1. Que modelo? O slide não traz modelo de nada, só umas frases soltas…
  2. Que universidade públicas? O facão foi passado, lembra?

Pois bem, este texto é uma pequena amostra do quanto a tragédia era anunciada. Aqui no Blog da Cidadania publicamos diversas vezes o risco que seria eleger um mentecapto para a presidência da república. Mas parecia que o povo estava em transe. Nenhum argumento servia. Ninguém dava ouvidos. Ningué queria ler. Veja algumas das postagens que fizemos:

Bolsonaro quer beneficiar fazendeiros envolvidos com tráfico de drogas

Plano de governo de Bolsonaro pode quebrar indústria nacional

Bolsonaro usa dados falsos para criticar plano de governo de Haddad

Repito: Bolsonaro não enganou ninguém! O que vivemos hoje (um país à deriva e em crescente destruição) é coerente com a superficialidade e a estupidez do documento apresentado ao povo antes das eleições.

Por fim, gostaria de deixar aqui o plano de governo do Fernando Haddad. E também sugerir aos leitores que, em qualquer eleição, busque ler e se informar sobre esse importante documento. Se não, depois não adianta dizer que foi engando.