Editor do Blog da Cidadania responde ataque da Folha de SP a “Democracia em Vertigem”

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Prezado Roberto Dias – secretário de Redação da Folha de SP

Sou um velho conhecido da Folha – o blogueiro que fez várias manifestações na porta do jornal, uma delas a da Ditabranda, em março de 2009. (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0803200906.htm)

Sou, também, o blogueiro que Sergio Moro mandou levar em condução coercitiva em março de 2017, por conta da 24ª fase da Lava Jato. Ele me acusou de “vazamento”

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2017/04/1872148-julgado-pelo-inimigo.shtml

Sou editor do site https://blogdacidadania.com.br e do canal do YouTube https://www.youtube.com/channel/UCJU__wIT-5N-2fcSvZytRRg

Venho a você para comentar sua coluna deste 27 de junho, sobre o documentário Democracia em Vertigem. Perdoe-me a sinceridade indispensável: a mídia abriu uma guerra contra Lula, Dilma e o PT. Usou fake news como no caso da ficha policial falsa contra Dilma Rousseff

https://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u556855.shtml

O jornal publicou uma ficha policial falsa do DOPS contra ela. Recebeu por e-mail, pôs na primeira página e, depois, esquivou-se de reconhecer o erro, como mostra o link acima.

Sobre o documentário

Você criticou Petra Costa por:

1 – “Os novos donos do poder, diz, “entram ávidos pelos salões depois de anos tendo que pedir permissão”. Probleminha: quem aparece nas imagens é Henrique Meirelles, presidente do BC de Lula por oito anos”

Comentário: é estranho que não tenha feito referência a Temer, pois se Meirelles foi presidente do BC de Lula, Temer foi vice-presidente de Dilma. Ora, ambos traíram Dilma, Lula e o PT porque sentiram-se subvalorizados na era PT. Apontar Meirelles não é nem mero indício de nada.

2 – Nos protestos de 2013, ela “faz sua parte, transmitindo cada detalhe e naturalizando seu caráter agressivo”. Cabe perguntar: aos olhos da diretora, o correto seria escondê-los?

Comentário: é bem estranha a pergunta. É óbvio que Petra não propôs esconder os protestos de 2013. Ela reclamou da naturalização do caráter agressivo dos manifestantes –PREPONDERANTEMENTE CONTRA O PT. Petra reclama que os atos tinham o PT como alvo principal, como viu toda pessoa de boa fé que esteve em algum daqueles atos, e isso granjeou apoio midiático àquela loucura.

3 – No impeachment, Lula diz que não haverá consenso sobre as pedaladas e propõe: “Por que não cria uma comissão internacional de especialistas em orçamento público e dá um parecer?”. A solução desconhece guarida constitucional, mas isso não provoca vertigem na diretora.

Comentário: o que desconhece guarida constitucional é apear do alto de 54 milhões de votos uma presidente que se utilizou de manobra contábil que todos os seus antecessores no pós redemocratização também usaram sem levar em conta que inúmeros pareceres TÉCNICOS absolveram Dilma de responsabilidade pelas “pedaladas”.

4 – O troféu maior das bobagens cabe a Jean Wyllys. Diz que Dilma começou a cair por ter afirmado que “os ricos teriam que pagar pela crise”. Continua: “As elites começaram a minar a popularidade de Dilma, e os números da economia começaram a mudar”. Fica a lacuna lógica: como os números começaram a mudar se a crise era justamente o ponto de partida do argumento?

Comentário: a má construção da declaração de Jean Wyllys não altera o fato de que após as manifestações da população dos Jardins começaram as pautas-bomba e os boicotes a qualquer proposta do Executivo ao Legislativo com vistas a combater a crise econômica. Isso sem falar da paralização do setor da construção pesada no Brasil, que ceifou três pontos percentuais do PIB

5 – As contradições se amontoam. O filme destaca que a opinião pública queria que a Câmara aprovasse a denúncia contra Temer, mas esquece o apoio popular ao impeachment. Levanta-se a tese de que Dilma caiu para Temer parar a Lava Jato —mas o próprio Temer poderia dar rico testemunho de que isso não ocorreu. Pessoas na rua gritam “de-mo-cracia”, só que a diretora parece ouvir outra coisa: “Desse momento em diante, nada mais seria igual”.

Comentário: aí você inverte as bolas. Petra apontou o fato de que se Dilma foi derrubada porque seu impeachment tinha apoio popular, o apoio popular ao impeachment de Temer também deveria derrubá-lo. E, como mostra o áudio vazado de Romero Jucá sobre o “grande acordo nacional com Supremo, com tudo” para “delimitar” o avanço da Lava Jato no PT, Temer foi eleito exatamente para interromper a Lava Jato. Só não teve força para tanto.

O público da Folha tem direito a esse contraponto. Tirar isso dele compromete a nova fase do jornal, de resistência democrática ao avanço do arbítrio que Folhas, Globos, Vejas e Estadões semearam na era PT e que estão colhendo na era Bolsonaro.

Enfim, que “conceito de democracia” é esse que você defende que finge não ver a manobra falsária para derrubar Dilma e o conluio judiciário (que a Folha também enxerga) para encarcerar Lula sem provas?

Cordialmente,

Eduardo Guimarães